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A religião do desespero

22 outubro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

detalhe da capa do livro "O capitalismo como Religião", de Walter BenjaminO capitalismo como religião, novo lançamento deste segundo semestre da editora Boitempo, é uma reunião de dezessete ensaios de Walter Benjamin, organizada e introduzida pelo sociólogo Michael Löwy. Os textos que compõem a antologia datam de 1912 – ano em que Benjamin participou do movimento da “Jugendbewegung”, do qual se afastou no início da Primeira Guerra Mundial –, até os anos mais decididamente militantes, no exílio, de 1933 a 1940. Segundo Löwy, o objetivo é mostrar como Benjamin soube unir, à sua crítica ao capitalismo, elementos provindos tanto do romantismo alemão quanto do messianismo judaico e do marxismo libertário: “A maior parte desses escritos, que versam sobre temas que vão das armas químicas das guerras futuras à condição dos operários na Alemanha nazista, expressa um olhar lúcido, ora irônico ora trágico sobre o mundo ‘civilizado’ do século XX”, diz o prefácio. O ensaio que dá título ao livro, “O capitalismo como religião”, escrito em 1921, é considerado um dos fragmentos mais intrigantes de Benjamin. Nele, Benjamin assimila reflexões de Friedrich Nietzsche, Max Weber, Georg Simmel e do teórico anarquista Gustav Landauer, tecendo uma “crítica romântica da Zivilisation capitalista” que “alimenta algumas de suas principais iluminações profanas”, nas palavras de Löwy. A análise de Benjamin aponta o capitalismo como uma religião cultual que encaminha a humanidade à “casa do desespero”.

Segundo o organizador, a singularidade crítica de Benjamin consiste em ser o primeiro seguidor do materialismo histórico a romper radicalmente com a ideologia do progresso linear: “Por sua crítica radical da civilização burguesa moderna, por sua desconstrução da ideologia do progresso – a Grande Narrativa dos tempos modernos, comum tanto aos liberais quanto aos socialistas –, os escritos de Benjamin parecem um bloco errático à margem das principais correntes da cultura moderna”.

Benjamin reconhece a estrutura religiosa do capitalismo estabelecida em três pontos. Primeiro, a define como uma religião puramente cultual, estabelecendo uma relação imediata com o significado do culto, sem nenhum dogma especial ou teologia, e o utilitarismo ganha, sob esse ponto de vista, sua coloração religiosa. Em segundo lugar, aponta a duração permanente do culto, ou seja, o capitalismo é a celebração de um culto sans rêve et sans merci [sem sonho e sem piedade]. Em terceiro lugar, analisa este culto como culpabilizador, provavelmente o primeiro caso de um culto não expiatório, mas sim culpabilizador.

Segundo o filósofo Giorgio Agamben, “O capitalismo como religião” é um dos mais penetrantes fragmentos póstumos de Benjamin. Precisamente porque tende com todas as suas forças não à redenção, mas à culpa, não à esperança, mas ao desespero, o capitalismo como religião não tem em vista a transformação do mundo, mas a sua destruição, é a religião do desespero.

 

 

 

 

O CAPITALISMO COMO RELIGIÃO
Autor: Walter Benjamin
Editora: Boitempo
(192 págs.)

 

 

 

 

 

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