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Unidos, venceremos

19 outubro, 2016 | Por Isabela Gaglianone

Amilcar de Castro

São inúmeros os casos de conflitos, conspirações sórdidas, traições sujas e confrontos armados entre marxistas e anarquistas. Porém, em Afinidades revolucionárias: nossas estrelas vermelhas e negras – Por uma solidariedade entre marxistas e libertários, Olivier Besancenot e Michael Löwy buscam, justamente, salientar a solidariedade histórica entre militantes anticapitalistas de todas as vertentes.

O livro foi publicado pela Editora Unesp, com tradução de João Alexandre Peschanski e Nair Fonseca, e será lançado pelos autores no próximo dia 24. O lançamento, promovido pela Editora Unesp em parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo, promoverá um debate, que além de Löwy e Besancenot, contará com pensadores de esquerda como Isabel Loureiro, Fabio Mascaro Querido, Francisco Foot Hardman. O evento acontecerá na segunda-feira, às 19h, no auditório da Editora Unesp [Praça da Sé, 108].

Afinidades revolucionárias resgata alguns momentos em que houve colaboração e convergência entre marxistas e libertários, como o caso, lembrado na introdução da edição brasileira, da Frente Única Antifascista, que enfrentou, vitoriosamente, os camisas-verdes de Plínio Salgado na Praça da Sé, em outubro de 1934 – o episódio ficou conhecido como a “revoada dos galinhas verdes”, graças à cor do uniforme dos militantes integralistas da extrema-direita brasileira de então.

Os autores também colocam-se sob o signo da I Internacional, fundada em 1864, uma associação pluralista que conheceu, em seus primeiros anos, convergências entre suas correntes mais radicais. Assim, descrevem a trajetória dos movimentos sociais privilegiando uma característica geralmente ignorada: a fraternidade entre seus combatentes, as alianças e solidariedades atuantes entre anarquistas e marxistas.

Da Comuna de Paris até o século XX e os nossos dias, passando pelo movimento zapatista e pelo subcomandante Marcos, quase sempre em meio a enfrentamentos sangrentos, Löwy e Besancenot traçam uma história na qual figuram Louise Michel e Rosa Luxemburgo, Walter Benjamin, André Breton e Daniel Guérin, chegando até aos altermundistas. A partir de uma perspectiva ecossocialista e libertária, discutem a “tomada do poder”, o próprio ecossocialismo, a planificação, o federalismo, a democracia direta, a relação sindicato/partido.

Trata-se de uma obra nevrálgica, que defende que o campo revolucionário pode ser portador da mesma esperança de mudança anticapitalista, feminista, antirracista e democrática. Ou, nas palavras dos autores, um livro escrito com a esperança de “que o futuro seja vermelho e negro: o anticapitalismo, o socialismo ou o comunismo do século XXI deverá sorver nessas duas fontes de radicalidade”. Dizem os autores: “Queremos semear alguns grãos de marxismo libertário, na esperança de que encontrem um terreno fértil para crescer e produzir folhas e frutos”.

Um dos capítulos é dedicado à discussão das teorias anarquistas sobre a democracia direta, no qual os autores mostram que, na prática, os anarquistas sempre implementam formas de delegação ou representação. Uma das afinidades eletivas revolucionárias entre as tentativas de entender e transformar o mundo.

Olivier Besancenot foi candidato à presidência da França e é membro da direção do Novo Partido Anticapitalista [NPA]. Michael Löwy é diretor emérito do Centre National de la Recherche Scientifique, na França, pesquisador da história do marxismo na América Latina.Pela Editora Unesp, os autores já publicaram Che Guevara: uma chama que continua ardendo [2009].

Sobre o ecossocialismo, em entrevista concedida à revista Brasileiros, Michael Löwy sintetizou: “Estou convencido, já faz alguns anos, que o socialismo só terá futuro no século 21 se levar a sério a questão da ecologia e vice-versa. Ou seja, a ecologia só estará à altura dos desafios se for uma ecologia socialista. O ecossocialismo parte da ideia de que a crise ecológica, que já está em curso, nos leva em direção a uma catástrofe ecológica sem precedente na história da humanidade em poucas décadas. Isso significa que o calor que estamos sentindo esses dias em São Paulo vai ser brincadeira de criança, se comparado ao que vai acontecer nos próximos anos. O gelo dos polos, que já começou a derreter, vai derreter em grande escala, e o nível do mar vai subir. E basta subir um metro para as principais cidades da civilização, Veneza, Rio de Janeiro, Amsterdã, Nova York e Londres, fiquem debaixo da água. Essa situação é resultado dos gases produzidos pelas energias fósseis, e o capitalismo funciona há três séculos na base das energias fósseis, que são as mais rentáveis. As outras energias podem ser até utilizadas episodicamente, mas não são competitivas e, portanto, não interessam. Daí a busca desesperada por mais petróleo. Essa é a lógica do sistema”. Segundo o sociólogo, “a tendência do sistema é de expansão, o capitalismo só existe com expansão, crescimento, produtivismo, consumismo. Dizemos que a alternativa tem de ser radical e, se a raiz do mal é o sistema, então buscamos uma alternativa anti-sistemica, que teria de ser uma alternativa socialista. No entanto, teríamos de repensar o socialismo, não poderia ser aquele que acabou com a queda do muro. Tem de ser um socialismo novo, do século 21, democrático, libertário e ecológico. Precisamos repensar toda a questão do aparelho produtivo, das forças produtivas, da planificação para termos outra relação com o meio ambiente”.

 

 

 

AFINIDADES REVOLUCIONÁRIAS – NOSSAS ESTRELAS VERMELHAS E NEGRAS

Autores: Olivier Besancenot e Michael Löwy
Editora: Unesp
Preço: R$ 26,60 (196 págs.)

 

 

 

 

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