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Guia de Leitura

Antropologia das religiões

5 outubro, 2016 | Por Isabela Gaglianone

“Todos os sistemas, seja culturais, científicos, políticos, econômicos e até artísticos, que se apresentam como portadores exclusivos da verdade e de solução única para os problemas devem ser considerados fundamentalistas. Vivemos atualmente sob o império feroz de vários fundamentalismos” – BOFF, Fundamentalismo – A globalização e o futuro da Humanidade.

Pensando amplamente nesta consideração de Leonardo Boff, levantamos alguns estudos antropológicos sobre religiões – ou que sirvam como apoio teórico para reflexões antropológicas.

O interesse pelos mitos, ritos de iniciação, pela religião e pela magia foi uma constante na antropologia francesa do século XX, e se mantém consideravelmente estável até hoje. Uma antropologia da religião, partindo de uma reflexão sobre a humanidade e sobre a cultura como realidades complexas, busca compreender como o ser humano foi e continua sendo visto, por ele próprio, através de uma das suas mais significativas manifestações, a religião. Não se trata de fazer uma análise de cada uma das religiões, mesmo aquelas mais conhecidas: a Antropologia da Religião desenvolve análises científicas do fenômeno religioso, enquanto experiência antropológica, essencialmente humana.

Para a antropologia, a religião não é um modo arcaico do pensamento científico; é, ao contrário, um espaço distintivo da prática e da crença humanas que não pode ser reduzido a nenhum outro. Disso parece seguir que a essência da religião não deve ser confundida com, digamos, a essência da política, ainda que em muitas sociedades as duas possam se sobrepor e se entrelaçar.

 

Mircea Eliade, “Imagens e símbolos”

Nosso guia de antropologia inicia-se com o livro de um historiador, ligado comumente à chamada fenomenologia da religião. O romeno Mircea Eleade, nas análises desenvolvidas ao longo de sua obra, desvenda os pontos de apoio que permitem ao indivíduo e aos grupos humanos equilibrarem-se e assegurarem seus pensamentos em meio aos movimentos da sua experiência. Em Imagens e Símbolos, o autor reivindica a função fundamental do imaginário e do simbólico para a vida e a cultura.

“O pensamento simbólico não é uma área exclusiva da criança, do poeta, do desequilibrado; ele é consubstancial ao ser humano, precede a linguagem e a razão discursiva. O símbolo revela certos aspectos da realidade –os mais profundos – que desafiam qualquer outro meio de conhecimento. As imagens, os símbolos, os mitos, não são criações irresponsáveis da psique; elas respondem a uma necessidade e preenchem uma função: revelar as mais secretas modalidades do ser. Por isso, o seu estudo nos permite conhecer o homem, o homem simplesmente”.

O símbolo cumpre sua função ao transmitir uma mensagem, mesmo que seu significado escape à consciência, ou seja modificado, camuflado, pois o símbolo, diz Eliade, dirige-se ao ser humano integral e não apenas à sua inteligência. A principal característica do símbolo é a simultaneidade de sentidos por ele revelados, que podem inclusive ser compreendidos em qualquer cultura. Os símbolos e as imagens têm valências universais porque são “aberturas para um mundo trans-histórico, conservando as culturas ‘abertas’. Ao mesmo tempo, apesar de serem produtos do inconsciente, são depurados no processo histórico e cultural em que estejam inseridos”. A história, diz, pode fazer com que sejam acumuladas novas significações à estrutura original do simbolismo, mas não a destrói. Ao tornarem-se símbolos, os objetos “anulam seus limites concretos, deixam de ser fragmentos isolados para se integrar num sistema, ou melhor, eles encarnam em si próprios, a despeito de sua precariedade e do seu caráter fragmentário, todo o sistema em questão”. Diante dessas considerações, é legítimo falar de uma “lógica dos símbolos, pois qualquer que seja a sua natureza e o plano em que se manifestem, são sempre coerentes e sistemáticos”. Continue lendo

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matraca

Sobre o Estado

1 junho, 2015 | Por Isabela Gaglianone
grassmann

gravura de Marcelo Grassmann

Sobre o Estado, do sociólogo Pierre Bourdieu (1930-2002) reúne os cursos por ele ministrados no Collège de France entre 1989 e 1992. Sua análise detém-se na transição do Estado absolutista, próprio da Idade Média, para o Estado moderno, cuja constituição vai se moldando ao longo dos séculos a partir da separação entre poder político e religioso e da diferenciação entre os poderes.

Esta compilação dos textos permite analisar e estudar este “objeto impensável”, do qual, em última instância, todos os poderes tiram a sua legitimidade.  Continue lendo

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Catálogo de Periódicos Online

10 agosto, 2009 | Por admin

Conheci através de um tweet de Pierre Bordieu um blog frances chamado La Criée : périodiques en ligne. A proposta é tentadora para os fanáticos por periódicos: publicar as fichas que o autor do blog reuniu para alimentar o Aurelie, o catálogo de periódicos eletrônicos da Universidade de Toulouse 2.

A lista de links de periódicos cadastrados não deixa a desejar: são 11 categorias que reúnem, até agora, 4102 publicações. Elas estão divididas do seguinte modo:

O tweet de Pierre Bourdieu que me levou ao blog divulgava um periódico voltado ao estudo do filósofo iluministra escocês David Hume publicado pela Hume Society, o Hume Studies Online.

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