Dando prosseguimento à “série” de posts iniciada sábado passado, segue abaixo o depoimento do escritor Menalton Braff, um dos mais importantes autores da atualidade. Entre seus livros mais conhecidos estão “A coleira no pescoço” (finalista do prêmio Jabuti de 2007), “A muralha de Adriano” (também finalista do Jabuti, em 2008) e “À sombra do cipreste” (eleito Livro do Ano, categoria ficção, do Jabuti de 2000). Entre suas orbas mais recentes estão “Moça com chapéu de palha” e “Tapete de silêncio”.
Gosto de esquematicamente dividir o ato criativo em três momentos. Está claro que se trata apenas de um esquema, com todas as variantes impostas pela vida.
– O primeiro momento é o da concepção. A ideia ou a imagem que bate na parede e cai na sua frente. É necessário sentir que a vida não continua sem que se fale da ideia ou da imagem. E repito: às vezes surge um tema abstrato, que precisa procurar suas figuras; às vezes surge uma figura, que deve procurar seu tema. A vida vivida, a vida ouvida, as leituras, a imaginação, enfim, nunca se sabe de onde virão as figuras e os temas.
– O segundo momento é o da gestação. É neste momento que os temas buscam figuras e vice-versa. Se é uma história o momento da concepção, ela começa a buscar sentidos, significados, às vezes sua própria linguagem. É a hora das anotações e/ou pesquisas, Ponto de vista, estrutura, padrão de linguagem, elementos em geral da narrativa, tudo isso cresce durante a gestação.
– O momento final é a execução. Muitas vezes é necessário modificar aspectos daquilo que foi gestado e não se deve temer a modificação. É o início do trabalho, a transformação de temas e figuras em discurso.
No meu caso particular, prefiro trabalhar à noite, todos os dias e sempre nos mesmos horários. Agora que já vou me tornando mais vagabundo, começo a escrever durante o dia também. Sempre no mesmo lugar e de preferência nas mesmas horas.
O conto não exige a mesma disciplina, pois seu convívio com o autor é menor. Conto a gente pode escrever até em quarto de hotel, nas férias.