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Breves resenhas diárias.

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A filosofia do como se

16 setembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Utilizando argumentos como a literatura fantástica, a matemática, a antropologia literária de Iser, elementos da crítica kantiana, do idealismo alemão e da filosofia da ciência de Quine, A filosofia do como se é um interessante tratado sobre a teoria da ficção. Escrito nos primeiros anos do século XX, propõe a teorização da ficção como importante artifício intelectual para a realização de tarefas primordiais do conhecimento, inclusive do conhecimento científico e matemático.

Da desconfortável caverna aos argumentos de sonho e aos contratos sociais, por exemplo, a ficção serve como intermédio filosófico à realidade e alargamento das possibilidades hipotéticas. A filosofia do como se sugere, contudo, uma aproximação mais profunda, segunda a qual as próprias ideais seriam ficções – um positivismo idealista, como o subtítulo define. A ficção, portanto, como condição cognitiva intencional e necessária, a partir do que o tratado pode propor uma fenomenologia da consciência idealizante; o mito, o sonho, o lúdico, o imaginário, na obra de Hans Vaihinger, tem implicações filosóficas importantes, sustentam noções de metafísica, psicologia, epistemologia e, pelo viés da filosofia da linguagem, ideias para uma teoria literária.

Pouco após a época de sua primeira publicação, 1911, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial e a consequente necessidade desesperada de se encontrar uma explicação possível ao que estava acontecendo com o mundo, com as pessoas, com a realidade e com os sonhos, A filosofia do como se foi uma leitura de trincheiras, extremamente difundida. A ficção a compartilhar com a razão uma solução a uma realidade problemática.

 

A FILOSOFIA DO COMO SE
Autor: Hans Vaihinger
Editora: Argos
(723 págs.)

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Cartas de Murilo Mendes a Roberto Assumpção

14 setembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Cartas de Murilo Mendes a Roberto Assumpção apresenta ao público as cartas de apenas um dos dois interlocutores, somente o lado do poeta, do diálogo travado em correspondências com o amigo e diplomata Roberto Assumpção, responsável pela organização da edição francesa de Janelas do caos, publicada em 1949 em Paris e ilustrada com litografias do gravurista Francis Picabia.

As cartas foram organizadas por Júlio Castañon Guimarães, no volume publicado pela Editora da Casa de Rui Barbosa em 2007.  Nelas, o poeta versa sobre questões relativas a publicação de alguns de seus livros, mas sobretudo sobre a edição francesa idealizada por Assumpção. “Sou terrivelmente do mundo”, declarara numa frase verso; sua poesia também o é, equilibrando-se entre o lúdico e o real, dotada de vocação cosmopolita e de erudição; suas cartas também o são, mostras de seu agradecimento afetuoso ao amigo pela publicação na França, sua colocação num contexto poético mais amplo. Sinal da poesia a alastrar-se pela maneira de ser do poeta, mesmo pela prosa natural como a dispendida numa carta: “a palavra nasce-me”.

A admiração intelectual nutrida por Murilo em relação ao amigo, aliada ao seu discreto apontamento do “mistério das coisas visíveis”, faz da reunião dessas cartas um documento simpático ao ininterrupto refluxo do refúgio do cidadão do mundo.

 

CARTAS DE MURILO MENDES A ROBERTO ASSUMPÇÃO
Organização: Júlio Castañon Guimarães
Editora: Casa de Rui Barbosa
(116 págs.)

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