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Poemas circunstanciais

20 janeiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone
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Magritte, “Ceci n’est pas une pomme” (1964)

Pouco se menciona sobre a produção poética de James Joyce. Uma reunião de seus poemas encontra-se no volume cuja tradução no Brasil é Pomas, um tostão cada [sendo, seu título original, Pomes, penyeach], título que mantem a aliteração ressonante do trocadilho entre “poems” – poemas – e “pomes” – pomos, normalmente utilizado em inglês para designar peras e maçãs. Traduzidos para o português por Alípio Correia de França Neto – que também é responsável pelas notas e pela introdução à edição brasileira –, os poemas foram reunidos e publicados pela primeira vez em 1927.

A coletânea abarca uma produção poética, que foi, na realidade, resultado de uma criação ocasional, feita entre os anos de 1913 e 1916, época em que Joyce havia concluído a escrita de Dublinenses, em que finalizou a escrita de Um retrato do artista quando jovem e em que começou a conceber Ulysses.

Os poemas tem um pronunciado caráter autobiográfico, cantam paixões perdidas, o esvanecimento da fé, sua gradual perda da visão, as experiências enquanto pai e avô, a dor pela morte de seu pai. Para Joyce, os poemas podiam ser “um grito, uma cadência, um estado de espírito”, através dos quais podia desabafar; seus poemas são a materialização de momentos alheios aos contextos irônicos proporcionados por sua prosa.

A introdução de Alípio França Neto é sóbria e elucidativa, apontando a origem, emocional e enquanto gênese histórico-literária de cada poema. Segundo o tradutor, o título, que alude a uma venda pequena de rua, tem um forte toque de irônica modéstia, indica um intuito de conferir ao livro um caráter comercialmente barato, ainda que sem depreciá-lo.

Suas emoções, nesses poemas, aparecem sem a elaboração de requinte de significados e ritmos pelos quais o escritor ficou conhecido. São versos, como analisou o jornalista José Maria Cançado, em resenha publicada no jornal Folha de São Paulo, “precisos e embargados ao mesmo tempo”, que “quase recusam a despersonalização estratégica que Joyce tinha como ideal artístico”. Segundo Cançado, ao escrevê-los, Joyce “não estava interessado na confissão, mas na experiência. Aí a força da sua arte”.

A tradução deste volume rendeu a Alípio França Neto o Prêmio Jabuti.

 

POMAS, UM TOSTÃO CADA

Autor: James Joyce
Editora: Iluminuras
Preço: R$ 0,00 (144 págs.)

 

 

 

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