Finalmente é publicado no Brasil um volume que traz o trabalho da alemã Franziska Becker, 64, que, considerada uma das mais brilhantes cartunistas da Alemanha, inspirou toda uma geração de quadrinistas, cartunistas e ilustradores. Último aviso reúne uma seleção de cartuns e quadrinhos curtos publicados em diferentes jornais e revistas: trata-se de um livro bastante representativo da obra de Franziska e de sua brilhante e profunda oscilação entre o absurdo e a crítica. Desde a década de 1970, suas charges vem formulando uma crônica mordaz sobre a vida e o mundo contemporâneos. Sua visão apresenta um retrato sarcástico da existência, de maneira a um só tempo crua e lúdica, uma crítica instigante dotada de um humor cortante. Com seu traço cômico e desenhos ironicamente engraçados, através de um olhar feminista Franziska problematiza a ditadura da beleza, as relações conjugais, o novo papel da mulher no mercado de trabalho, questões como consumo, moda, dinheiro, política e religião. Irreverente, burlesca e sagaz.
O livro inaugura o selo “Barricada” da editora Boitempo, que será dedicado à publicação de quadrinhos.
Nas palavras de Laerte Coutinho, no texto de quarta capa à edição de Último aviso: “Como se explica que uma cartunista tão brilhante tenha sido deixada de lado por tanto tempo no Brasil? Será porque é uma feminista, militante e claramente engajada no comentário e na crítica social?…Ou por ser alemã, europeia? Pra minha formação de cartunista brasileiro, o desenho europeu foi decisivo. André François, Saul Steinberg, Ronald Searle, Ralph Steadman – onde se alimentaram, também, meus mestres brasileiros d’O Pasquim. Mas não quero ficar explicando Franziska pelo seu contexto. Vejam vocês mesmos a força do seu traço e de suas ideias nesta bela amostra que a Boitempo publica agora”.
Segundo a escritora Alice Schwarzer, criadora da revista feminista Emma, para a qual a cartunista colaborou durante anos, “Franziska Becker é uma observadora tão sensível quanto sarcástica das pessoas e do mundo”.
Franziska recebeu, em 1988, o Prêmio Max e Moritz de Melhor Artista de Quadrinhos Alemã. Ela já expôs suas obras no Instituto Goethe em Bangalore, na Casa Alemã em Nova York, no museu Kunstverein em Mannheim, no Palais Palffy em Viena, dentre outros lugares. Segundo ela, suas maiores influências são Francisco de Goya, Wilhelm Busch, Carl Barks e Walter Trier. Ela situa seu próoprio trabalho na tradição de satíricos ingleses do século XVIII, como Rowlandson, Gilray e Hogarth.
Como pontua Paulo Ramos, crítico especialista em quadrinhos, em artigo escrito ao jornal Folha de São Paulo, a cartunista, “com um estilo assumidamente influenciado por pintores e ilustradores do século 19, […] diz manter a “mente aberta” para qualquer tipo de situação que possa ser representada visualmente. O olhar feminino dado ao tema não deveria ter muita diferença se comparado ao ponto de vista masculino. Mas, segundo ela, tem. “Uma mulher conhece um pouco mais o interior das experiências dela própria e do dia a dia feminino”, diz a autora. “Talvez as mulheres, por serem mais marginalizadas, sejam capazes de observar os absurdos sociais e políticos de uma forma mais afiada”.
Autor: Franziska Becker
Editora: Boitempo
Preço: R$ 34,30 (130 págs.)
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