Para o filósofo Giorgio Agamben uma verdadeira revolução não procura apenas mudar o mundo, mas, primordialmente, mudar a experiência do tempo. A própria revolução é por ele compreendida como uma interrupção da cronologia por um tempo diferente, ao qual Walter Benjamin chamava kairós, ou tempo messiânico, assim como compreendido por Paulo, o apóstolo – de quem Benjamin teria sido leitor atento, conforme Agamben defende em Il tempo che resta (2000). Uma revolução seria, necessariamente, uma revolução messiânica: “Messiânico não é o fim dos tempos, mas a relação de cada instante, de cada kairós, com o fim dos tempos e com a eternidade”.
O livro O que é o contemporâneo? é composto por três ensaios do filósofo italiano, todos acerca da investigação do problema do tempo,]: “O que é o contemporâneo?”, “O que é um dispositivo?” e “O amigo”. O livro foi publicado no Brasil pela editora Argos, da Universidade de Chapecó, e traduzido por Vinicius Nicastro Honesko, que assina também a apresentação junto com Susana Scramim. Nesta apresentação, eles dizem: “Agamben trata de abrir o que vem justamente nas sombras do presente, no kairós inapreensível que nos é sempre contemporâneo”. A apresentação prossegue apontando a interessante implicação filosófica: “Num procedimento que mantém conexões com o pensamento barroco, Agamben afirma que a entrada na temporalidade do presente é uma caminhada em direção a uma arqueologia daquilo que não podemos viver”; e, como diz o próprio filósofo, “restando não vivido, é incessantemente relançado para a origem, sem jamais poder alcançá-la”.
O retorno incessante do tempo presente a si mesmo, nunca estabelecendo-se como origem, aproxima-se por um lado à noção de poesia e, por outro lado, a uma noção espectral de sujeito decorrente do processo de subjetivação do atual capitalismo. Assim, o livro de Agambem desdobra a investigação da experiência e da representação do tempo de modo a articular ontologia, política e poesia. “A contemporaneidade é uma singular relação com o próprio tempo, que adere a este e, ao mesmo tempo, dele toma distâncias”.
O QUE É O CONTEMPORÂNEO? E OUTROS ENSAIOS
Autor: Giorgio Agamben
Editora: Argos
(92 págs.)