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Descrição do mundo

1 outubro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Autora do recém-lançado Opisanie świata, Verônica Stigger tem gostos especiais: estudiosa de arte contemporânea, defendeu uma tese a respeito da relação entre arte, mito e modernidade, pensando sobretudo as obras de Marcel Duchamp, Kurt Schwitters, Piet Mondrian e do russo K. Malevitch; em seu pós-doutorado, debruçou-se sobre os trabalhos dos artistas brasileiros Flávio de Carvalho e Maria Martins, entre outros. Talvez a proximidade com a arte contemporânea, seu estranhamento e suas inversões metalinguísticas, tenham analogia com a desenvoltura dos textos de Verônica enquanto capazes de suscitar um esvaziamento das questões estéticas, provocado pelos entroncamentos de absurdismos cotidianizados, cujos sentidos são políticos e morais dentro da esfera artística em que estão inseridos enquanto obras.

Há algo de uma indigesta sinceridade em sua prosa que ultrapassa o absurdo dos seus enredos – e justamente por ultrapassá-lo, confere-lhe um (absurdo) caráter de necessário. Algo do cotidiano vaguear do lúdico no real, estranhamento mágico da fuga ideológica e um pouco apática à naturalização tragicômica da violência.

Verônica tem sido apontada como uma escritora talentosa, criadora de enredos interessantes, críticos mas despretensiosos; publicou três livros de contos, todos muito bem recebidos pela crítica e pela mídia literária – seus livros têm textos de orelha ou quarta capa escritos por nomes de peso como João Adolfo Hansen e Flora Süssekind. Opisanie świata é o terceiro livro literário da autora publicado pela Cosac Naify e seu primeiro romance. A estranheza sonora do título vem da pouca familiaridade do leitor brasileiro com o idioma polaco: Opisanie świata significa “descrição do mundo”, tradução do título Il Milione dado por Marco Polo à narrativa de suas viagens. O livro de Verônica Stigger é protagonizado por um polonês que se lança também a uma viagem, da Polônia à Amazônia; o interessante, decorrente do título ser escrito em polonês, é que isso estreita a cumplicidade do leitor, desloca-o a um acompanhamento da condição de estrangeiro do protagonista.

Em uma entrevista, concedida a Carolina Moura, do jornal Notícias do dia, de Florianópolis, Verônica identifica em seus livros um fio condutor, na substituição do retrato do “estranho” – que move seu primeiro livro, O trágico e outras comédias –, por uma atenção cada vez maior ao gesto. A autora, que já foi considerada uma possível “herdeira natural bastarda” de Machado de Assis, consegue sintetizar tipos, de pessoas, estéticas e complexos sociais, que condensam uma visão política à própria idéia de literatura em seus textos. Sua visão artística não é desvinculada do mundo que lhe é contemporâneo.

 

OPISANIE ŚWIATA
Autor: Verônica Stigger
Editora: Cosac&Naify
(160 págs.)

 

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