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A difícil democracia

14 novembro, 2016 | Por Isabela Gaglianone

“Vivemos em sociedades politicamente democráticas e socialmente fascistas”.

Giorgio de Chirico

O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos foi o Homenageado Internacional da III Bienal do Livro e da Leitura, em Brasília, que ocorreu entre 21 e 30 de outubro de 2016 – evento que teve programação cultural tão rica quanto mal divulgada e que por isso infelizmente passou incólume à maior parte da população brasiliense. O renomado sociólogo recebeu título de Cidadão Honorário de Brasília e, em sua estadia no distrito federal, com fôlego invejável, proferiu duas palestras na Bienal, uma na UnB e visitou uma escola ocupada, onde conversou com os secundaristas.

“Não questiono que haja um futuro para as esquerdas, mas seu futuro não vai ser uma continuação linear de seu passado”, diz em seu novo livro, A difícil democracia – Reinventar as esquerdas, que tem sua primeira publicação mundial no Brasil pela Boitempo Editorial.

Trata-se de uma profunda reflexão sobre a necessidade urgente da esquerda de reinventar-se. Reinvenção que perpassa uma reflexão sobre os impasses da experiência democrática – cujos sintomas vem sido sentidos atualmente de maneira mais aguda: um momento absolutamente crítico, dominado, como nunca, por uma única concepção de democracia, de tão baixa intensidade que facilmente se confunde com a antidemocracia, que tem como contrapartida o que o sociólogo chama de “fascismo social”. Continue lendo

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história

Sistema político e patrimônio privado

15 junho, 2015 | Por Isabela Gaglianone

Após algumas edições, publicadas por diferentes editoras, volta às livrarias o estudo Bases do autoritarismo brasileiro, do historiador Simon Schwartzman, agora pela Editora da Unicamp.

A primeira edição da obra foi realizada em 1975. Schwartzman questiona a própria possibilidade de desenvolvimento da democracia na sociedade brasileira, cuja história é marcada por três séculos de colonização e quase quatro de escravidão. Sua análise representa um marco na compreensão histórico-política do Brasil. A tese parte de uma advertência: que a redemocratização institucional seria apenas o imprescindível primeiro passo na construção da democracia brasileira. Seguindo este viés analítico, o autor contrapôs-se às duas principais tendências interpretativas da época: à historiografia marxista, para a qual tudo se resumia na falta de amadurecimento das classes sociais, e à ideia de um Estado todo-poderoso, sobranceiro à sociedade. Schwartzman relaciona o passado colonial e os sistemas político e econômico de caráter patrimonialista, do qual o Brasil ainda não liberou-se.

gravura de Hansen Bahia, da série "Navio Negreiro"

gravura de Hansen Bahia, da série “Navio Negreiro”

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