Técnica e ciência como “ideologia”, de Jürgen Habermas, é uma coletânea de cinco ensaios, publicada originalmente em 1968. O ensaio cujo título dá nome ao volume originou o livro que seria publicado treze anos mais tarde, Teoria da ação comunicativa, considerado o ponto nevrálgico de toda a produção filosófica de Habermas.
Em suas considerações iniciais à obra, o filósofo aponta os ensaios “Técnica e ciência como ideologia” e “Conhecimento e interesse” – transcrição de uma aula inaugural, por ele proferida na Universidade de Frankfurt – como diferentes dos demais da coletânea, por não serem meros “trabalhos de ocasião”.
O ensaio “Técnica e ciência como ‘ideologia’”, entabula um debate com a tese desenvolvida por Herbert Marcuse, em Ideologia da Sociedade Industrial e Industrialização e capitalismo em Max Weber, de que a ciência e a tecnologia, nas sociedades do capitalismo tardio, tenham passado a estabelecerem-se como ideologias sociais, de maneira a mascarar o real processo de dominação de classe. Habermas questiona as hipóteses, levantadas por Marcuse, do desenvolvimento de uma nova ciência e de uma nova técnica como projetos históricos subordinados a interesses de classe.
Habermas aponta os conceitos de racionalidade, racionalização e planificação de Max Weber como formas de atividade econômica capitalista, a aumentarem a institucionalização dos desenvolvimentos técnico e científico, estabelecendo não só os moldes ideológicos, mas também as práticas sociais. Os fundamentos sobre os quais desenvolvem-se as sociedades capitalistas são, por um lado, uma técnica relativamente apurada e, por outro, uma organização da divisão de trabalho no processo social de produção que possibilite a superprodução. Habermas afirma que a racionalização da sociedade está ligada à institucionalização do progresso científico e técnico. O capitalismo legitima a dominação que surge da própria base do trabalho social, instituído em um mercado que funciona como um mecanismo econômico que garante, a longo prazo, que o sistema de dominação adapte-se às novas exigências de racionalidade, no qual a ciência, por fim, legitima a eficácia da desigualdade do poder.
Já o último ensaio do volume, “Conhecimento e interesse”, trava um diálogo com Husserl: Habermas considera ilusória a pretensão de elaboração de uma ciência pura, utilizando, como argumento, os interesses subjacentes aos desenvolvimentos científicos.
O embaralhamento entre o crescimento das forças produtivas e o progresso técnico institucionalizado é base de legitimação da sociedade. A contradição entre relações de produção e forças produtivas é submetida a uma justificativa de forma de organização tecnicamente necessária.
TÉCNICA E CIÊNCIA COMO “IDEOLOGIA”
Autor: Jürgen Habermas
Editora: Unesp
Preço: R$ 29,40 (206 págs.)