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História da carochinha, ou a suposta crise da história

29 junho, 2009 | Por admin

Pegou-me de surpresa a tradução de um trecho da entrevista de Paul Veyne publicada na página 10 do caderno Mais! da FSP de ontem. No dia anterior, sábado, estive lendo uma parte do ensaio de Roger Chartier, A hitória ou a leitura do tempo, publicado este ano pela editora Autêntica, que trata justamente da dúvida da “possibilidade da história de produzir um conhecimento adequado do passado”. Dúvida esta que, segundo Chartier, foi diagnosticada nos anos 1980 e 1990 e produziu questões como se “a verdade que a história produz é diferente da que produzem o mito e a literatura?”

A relação entre “a história como disciplina” e a “escritura de imaginação”, ou seja, as dimensões retórica e narrativa da história, foram exploradas, segundo Chartier, por “três obras fundacionais”: VEYNE, 1971; WHITE, 1973; DE CERTEAU, 1975, que foram responsáveis por gerar uma série de reflexões e questionamentos que culminaram na “crise da história”.

A partir deste ponto, alguns autores saíram em busca de “tentativas de refundação epistemológica do regime próprio da cientificidade da história”, como: APPLEBY; HUNT; JACOB, 1994; PASSERON; REVEL, 2005; FORMES…, 2007, buscando afirmar, para a calma dos historiadores, que “o conhecimento (mesmo o conhecimento histórico) é possível” (GINZBURG, 1999, p.25).

(obs: Essa “crise da história” me fez lembrar, embora sejam óbvias as impossibilidades de comparação em diversos níveis, a recente abolição da exigência de diploma de jornalismo para exercer a profissão jornalística. Talvez valha a reflexão sobre esta relação para iluminar o debate sobre o tema.)

A bibliografia sobre o tema é extensa, portanto resigno-me a transcrever abaixo apenas a citada por Chartier, conforme publicado na edição de 2009 da editora Autêntica:

DE CERTEAU, Michel. L’Écriture de l’histoire. Paris: Gallimard, 1975 (Trad. português: A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982)

APPLEBY, Joyce; HUNT, Lynn; JACOB, Margaret. Telling the truth about history. Nova York; Londre: W. W. Norton and Company, 1994

FORMES DE LA GENERALISATION. Annales. Histoire, Sciences Sociales, 2007.

GINZBURG, Carlo. History, rhetoric, and proof. The Menahem Stern Jerusalem Lectures. Haover; Londres: University Press of New England, 1999. (Trad. português: Relações de força: história, retórica, prova. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.)

HARTOG, François. L’art du récit historique. In: BOUTIER, Jean; JULIA, Dominique (Dir.). Passés recomposés. Champs et chantiers de l’histoire. Paris: Éditions Autrement, 1994. p. 184-193

KOSSELECK, Reinhart. Erfahrungswandel und Methodeweschel. Eine historische historisch-anthropologische Skizze. In: MEIER, C.; RÜSEN, J. (Eds.). Historische Methode. Munich: Taschenbuch, 1998. p.13-61

PASSERON, Jean-Claude; REVEL, Jacques (Dir.). Penser par cas. Paris: Éditions de l’École des Hautes Études en Sciences Sociales, Enquête, 2005.

VEYNE, Paul. Comment on écrit l’histoire. Essai d’épistémologie. Paris: Éditions du Seuil, 1971. (Trad. português: Como se escreve a história. 4ª ed. Brasília: UNB, 1998.)

WHITE, Hayden. Metahistory. The historical imagination in nineteenth-century Europe. Baltimore; Londres: The Johns Hopkins University Press, 1973. (Trad. português: Meta-história: A imaginação histórica do século XIX. São Paulo: Edusp, 2008.)

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