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Uma carta a meus Amigos – Carlos Moore

3 novembro, 2008 | Por admin

Uma carta a meus Amigos

Carlos Moore

Esta carta é para meus amigos e minhas amigas pessoais no mundo; para aqueles/as que, de um modo ou de outro, me conheceram nos últimos quarenta anos; pessoas que sabem exatamente o que tenho agüentado e sabem, também, a que me oponho no que diz respeito a meus princípios e opções políticas. E isso tem a ver com o destino de Pichón, meu livro de memórias, um trabalho árduo ao qual me dediquei por vinte e cinco anos, escrevendo em muitos países onde residi com minha família, enquanto vivendo nas condições de exílio que você bem conhece.

Pichón está programado para ser publicado nos Estado Unidos da América e no Canadá no dia 1 de novembro de 2008.  Porém, deixe-me fazer um alertar sobre o fato de que não será comercializado por quaisquer das cadeias de livraria principais que dominam a distribuição de livros. Assim, não espere encontrar Pichón em qualquer lugar, na data do lançamento, a não ser on-line, na Amazon.com. Isto está relacionado ao espaço que as funções econômicas globais, resultantes de decisões corporativas, fazem, julgando o que é comercialmente lucrativo, à custa da informação socialmente pertinente. E Pichón é, precisamente, informação socialmente pertinente!

O clima atual no comércio de livros imprime um controle sem precedente nas mãos de alguns conglomerados e corporações multinacionais, enquanto que o número de independentes capazes de uma publicação autônoma vai diminuindo cada vez mais. É uma atmosfera totalmente desfavorável para livros como Pichón. Eu acredito que Pichón é da categoria de livros que tratam de assuntos sociais e históricos sérios, que tratam do modo como a sociedade trabalha e como a ordem mundial atual pode afetar gravemente as vidas de indivíduos e, ao final e ao cabo, as vidas de milhões das pessoas.

O controle monolítico da produção do livro e a indústrias de distribuição significa que sempre há menos diversidade nos estoques das livrarias, com cada vez maior quantia de pensadores sendo controlados por poucos, quais sejam as grandes editoras. Os pequenos editores independentes estão sempre em franca desvantagem. A lógica que permite que isto aconteça é simples: livrarias têm a expectativa grandes descontos, e as editoras podem ter de pagar até dezenas de milhares de dólares por título de seus livros que serão expostos em destaque nas lojas. Então, inevitavelmente a concentração será feita naqueles materiais de reconhecido e seguro retorno financeiro, e praticamente nenhum autor negro se enquadra nessa categoria.

Por conseguinte, há uma seleção rigorosa de livros escritos autores negros disponíveis nas lojas. A maioria dos que estão nessa situação, são provavelmente colocados em prateleiras “separadas”, como “assuntos negros” e não ao lado dos assuntos de interesse geral (ou seja “não negro”), onde os autores são simplesmente organizados em ordem  alfabética de A a Z. O que o público em geral raramente sabe é que esses “livros negros” ou “assuntos negros” só conseguem ser admitidos nas lojas quando são sujeitados a esse tipo de catalogação e estratégia de “visibilidade” que os torna invisíveis. É um “segredo declarado” onde o espaço reservado para os/as escritores/as negros/as é freqüentemente em um canto qualquer ou atrás de outras obras; próximo ou atrás dos estudos sobre as mulheres.

Em outras palavras, o tratamento dado a “livros negros” ou a “assuntos negros” identifica os parâmetros de exclusão, de “guetização” e de marginalização que são impostas pela grande economia mundial. Escritores, distribuidores e vendedores normalmente já “sabem” que “os autores minoritários”, que produzem “assuntos minoritários” não serão comprados, que o leitor “popular” não tem interesse neles. Da mesma forma, algumas pessoas afirmam que minorias não contam quando se trata de grandes números. A indústria do cinema tem trabalhado com a mesma falácia, até que Melvin Van Peebles mudou essa lógica com o filme baseado nele mesmo, intitulado “Sweet Sweetback’s Baadassss Song”. Se lembre? Nosso inconformado Spike Lee seguiu o exemplo, quebrando records com seu trabalho de baixo-custo “She’s Gotta Have It.” Se lembra?

Embora a indústria chamada “popular” continue considerando o grande equívoco de que livros ou filmes feitos por negros e outros grupos “minoritários” dizem respeito tão somente a negros e, automaticamente, têm limitações de marketing e de mercado, estou convencido que Pichón – que destrói mitos que têm perdurado por muito tempo e que abre a porta para o entendimento de um dos maiores fenômenos políticos do século XX, é relevante para todos.

As decisões corporativas que mantêm um livro desse porte longe do alcance do público são conseqüências desse tipo de globalização que ocorre por meio de fusões, aquisições e consolidações que empurram os pequenos e médios produtores para fora. Esse processo, que começou nos anos 1980, coloca o destino dos livros à mercê de monstruosos monopólios mega-multinacionais. São eles que agora determinam, para nós, o que é comprado ou lido.

Você entenderá por que eu, como um indivíduo, vislumbro essa como a opção viável para exercitar meu direito de ser ouvido, alcançando uma grande audiência que merece uma oportunidade para conhecer Pichón: eu envio esse apelo a você, pedindo seu apoio por uma rede alternativa que confia no comércio on-line.1 A internet pode ser milagrosa.  Democratizando ferramenta, ela possibilita que vozes contrárias, fora do poder instituído, sejam ouvidas sem censura, sem qualquer impedimento burocrático. Eu preciso da ajuda de meus amigos, e dos amigos de meus amigos, criando um informal “olho no olho”, uma campanha de promoção que venha da base. Só desse modo, Pichón poderá sair do anonimato e os assuntos de que trata poderão ser conhecidos por um público consciente e ávido por eles.

Eu tenho sido um exilado.2 Eu sempre lutei contra as desigualdades. Minhas visões políticas nunca foram comuns, nem coincidiram com os interesses de qualquer situação de poder pré-estabelecido (do “status quo”). Acostumei-me a estar atrás das trincheiras. Mas nesse momento, eu preciso de você comigo, para ajudar-me a tirar da marginalidade esta história não contada, mas verdadeira, sobre uma Cuba negra que existe sob da Revolução. Nós podemos alcançar isso no boca a boca, por e-mail, através dos blogs, dos filmes do YouTube,3 das salas de conversa na internet.  O território on-line é lugar onde a batalha contra a censura, contra o corporativismo pode ser ganha.

Três dias antes de os americanos darem o mais histórico voto de suas vidas, na eleição presidencial de 4 de novembro de 2008, eu lhe peço que lance um outro amável voto, em nome do direito de vozes negras cubanas independentes que precisam ser ouvidas. Entre on-line na amazon.com, no dia 1 de novembro, o dia de publicação de Pichón. Ajudando a tirar o livro da invisibilidade, você participa de um processo de democratização de Cuba que, esperamos, possa conduzir, finalmente, a maioria dos cubanos ao poder.

Meu humilde desejo para Pichón é que possa informar e contribuir para um caminho novo nas relações cubanas, e que aponte alguns possíveis caminhos novos de negociar com o mundo. Dê um voto para a transformação democrática e pacífica de Cuba!

Por favor, vote em Pichón, no dia 1 de novembro de 2008!

Com carinho e muita gratidão, em nome de um mundo melhor para nós tudo.

Carlos MOORE (site oficial: www.drcarlosmoore.com)

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