Beatriz Bracher é uma escritora cinematográfica. Talvez a analogia óbvia com seu ofício de roteirista pareça, a princípio, infame; é possível que seja. Mas é baseada na observação de que a construção das personagens e cenas em seus livros é feita de maneira que elas são quase visíveis, tão bem a prosa de Beatriz lida com os silêncios e intervalos, discretos e despretensiosos, da fala natural cotidiana.
Ao longo dos nove contos que compõem o seu novo livro, Garimpo, lançado pela Editora 34, percebe-se também sua versátil coerência. Os contos não tem padrão de tamanho, de linguagem, de estilo – há irreverentes diálogos de internet, ou anotações antropológicas do diário de viagem de uma escritora, por exemplo.
Ricardo Lísias, no texto de orelha da edição avalia: “Muito segura, é possível notar que Beatriz Bracher tem um projeto literário definido: iluminar as brechas da linguagem […] depois da luta com os limites da linguagem, a literatura aparece”. Lísias também é perspicaz ao analisar: “É uma literatura que cria pessoas incomodadas”.
O texto de Beatriz Bracher capta a atmosfera latente da história, das perspectivas sociais, dos limites morais. É profundamente verdadeiro na sua atualidade: os dramas são também políticos. Ao mesmo tempo, incluídos na intimidade emocional, psicológica, de suas personagens.
Trata-se de uma escritora densa, mas o é com humor e sensibilidade. Já o mostrara nos romances e o confirma com habilidade multiforme na diversidade constantemente interessante dos contos de Garimpo.
GARIMPO
Autor: Beatriz Bracher
Editora: Editora 34
(136 págs.)