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A Poética de Regina Silveira

7 outubro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Concorrendo ao Prêmio Jabuti deste ano, na categoria de artes e fotografia, o livro O outro lado da imagem e outros textos: A Poética de Regina Silveira, reúne nove ensaios escritos pelo poeta e crítico de arte espanhol Adolfo Montejo Navas, sobre a obra da artista plástica gaúcha. O livro busca uma reflexão poética que escape à crítica definitiva, por isso seu título. O trabalho de Regina Silveira é conhecido sobretudo por suas explorações da perspectiva e das sombras, usando diferentes materiais e meios, como fotografias, pinturas, gravuras, objetos, vídeos, instalações, projeções. Seus jogos de sombras exageradas, projetadas, criando perspectivas distorcidas e lúdicas, não conhecem limites de quinas e sobem rodapés. A obra de Regina Silveira lida com a distorção dos códigos de representação e, com a projeção das sombras, faz um comentário irônico das relações sociais e estruturas de poder – seu pensamento artístico é também filosófico e político. Um trabalho, além de artisticamente instigante, fundamentado em reflexões sobre a natureza ilusionista de imagens e espaços.

Um dos pensadores que Regina já citou em entrevistas é o romeno Victor Ieronim Stoichita, historiador e crítico da arte que estuda uma antropologia da imagem e que defende que exista um paradigma da sombra na história ocidental – para Platão, as sombras são o “estágio mais distante com relação à verdade”, assim como as artes, na teoria que as entende como mímesis, são cópias de cópias. Pode-se dizer que os trabalhos de Regina Silveira desdobram a dimensão filosófica dos valores historicamente agregados à luz e à sombra. A indicação da referência do historiador da arte romeno é do professor Márcio Seligmann-Silva, no interessante artigo “Sombras e luzes: reprodução técnica, os rastros efêmeros do desaparecimento e o “puro traço” na obra de Regina Silveira”, publicado em 2011 na revista “O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira”, da UFMG, em que ele analisa: “Regina Silveira, ao construir suas obras, sobretudo a partir de início dos anos 1980, como verdadeiras escrituras de sombra – revertendo mas em diálogo com o paradigma da foto-grafia – mergulhou em um projeto que não só retoma a história da representação para repensá-la, como também reverbera e dá forma ao abalo profundo da representação na modernidade, radicalizado na era da reprodutibilidade fotográfica e com maior razão nos dias de hoje, dominados pela era digital”. Ecos benjaminianos, reverberados em plasticidade.

Regina Silveira tem uma poética própria que lida com o desforme e com o passageiro, e, seus trabalhos, uma semântica multifacetada. Suas obras põem em questão a própria noção da representação, representação nas artes, representação do tempo.

 

O OUTRO LADO DA IMAGEM E OUTROS TEXTOS – A POÉTICA DE REGINA SILVEIRA
Autor: Adolfo Montejo Navas
Editora: EDUSP
(232 págs.)

 

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