César Aira (1949) é argentino natural de Coronel Pringles e já publicou mais de 60 livros. O mais recente foi lançado a poucos dias pela casa editorial La Bestia Equilátera: El mármol. O autor já esteve no Brasil: dividiu, na edição de 2007 da FLIP, a mesa “Dois lados do Balcão” com o ensaísta e crítico literário brasileiro Silviano Santiago, na qual discutiram as influências e sobreposições das formas de criação literária ficcional e ensaística. Enfim. O que me interessa neste artigo é traduzir um pequeno trecho de uma matéria que saiu na última edição da Revista Ñ sobre o boom literário que se tornou César Aira no exterior. O trecho em questão explica o procedimento criativo usado por Aira para escrever seus textos:
“O procedimento, como Aira o chama, é o aspecto mais fascinante e perturbador de sua obra. Implica em aderir a um ritual invariável: desde o papel especial para escrever que Aira compra da empresa que produz as cédulas para a casa da moeda argentina até a tinta fina para as penas Mont Blanc e Vuitton que utiliza para intensificar a sensação de que a cada dia cria um “desenho escrito”. Este desenho diário é feito em uma série de cafés em seu bairro de Flores [Buenos Aires]. Quando termina o trabalho do dia, a história deve avançar, nunca retroceder, o que Aira chama de “a fuga para frente” (fuga hacia adelante). Não é escrita automática nem “a primeira ideia é a melhor”, tal como abordam outros experimentalistas: a composição é lenta, deliberada, em raras ocasiões produz mais de uma página por dia. Uma vez que Aira termina o trabalho, as revisões são, não obstante, estritamente proibidas. A história deve desenvolver-se a partir do que foi escrito no dia anterior, o que o obriga a formular ideias e giros argumentativos sempre novos.” (Michael Greenberg, publicado na The New York Review of Books e traduzido para o espanhol por Cristina Sardoy para a Revista Ñ)
A fama mundial que César Aira adquiriu no exterior se deve em grande parte ao falecido escritor chileno Roberto Bolaño. A primeira publicação em inglês de Aira saiu em 2006, nos EUA, prefaciada por Bolaño, que escreveu: “Aira é um dos três ou quatro melhores escritores em espanhol da atualidade.” Além do reconhecimento internacional, a Revista Ñ menciona, no subtítulo da matéria mencionada acima, que César Aira é, hoje, o escritor mais discutido na Argentina.
No Brasil pouquíssimas traduções do autor foram publicadas. Podem ser encontrados os livros Um Acontecimento Na Vida do Pintor-Viajante e As Noites de Flores que foram publicados pela Editora Nova Fronteira, Trombeta de Vime pela Iluminuras e um Pequeno Manual de Procedimentos, que saiu em 2007 pela Arte e Letra.
Linkografia
- Entrevista concedida em 2004 à The Barcelona Review;
- Entrevista concedida em 2010 ao periódico espanhol El País: “El laberinto de César Aira“.