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Anatomia da melancolia

28 janeiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

A anatomia da melancolia, de Robert Burton, obra de grande repercussão escrita no século XVII, define a melancolia como “um tipo de loucura sem febre, tendo como companheiros o temor e a tristeza, sem nenhuma razão aparente”. A editora da Universidade Federal do Paraná publicou, pela primeira vez no Brasil, uma cuidadosa tradução da obra integral, feita por Guilherme Gontijo Flores, professor de latim na mesma universidade. Os quatro volumes reúnem quase duas mil páginas, entre as quais, centenas dedicadas às notas da edição brasileira, nas quais se encontram citações e referências a uma verdadeira multidão de autores, desde poetas clássicos tais como Virgílio e Horácio, prosadores como Juvenal, Tucídides e Apuleio, a Bíblia e Santo Agostinho, até inúmeros tratadistas, versejadores, viajantes, comentadores, médicos e santos.

Ao longo do livro, a melancolia é apresentada como uma doença de múltiplas definições, inumeráveis efeitos e causas divididas em várias camadas. Burton, que não era médico, mas erudito, procurou organizar o conhecimento sobre a doença com a divisão da obra em quatro partes. As causas da melancolia e as curas para a doença ganham um volume cada, com muitas subdivisões, entre membros, partes e seções, que justificam o título de “anatomia”.

Marcelo Coelho, em artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, analisa que o termo melancolia, “no século 17, correspondia a muito mais coisas do que à simples tristeza ou depressão. Todo tipo de delírio, imaginação extrema, furor lascivo -desde que sem febre- era entendido como “melancolia”. Segundo Coelho, “Dom Quixote, como se sabe, leu tantos livros de cavalaria que terminou enlouquecendo. Mas o texto de Miguel de Cervantes é, na verdade, um pouco mais específico: o excesso de leitura “secou o cérebro” do fidalgo. Ainda que a frase soe engraçada, não se trata de uma figura de linguagem. Para a medicina da época, um cérebro “seco” tornava-se exposto aos vapores quentes produzidos pelo fígado e pelo baço. Ou melhor: como o fígado produz líquidos quentes (os famosos “humores”), é preciso que uma vida ativa e com exercícios moderados se encarregue de expulsá-los. Caso continuem a circular, o efeito será a “melancolia”. No mesmo artigo, Coelho adverte: “Se o leitor não se diverte com enfiadas de nomes, com sequências vertiginosas de palavras praticamente equivalentes, com labirintos de exemplos e contraexemplos que terminam sem concluir coisa nenhuma, é melhor que deixe de lado a Anatomia da Melancolia”. Porém, aos que têm tempo e “humor” para acompanhar a erudição coloquial de Burton, “a exuberância das palavras, das associações, dos “causos” e das referências que preenchem todas essas páginas produz um efeito contagiante, embriagador. Nada menos melancólico, no sentido moderno do termo, do que a A Anatomia da Melancolia. Percebe-se um autor que sorri o tempo todo, que não se cansa nunca, que se delicia no seu tesouro de erudição”.

 

 

ANATOMIA DA MELANCOLIA

Autor: Robert Burton
Editora: Editora UFPR

Quatro volumes:

VOLUME I, DEMÓCRITO JÚNIOR AO LEITOR 

Preço: R$ 50,00 (266 págs.)

 

VOLUME II, “A PRIMEIRA PARTIÇÃO – CAUSAS DA MELANCOLIA”

Preço: R$ 75,00 (538 págs.)

 

VOLUME III, “A CURA DA MELANCOLIA”

Preço: R$ 65,00 (450 págs.)

 

VOLUME IV, “A TERCEIRA PARTICIPAÇÃO”

Preço: R$ 120,00 (872 págs.)

 

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