Depois de André de Leones e Menalton Braff, quem agora “fala” sobre a arte da escrita é o contista Antonio Carlos Viana, um dos mestres do gênero no Brasil.
Menos conhecido e festejado do que deveria ser, Viana é autor de “Aberto está o inferno“, “O meio do mundo e outros contos” e “Cine Privê“. O escritor, que é doutor em Literatura Comparada pela Universidade de Nice, da França, é sergipano e atualmente mora em Aracaju, capital do estado.
Inspiração e genialidade são duas palavras que não fazem parte de meu vocabulário quando penso no ato de escrever. Sou mais dos que transpiram 100% para produzir um texto. Não fico esperando que as Musas venham e me ditem as palavras. Pode ser que um ou outro escritor tenha esse privilégio. Eu não tenho.
Escrever é algo muito suado e a palavra que me vem à cabeça para descrever o momento da escrita é disponibilidade. Creio que o artista precisa estar disponível para sua arte e disposto a enfrentar suas limitações, porque cada texto que escrevemos é uma superação de nossos limites. Acredito no trabalho diário, insistente, mesmo que, ao final, de aproveitável sobre apenas uma frase.
Não tenho rituais para começar a escrever. Adquiri o hábito de me sentar sempre por volta das nove da manhã para tentar escrever o que quer que seja. Deixo que as ideias venham por si sós, nunca as forço. A gente precisa ter um horário para a escrita, assim como temos para a academia, para a caminhada, para o lazer.
Podemos ter todas as ideias do mundo, mas elas escapam e dificilmente voltarão se não estivermos com disposição para enfrentar a tela em branco e se não tivermos também uma grande disciplina. Parece que as histórias têm um tempo para nos desafiar, porque depois perdem a força, desaparecem.
Muitas vezes me sento diante do computador e não vem nada à cabeça. Antes me angustiava muito com isso, hoje não mais. Aí digito uma palavra qualquer e deixo que ela me conduza. Outras vezes sou assaltado por uma frase, e sinto, por sua pulsação, que ela pode ou não render uma boa história. Mas para isso, preciso estar aberto para ela. Se não estiver, melhor fazer outra coisa, caminhar mais na praia, por exemplo.
Ótimo artigo!