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Sobre a preguiça e o ócio

8 outubro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

O herói da nossa gente já dizia, “ai, que preguiça!”. Transformado em livro, o ciclo de conferências Elogio à preguiça, organizado por Adauto Novaes, propõe uma reflexão sobre a preguiça e o ócio, criativos, lembrando o que dissera Albert Camus: “São os ociosos que transformam o mundo porque os outros não têm tempo algum”. As palestras propuseram-se a pensar a vida e as aventuras da preguiça, e a mostrar que sua história sempre foi mal contada. Sugerem reflexões sobre a condenação da preguiça, pelo mundo do trabalho mecânico, e sobre a importância do ócio no desenvolvimento do trabalho intelectual e artístico. Visões filosóficas, políticas, poéticas.

Segundo Adauto Novaes, “o preguiçoso é indolente, improdutivo, nostálgico, melancólico, indiferente, distraído, voluptuoso, incompetente, ineficaz, lento, sonolento, silencioso: quem se deixa levar por devaneios”. Pórem, “apesar da oposição, preguiça e trabalho guardam um misterioso parentesco, quase simétrico e especular”. E conforme Adauto cita Paul Valéry, “é preciso ser distraído para viver”.

Marilena Chauí, em sua conferência, pôs a questão: não é curioso que o desprezo pela preguiça e a extrema valorização do trabalho possam existir em uma sociedade que não desconhece a maldição que recai sobre o trabalho, visto que trabalhar é castigo divino e não virtude do livre-arbítrio humano?

Antonio Cícero, pensando a poesia e a preguiça, sugeriu a constituição de um pensamento poético como oposição ao juízo prático ou cognitivo, posto que não é possível fazer um poema – nem é possível fruí-lo – apenas com o intelecto; porém, num certo estado de preguiça, fecunda, poeta e leitor encontrariam prazer em esbanjar tempo depurando um poema.

Olgária Matos procurou compreender o campo conceitual em que se inscreve a preguiça na contemporaneidade atualizando a questão clássica dos “cuidados de si” e da necessidade de uma “educação para a preguiça”; seu pensamento vai da preguiça como prostração, que sofre o vazio do tempo, à preguiça como tranquilidade da alma e, do preguiçoso, como o artesão do vazio.

Vladimir Safatle examinou o esgotamento da ética do trabalho e alguns de seus desdobramentos psíquicos, propondo-se a rever os clássicos trabalhos de Max Weber e os impactos sofridos pelo capitalismo após as revoltas de maio de 1968, analisando, assim, certas mutações ocorridas, como o novo entendimento da noção de “trabalho alienado”.

O livro, que concorre ao prêmio Jabuti na categoria ciências humanas, contém ainda as conferências de Franklin Leopoldo e Silva, Maria Rita Kehl, Jorge Coli, Oswaldo Giacóia Jr., José Miguel Wisnik, Arthur Nestrovski, dos filósofos franceses Francis Wolff e Frédéric Gros, entre outros.

 

 

 

 

ELOGIO À PREGUIÇA
Autor: Adauto Novaes (Org.)
Editora: Edições SescSP
(504 págs.)

 

 

 

 

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