cinema

1914 e a pungente melancolia da decadência

5 novembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Luzes da ribalta, o livro de Charles Chaplin que inspirou o seu filme homônimo acaba de ganhar tradução no Brasil, feita por Henrique B. Szolnoky, na edição da Companhia das Letras. (O filme e o livro são homônimos apenas na tradução, o título original da novela é Footlights, ao passo que o do roteiro é Limelight).

Sentimental, entrelaçado por fios de drama e de comédia, trata-se de um belo filme sobre a melancolia da derrocada humana. Estreou em 16 de maio de 1952, em Londres. Seu roteiro foi intelectualmente concebido em 1916, quando, então já astro de Hollywood, Chaplin foi visitado pelo bailarino russo Vaslav Nijinsky. Profundamente impressionado pela figura mítica de Nijinsky, que, pouco tempo depois, seria diagnosticado como esquizofrênico e abandonaria a dança, Chaplin teria ali tido o impulso criativo da concepção de uma história sobre a decadência, artística e física, de um bailarino.

Apenas, porém, no final da década de 1940, Chaplin voltou ao tema e começou efetivamente a escrever um argumento sob a forma de uma novela, que foi intitulada Footlights. Esta, foi a fonte principal do roteiro de Luzes da ribalta (Limelight). A conclusão da novela se deu apenas três anos depois, e seu manuscrito foi mantido inédito por mais de seis décadas em meio ao arquivo pessoal de Chaplin: somente foi descoberto por David Robinson, crítico inglês biógrafo oficial de Chaplin, que o editou, com a ajuda da Cineteca di Bologna.

A narrativa perpassa a tocante história de Calvero, um palhaço que, velho, decadente e bêbado, é apaixonado pela jovem bailarina suicida Thereza – personagem que foi transposta para as telas com poucas alterações substanciais. Através do narrador, Chaplin demonstra pleno domínio dos diálogos, do espaço e do tempo da ficção longa.

O volume é ilustrado por dezenas de reproduções de documentos e fotografias do Arquivo Charles Chaplin. A edição conta também com um ensaio de David Robinson sobre a criação do romance e do filme, que também contextualiza o ambiente cultural londrino de 1914, retratado por Chaplin.

Sobre a história: transcorrida em Londres, em 1914, às vésperas da I Guerra Mundial, o protagonista, Calvero, palhaço de teatro bastante famoso, mas, agora, alcóolotra contumaz, salva de tentativa de suicídio uma jovem dançarina chamada Thereza, artisticamente conhecida como Terry. O palhaço serve-lhe de enfermeiro até que ela recupere sua saúde, seu amor-próprio e sua carreira. Tempos depois, Terry estrela seu próprio espetáculo; encontra-se, casualmente, com Calvero e o convence a atuar, para uma apresentação beneficente. Com seu antigo parceiro de palcos, Keaton, Calvero volta triunfante, mas tem um final trágico.

Uma história de coragem e esperança, com uma poética pungente extraída da combinação da bufonaria do palhaço, com a graça da bailarina, sendo uma completa expressão da pathos da solidão.

A Companhia das Letras disponibiliza um trecho para visualização.

 

 

LUZES DA RIBALTA

Autor: Charles Chaplin
Editora: Companhia das Letras
Preço mínimo: R$ 45,43 (224 págs.)

 

 

 

 

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