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Arqueologias poético-filosóficas

7 novembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

 

Ninguém melhor que um filósofo para explorar os jogos de sentido entremeados às palavras. Extravasando essa premissa singela, com a sua característica amplitude reflexiva, abstrata e crítica, a erudição interpretativa de Benedito Nunes traz uma nova luz aos assuntos que aborda em O dorso do tigre. O livro de ensaios reúne reflexões e comentários de filosofia e de crítica literária.

Na primeira parte, dedicada à filosofia, analisa questões que surgem de suas precisas leituras de Foucault e Heidegger – de quem Benedito é um dos maiores intérpretes em língua portuguesa – e no capítulo intitulado “A arqueologia da arqueologia”, aponta ligações entre o pensamento de ambos. Segundo ele, partindo da reflexão acerca da filosofia heideggeriana, “a lógica está rodeada por um logos primevo, que a linguagem condensa e que os poetas reativam. O papel fundamental da linguagem, seja na filosofia, seja na poesia (e, por extensão, em toda a literatura) é que permite o diálogo essencial entre estas duas disciplinas”. Unindo o cabo ao rabo, como diria outro filósofo brasileiro, Rubens Rodrigues Torres Filho. Na segunda parte, concentram-se as análises literárias propriamente ditas, acerca das obras de Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Fernando Pessoa e João Cabral de Melo Neto, sob aspectos poético-filosóficos. O livro foi lançado originalmente em 1969 e era considerado, pelo autor, sua primeira obra autoral propriamente dita.

“O jogo estético que suspende ou neutraliza, por meio da imaginação, a experiência imediata das coisas, dá acesso a novas possibilidades, a possíveis modos de ser que, jamais coincidindo com um aspecto determinado da realidade ou da existência humana, revelam-nos o mundo em sua complexidade e profundeza”.

A preocupação com a linguagem regula o jogo estético – atravessa todo o livro como tônica. É através dela que Benedito pensa as narrativas subjacentes aos discursos. A linguagem, acrescida de outros sentidos, através das reflexões propostas ao longo do livro, passa a ser um fim em si mesma. É assim que a figura de Sísifo ganha importância crítica no livro: o resgate infinito das palavras, pelas palavras. Benedito encontra nesta figura mítica uma reverberação de muitas simbologias.

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Trecho:

A moral de Sísifo, oposta à moral da renúncia, revela a paixão da existência, o desespero e a esperança, a consciência individual, transformados em fonte de valor e da razão. É o inverso da sabedoria estóica. É também a anulação do aprendizado filosófico, que ensinava a superar o individual pelo universal, e a neutralizar, por força da disciplina superior do conhecimento racional, que tem por objeto a verdade imutável, os sentimentos e as paixões.

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O DORSO DO TIGRE

Autor: Benedito Nunes
Editora: Editora 34
Preço: R$ 30,80 (288 págs.) 

 

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