Arquivos da categoria: tradução

Guia de Leitura

Boris Schnaiderman e suas belas traduções

8 julho, 2016 | Por Isabela Gaglianone

Escritor, professor, tradutor: Boris Schnaiderman, intelectual generoso, foi certamente o maior responsável pelo acesso e divulgação da literatura russa no Brasil, fundador de uma nova era na tradução brasileira – uma tradição de traduções cuidadosas diretas do russo para o português.

Boris juntou à prática acadêmica o exercício de jornalismo literário, o culto aos clássicos e o interesse pelos novos escritores. Como tradutor, realizou um trabalho que esteve associada à docência e à produção incessante de artigos e livros, mas que combinou, a este, outros trabalhos, como os desenvolvidos em equipe (com os poetas Augusto e Haroldo de Campos, posteriormente com Nelson Ascher) e trabalhos independentes.

Suas traduções sempre foram caracterizadas pela autonomia e pelo extremo cuidado no tratamento com o texto. Autores tão diferentes como Górki e Tchekhov merecem, a cada reedição das traduções, um reexame detalhado e importantes melhoramentos.

Em entrevista, Boris certa feita disse não gostar da expressão “texto intraduzível”: trata-se apenas de um dos grandes desafios que uma tradução apresenta.

 

A. P. Tchekhov, “A dama do cachorrinho – E outros contos”

A primeira tradução assinada por Boris Schnaiderman [fizera algumas amadoras antes, sob o nome de um pseudônimo] foi A dama do cachorrinho, em 1959, quando ele tinha 42 anos. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, em 06 de maio de 2001, Schnaiderman conta: “Minhas traduções anteriores eu havia publicado com pseudônimo. Não as reconheço. Eu não tinha experiência. Mesmo com a tradução de ‘A Dama do Cachorrinho’ não fiquei satisfeito e a refiz várias vezes. Aliás, faço isso com todas as minhas traduções”.

Os contos breves, precisos e tocantes de Anton Tchekhov (1860-1904) revolucionaram a maneira de escrever narrativas curtas, tornaram-se mundialmente conhecidos e influenciaram os principais escritores que posteriormente dedicaram-se ao gênero. Grande parte da originalidade de Tchekhov reside no papel fundamental que desempenham, em suas histórias, a sugestão e o silêncio, a ponto de, muitas vezes, o mais importante ser justamente o que não é dito. Continue lendo

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Guia de Leitura

As traduções da Odisseia

4 dezembro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

Uma tradição tradutora no Brasil consolida-se em diversas áreas, para a felicidade do leitor. Traduções diretas do original, ao invés de mediadas por outras traduções, começam a ser, cada vez mais, verdadeiras exigências.

Obras clássicas sobretudo acabam tendo diversas traduções e, assim, o leitor pode escolher a vertente teórica que mais lhe adequa – se leituras mais fiéis ao original em sua forma, se leituras mais acessíveis a seu vocabulário contemporâneo, se historicamente mais fieis.

A Odisseia tem, atualmente no mercado brasileiro, algumas diferentes traduções. As mais comentadas divergem justamente pela concepção da obra e de sua transmissão pelos respectivos tradutores.

 

Homero, Odisseia [tradução de Frederico Lourenço]

A tradução do português Frederico Lourenço, publicada pela Companhia das Letras, conseguiu reproduzir uma versão fluente e mais prosaica, capaz de transmitir o texto aos leitores contemporâneos sem grandes estranhamentos.

A versão da Penguin-Companhia das Letras vem com um “guia de leitura” ao final, com algumas questões de verificação de compreensão acerca de alguns episódios, com respectivas respostas, além de uma seleção bibliográfica recomendada à guisa de comentário – dois livros publicados nos Estados Unidos, dois na Inglaterra e um em Portugal.

A edição conta com introdução e notas escritas pelo falecido professor inglês Bernard Knox, estudioso dos textos da Grécia Antiga, debruçou-se durante a carreira acadêmica principalmente sobre a obra de Sófocles e foi diretor e fundador do Centro de Estudos Helênicos da Universidade de Harvard. O tradutor Frederico Lourenço é também responsável pelo prefácio.

A editora disponibiliza trecho do Canto I em seu site.

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Literatura

Tradução é criação

20 janeiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Haroldo de Campos, foto: Eder Chiodetto

O livro Transcriação reúne escritos esparsos de Haroldo de Campos, publicados nos seus livros de ensaios e em suas traduções de poesia. A antologia cobre o âmago da poética da tradução desenvolvida por Haroldo de Campos. Organizado por Marcelo Tápia e Thelma Médici Nóbrega, o livro conta com dezesseis ensaios, publicados entre 1963 e 1997. A extensão temporal dos ensaios permite o acompanhamento do desenvolvimento da teoria de Haroldo de Campos da abolição da hierarquia entre criação e tradução poéticas. Apenas dois dos ensaios já integravam outras obras e foram incluídos para a manutenção da coesão do livro, que também conta com uma introdução elucidativa de Marcelo Tápia.

A reunião dos ensaios dimensiona a amplitude da busca pela existência sincrônica da obra como criativa e tradutória. Configura-se, assim, como cerne da discussão sobre recriação poética, atividade denominada por Haroldo de Campos transcriação: uma fonte indispensável e inesgotável de descoberta e diálogo fértil no trânsito entre línguas, linguagens, tempos e espaços.

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lançamentos

O procedimento de César Aira

1 março, 2011 | Por admin

César Aira (1949) é argentino natural de Coronel Pringles e já publicou mais de 60 livros. O mais recente foi lançado a poucos dias pela casa editorial La Bestia Equilátera: El mármol. O autor já esteve no Brasil: dividiu, na edição de 2007 da FLIP, a mesa “Dois lados do Balcão” com o ensaísta e crítico literário brasileiro Silviano Santiago, na qual discutiram as influências e sobreposições das formas de criação literária ficcional e ensaística. Enfim. O que me interessa neste artigo é traduzir um pequeno trecho de uma matéria que saiu na última edição da Revista Ñ sobre o boom literário que se tornou César Aira no exterior. O trecho em questão explica o procedimento criativo usado por Aira para escrever seus textos:

“O procedimento, como Aira o chama, é o aspecto mais fascinante e perturbador de sua obra. Implica em aderir a um ritual invariável: desde o papel especial para escrever que Aira compra da empresa que produz as cédulas para a casa da moeda argentina até a tinta fina para as penas Mont Blanc e Vuitton que utiliza para intensificar a sensação de que a cada dia cria um “desenho escrito”. Este desenho diário é feito em uma série de cafés em seu bairro de Flores [Buenos Aires]. Quando termina o trabalho do dia, a história deve avançar, nunca retroceder, o que Aira chama de “a fuga para frente” (fuga hacia adelante). Não é escrita automática nem “a primeira ideia é a melhor”, tal como abordam outros experimentalistas: a composição é lenta, deliberada, em raras ocasiões produz mais de uma página por dia. Uma vez que Aira termina o trabalho, as revisões são, não obstante, estritamente proibidas. A história deve desenvolver-se a partir do que foi escrito no dia anterior, o que o obriga a formular ideias e giros argumentativos sempre novos.” (Michael Greenberg, publicado na The New York Review of Books e traduzido para o espanhol por Cristina Sardoy para a Revista Ñ)

A fama mundial que César Aira adquiriu no exterior se deve em grande parte ao falecido escritor chileno Roberto Bolaño. A primeira publicação em inglês de Aira saiu em 2006, nos EUA, prefaciada por Bolaño, que escreveu: “Aira é um dos três ou quatro melhores escritores em espanhol da atualidade.” Além do reconhecimento internacional, a Revista Ñ menciona, no subtítulo da matéria mencionada acima, que César Aira é, hoje, o escritor mais discutido na Argentina.

 

No Brasil pouquíssimas traduções do autor foram publicadas. Podem ser encontrados os livros Um Acontecimento Na Vida do Pintor-Viajante e As Noites de Flores que foram publicados pela Editora Nova Fronteira, Trombeta de Vime pela Iluminuras e um Pequeno Manual de Procedimentos, que saiu em 2007 pela Arte e Letra.

Linkografia

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lançamentos

João Ubaldo e a autotradução

17 agosto, 2009 | Por admin

O autor-tradutor ou a composição-tradução, enfim, o tradução do próprio autor de sua obra é o tema deste livro: O respeito pelo original – João Ubaldo Ribeiro e a autotradução. Maria Alice Gonçalves Antunes, professora da UERJ, redigiu o capítulo introdutório dedicado à considerações teóricas e metodológicas, somos apresentados aos conceitos de autor-modelo e leitor-modelo de Umberto Eco:

“O autor-modelo é uma voz que fala afetuosamente (imperiosamente ou enganosamente) conosco, que nos quer ao seu lado, e essa voz se manifesta como estratégia narrativa, como conjunto de instruções que nos dão distribuídas a cada passo, e às quais devemos obedecer quando decidimos comportar-nos como leitor-modelo” (Seis passeios pelos bosques da ficção, Companhia das Letras, 2006, p. 18-19)

Após este capítulo-prefácio, a autora dedica o segundo capítulo para conceituar a autotradução. Distribui pelo texto 4 subcapítulos: “Autotradução: conceituação”, “Breve histórico: a autotradução e as pesquisas sobre o tema”, “A autotradução na academia” e “Autotradução e autotradutores: motivações e questões teóricas”. E depois, no último capítulo, entra no estudo propriamente dito do caso sobre João Ubaldo Ribeiro onde estabelece uma análise comparativa de originais e suas respectivas traduções.

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lançamentos

Michelangelo Buonarroti – Epistolografia e Poesia

10 agosto, 2009 | Por admin

Com o recente lançamento da editora da Unicamp são 2 os livros que tratam de partes da produção de Michelangelo Buonarroti que não estejam ligadas nem as artes plásticas nem a invenção de projetos de engenharia – que acredito sejam os aspectos mais conhecidos do artista italiano.

Cartas escolhidas reúne a produção epistolar de Michelangelo entre os anos de 1496 e 1563. Cada carta, traduzidas diretamente do original italiano, vem acompanhada de sua contextualização e comentário. A professora de história da arte da UERJ, Maria Berbara, assina a tradução.

 

Além das Cartas Escolhidas, a Ateliê Editorial publicou em 2007 uma seleção de 50 poemas de Michelangelo. Uma belíssima edição que Mauro Gama traduziu do original italiano para o português da mesma época, usando como referência a métrica e as rimas de Luís Vaz de Camões, “conseguindo reproduzir o efeito de modernidade que Michelangelo teve sobre a língua de seu tempo.”

Dois quartetos transcritos no release publicado no site da editora onde Michelangelo estabelece um paralelo entre o ferreiro, o demiurgo e o escultor-poeta:

Só co fogo o ferreiro estende
à idéia cara e seu melhor lavor,
nem sem fogo um artista o ouro, em fervor,
no seu mais alto grau afina e rende:

nem mesmo fênix outra vez se prende
se antes não arde. E eu, se morrer no ardor,
mais claro espero entre esses me repor
que a morte acresce, e o tempo não ofende

mostram, para Gama, “a capacidade de materializar o que é imaterial (a eternidade, ou a ressurreição), ou de concretizar o abstrato, que é tanto mais nova e admirável em alguém que consegue, num contexto como o seu, sentir a fundo a realidade de sua contingência”.

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lançamentos

Instituto Piaget Editora

6 agosto, 2009 | Por admin

O Instituto Piaget, ou Instituto Piaget – Cooperativa para o Desenvolvimento Humano, Integral e Ecológico, CRL, é uma instituição de ensino superior portuguesa presente em 7 cidades de Portugal, em Angola, Cabo Verde, Moçambique e inaugurou, este ano, sua primeira filal brasileira na cidade de Suzano, em São Paulo.

Em 1988 criou um projeto editorial que já possui mais de 1500 títulos publicados, dentre eles diversas traduções de autores renomados como Edgar Morin, Michel Serres, Lucien Sfez, Ervin Laszlo, Catherine Millet, entre outros.

O desenvolvimento intenso da editora culminou na criação de uma delegação em Porto Alegre para facilitar a difusão do material publicado em território nacional. Os livros não são vertidos para o português brasileiro; os livros publicados até o ano passado são vendidos no Brasil com as regras ortográficas vigentes em Portugal antes do recém-assinado acordo.

Veja abaixo alguns ótimos exemplos de traduções que muitas vezes não encontramos em publicações nacionais:

Um debate que existe desde o aparecimento do automóvel, que reflete sobre uma necessidade de adaptação contínua das cidades ao carro.

 

Discussão sobre a capacidade das cidades de estimular a criatividade e de dinamizar a vida econômica mesmo com a subida das tensões sociais.

 

“Pensadores e filósofos tentam, nesta obra, sair do dilema que, hoje, nos encerra entre ceticismo e dogmatismo, ajudando-nos a compreender melhor as lógicas que transformam a nossa sociedade.”

 

A arte contemporânea e a vontade de querer ter um controlar demasiado sobre o real.

 

“Pierre Lévy propõe, nesta obra, para a informática do futuro, um programa de investigação complementar ao programa de pesquisa sobre a inteligência artificial.”

 

Uma introdução a clássica teoria do pensamento complexo do sociólogo francês Edgar Morin.

 

 

Os livros da Editora do Instituto Piaget estão sendo cadastrados no acervo da Livraria 30PorCento. Acesse a página da editora em nosso site para conferir o catálogo.

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lançamentos

O Pensamento Clássico Traduzido

5 agosto, 2009 | Por admin

Na última semana duas editoras univesitárias – Unesp e Unicamp – publicaram traduções de obras pilares do pensamento clássico. Os livros I e II da Física, de Aristóteles e a tradução feita a partir do grego de Os Elementos, de Euclides.

Lucas Angioni, professor de História da Filosofia Antiga da Unicamp, é o responsável pela tradução e pelos comentários presentes n’A Física I e II de Aristóteles. Ele é autor também de outros dois livros que foram publicados pela Editora da Unicamp, são eles As noções aristotélicas de substância e essência – o livro VII da Metafísica de Aristóteles e Introdução à Teoria da Predicação em Aristóteles.

 

A bela tradução dos 13 livros que compõe a obra Os Elementos foi realizada por Irineu Bicudo, diretor do Departamento de Matemática da Unesp de Rio Claro. O livro divide-se em 4 seções: os seis primeiros livros dão conta da geometria plana; os três seguintes, da teoria dos números; o livro X, o mais complexo, estuda uma classificação de incomensuráveis/irracionais; e os três últimos abordam a geometria no espaço/estereometria.

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Artes Plásticas

O que faz de um Picasso um Picasso?

27 fevereiro, 2009 | Por admin

No último dia 19, falou-se neste blog sobre a coluna dominical de Jorge Coli que ponderava sobre a exposição “Picasso e os Mestres”, no Grand Palais, em Paris: “houve raras comparações convincentes e a interrogação intelectual da exibição foi precária”; porém, indica um possível ponto positivo, ainda que inconsciente: “mesmo se involuntariamente (…) a exposição Picasso e os grandes Mestres, destinada ao grande público, trouxe um excelente exercício para os olhos: o da comparação.”

Este artigo complementar traz uma tradução do ínicio de uma matéria publicada no Artdaily.org, que revela o sucesso financeiro da exposição que foi considerada “a mais cara de Paris”:

A exposição mais cara de Paris terminou no começo deste mês após receber críticas mordazes e desfrutar de vendas de ingressos astronômicas.

por MICHAEL DAMIANO,

Picasso e os Mestres terminou no dia 2 de fevereiro em Paris. A exposição comparou trabalhos de Picasso lado a lado com obras clássicas e modernas que porventura inspiraram o artista.

A exposição, localizada no Grand Palais com mostras paralelas no Louvre e no Museu de Orsay, conquistou sucesso comercial apesar das severas críticas. De acordo com o relatório de imprensa final, a exposição atraiu 783.352 visitantes, ou 7.270 visitas por dia ao Grand Palais. Enquanto isso no Museu de Orsay e no Louvre, calcula-se que as paralelas foram vistas por 450.521 e 300.000 pessoas, respectivamente. Apesar do custo monstruoso (€4.3 milhões) para montar a exposição mais cara da história de Paris, não é preciso aprofundar-se na aritmética para descobrir que a receita gerada foi espantosa. O preço cheio do ingresso para a exposição principal no Grand Palais era de €12 (o preço da “meia” entrada para estudantes era €8). 90.000 catálogos da exposição foram vendidos a €50 cada (só eles já cobriam mais do que o custo inicial da exposição). Some a isto os 67.000 álbuns da exposição vendidos, 14.000 cópias do livro do show infantil e 5.900 DVDs. A despeito da crise financeira, o público generosamente abriu sua carteira para esta exposição de alta publicidade.

Entretanto, assim como o dinheiro entrou, as críticas mordazes também o fizeram. (leia o artigo completo em inglês)

Picasso e os grandes Mestres - Grand Palais, Paris

Com tudo isto em mente vem a calhar a proposta de um livro recém-impresso pela Cosac Naify, cujo título é: O que faz de um Picasso um Picasso?, de Richard Mühlberger. O livro faz parte da coleção infanto-juvenil organizada pelo Metropolitan Museum of Art de Nova York, onde cada livro é como uma visita guiada às obras mais importantes dos grandes mestres da arte ocidental.

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Literatura

Tradução do Francês é nova categoria do Jabuti

14 fevereiro, 2009 | Por admin

Foi publicado na Folha de São Paulo de hoje, 14 de fevereiro de 2009, a notícia da criação de uma nova categoria no tradicional prêmio literário Jabuti voltada para as traduções do Francês.

“A Câmara Brasileira do Livro decidiu incluir a categoria tradução de obras de ficção do francês para o português no tradicional Prêmio Jabuti, como homenagem à língua francesa no Ano da França no Brasil. Com a inclusão, a premiação contemplará 21 categorias no total. As inscrições para o prêmio, de obras publicadas no ano passado, vão de março a maio. Em setembro, serão escolhidos os três primeiros colocados de cada categoria, e, em novembro, serão anunciados o livro do ano de ficção e de não-ficção.”

A notícia é boa, na minha humilde opinião. Enquanto observamos a estreiteza norte-americana que possui sua vida literária voltada única e exclusivamente para o que é produzido dentro de seu território, temos um exemplo brasileiro bastante profícuo.

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Literatura

Roberto Bolaño e W.G. Sebald

10 fevereiro, 2009 | Por admin

Estive lendo o blog Beyond Hall 8, que se auto-denomina uma plataforma para discussões sobre a publicação de livros, com uma perspectiva internacional, voltada para um público internacional. Além disso, o blog é patrocinado pela Feira do Livro de Frankfurt.

Num artigo de 29 de janeiro deste ano – 2009 -, o autor, Edward Nawotka, faz um comentário e dá o seu palpite sobre o prêmio Best Translated Book of 2008 [Melhor Livro tradução Traduzido – para o inglês – de 2008]. A aposta é que o romance 2666, de Roberto Bolaño, traduzido do espanhol por Natasha Wimmer, será o vencedor tanto do Best Translated Book of 2008 quanto do National Book Critics Circle.

Entretanto, o mais interessante do artigo vem logo em seguida. Nawotka pondera se o interesse por Bolaño irá se sustentar por muito tempo e, principalmente, nos faz lembrar que, há alguns anos atrás, W.G. Sebald atravessou um fase similar de interesse dos leitores e da crítica, mas sumiu de vista nos dias de hoje.

W. G. Sebald, alemão, faleceu num acidente de carro há 8 anos, em dezembro de 2001. O autor é pouco conhecido no Brasil. Um reflexo disto pode ser visto no fato de que, na enciclopédia Wikipedia, não há o artigo do escritor em nossa língua.

Sebald teve dois de seus romances publicados pela Companhia das Letras no ano passado (2008). Austerlitz, de 2001, e Vertigem, de 1990, ambos traduzidos por José Marcos Mariani Macedo. Os outros dois títulos públicados em português são da editora Record: Os Anéis de Saturno, de 1995, e Os Emigrantes, de 1992.

A revista Trópico publicou, na época do lançamento de Os Anéis de Saturno, em 2002, um ótimo artigo sobre o escrito alemão. Assinado por Flavio Moura, o texto revela que “o culto a uma morbidez silenciosa, a um mundo de sombras que já desistiu de se iluminar, é uma constante nos livros do autor” e “em certas passagens temos a impressão de que o narrador é um médico com olhos apenas para as enfermidades, sejam elas perpetradas pela passagem do tempo ou pela ação do homem.”

Leia o obtuário de W. G. Sebald no The Guardian.

Sobre Austerlitz, o último romance de W. G. Sebald:

“O professor de história da arquitetura Jacques Austerlitz explora a estação ferroviária de Liverpool Street, em Londres, coletando material para pesquisas, quando é tomado por uma visão que talvez o ajude a explicar não a ‘arquitetura da era capitalista’, mas o sentimento incômodo de ter vivido uma vida alheia. A partir dessa experiência, suas andanças pelas ilhas britânicas e pelo continente europeu, sua mania fotográfica e sua memória minuciosa ganham ímpeto bem mais que acadêmico – Austerlitz passa a reconstruir sua própria biografia. Para cumprir a tarefa – ou seu destino -, o herói do romance terá de ir e vir entre várias décadas, muitos países e os cenários mais díspares – um lar protestante no interior de Gales, um internato britânico, uma biblioteca em Paris, fortificações, palácios, campos de concentração, monumentos e banheiros públicos. No fim da viagem – que converterá a biografia mais íntima do professor em cifra da história européia no século XX -, está o momento em que tudo começou, com outros nomes, em outra língua, em outra estação ferroviária, quando os horrores da Segunda Guerra começavam a se anunciar.”

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tradução

Dicionário de tradutores literários do Brasil

9 maio, 2008 | Por admin

Eis uma iniciativa muito interessante do Núcleo de Pesquisas em Literatura e Tradução da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que é um mapa dos tradutores literários no Brasil batizado como Ditra – Dicionário de tradutores literários do Brasil (clique aqui para ir direto à página oficial do dicionário). A partir de uma base extensa que é o Index Translationum, uma compilação da UNESCO da bibliografia internacional de traduções, criada em 1932, uma equipe de professores e alunos do “projeto integrado Tradução, Tradição e Inovação: o papel das traduções do alemão, espanhol, francês, italiano e latim no sistema literário brasileiro (1970-2005), do Grupo de Pesquisa Literatura Traduzida” catalogou “apenas uma fração dos milhares de tradutores existentes no país”. Abra o endereço de consulta aqui e divirta-se.

“Tradução é uma atividade que exige exatidão, pois caso contrário o pensamento se perde. Por existirem teses que são traduções, há uma maior importância, pois a tradução que parte da pessoa que a quer interpretar é sempre melhor, é como se a pessoa afinasse o seu instrumento, sem citar que surgem descobertas de algumas soluções de tradução que em vez de ser uma proeza intelectual de alguém se torna uma produção coletiva, colaborando, também, para a formação de uma linguagem e bibliografia filosófica brasileira”. (Rubens Rodrigues Torres Filho)

Canto III Indiferentes

Miquel Barceló – Infierno. Canto III.

Vestíbulo: Indiferentes

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Literatura

Mario de Andrade – 80 anos de Macunaíma e da Missão de Pesquisa Folclórica

3 maio, 2008 | Por admin

“Long-Lost Trove of Music Connects Brazil to Its Roots” (clique aqui para o artigo original, em inglês)

Por Larry Rohter

A partir da metade dos anos 1930, o etnomusicólogo norte americano Alan Lomax liderou expedições para a região sudeste dos EUA (Carolina do Sul, Georgia, Alabama, Mississippi e Louisiana), procurando por autênticos cantores de blues e música folk. Graças a essa diligência, Muddy Water e Woody Guthrie fizeram suas primeiras gravações e estabeleceram um modelo para a musica popular norte americana.

No início de 1938, Mario de Andrade, secretário municipal de cultura de São Paulo na época, enviou para o nordeste brasileiro quatro membros da Missão de Pesquisa Folclórica numa expedição semelhante. Seu intuito era gravar o mais rápido possível a maior quantidade de música que conseguisse antes que as influências prejudiciais do rádio e do cinema começassem a transformar a cultura da região.

Viajando ora de caminhão, ora a cavalo e com burros, eles gravaram o que quer e quem quer que fosse interessante: carregadores de piano, vaqueiros, mendigos, macumbeiros, trabalhadores das minas, pescadores, dançarinos e até crianças brincando.

Entretanto, o material coletado pela expedição brasileira foi logo esquecido. Somente agora, após aproximadamente 70 anos, os registros aos quais Mario de Andrade se referia como “tesouro extraordinário condenado ao desaparecimento” estão disponíveis, incorporados numa caixa de seis CDs que documentam as raízes de praticamente todos os estilos de música popular brasileira importantes, do samba ao mangue beat.

“Este é um acontecimento importante pois todas as principais tendências, seja de origem européia, afriacana ou indígena, estão representadas e são reconheciveis”, disse Marcos Branda Lacerda, o diretor do projeto da caixa de CDs, organizado pelo governo da mais importante e próspera cidade brasileira. “Tudo foi incluido, e quando ouvi-lo, você poderá perceber as influências que iriam propagar-se dali em diante” e fazer da música brasileira a potência global que representa hoje.

A coletânea de CDs, chamada “Música Tradicional do Norte e Nordeste 1938“, é formada por mais de sete horas de música, extraidas de 1299 faixas de 80 artistas, totalizando aproximadamente 34 horas, que a comissão gravou em cinco estados do norte e nordeste brasileiros durante a primeira metade de 1938.

Muitos dos estilos documentados nas gravações evidemciaram-se como influências do movimento do Tropicalismo, que emergiu no Brasil nos anos 1960 e hoje em dia possui entusiastas internacionais como David Byrne, Beck e Devendra Benhart. Os fundadores do Tropicalismo, principalmente Caetano Veloso, Tom Zé e Gilberto Gil – atual ministro da cultura – vieram do nordeste, do interior do estado da Bahia e reconhecem abertamente esta influência.

“Esta é a música que eu ouvia quando criança na loja de meu pai, e é de onde toda a riqueza e força da música popular brasileira vem”, declarou Tom Zé numa entrevista. “Filhos de portugueses, Caetano e Gil e todo o resto dos tropicalistas absorveram essa influência popular, transmutaram-na e mostraram-na ao mundo”.

Tom Zé também notou que a música do nordeste brasileiro que veio de Portugal era já um resultado de miscigenação cultural, especialmente da dominação árabe do território portugues durante a Idade Média. As letras de algumas canções da compilação datam de antes das histórias de trovadores daquela época, mas a presença árabe manifestou-se principalmente no estilo de voz caracterizado pela predileção por modulações vocais (bend notes).

“Esta influência ainda permanece na musica popular brasileira de hoje em dia”, ele disse. “Eu a ouço de maneira clara e bonita quando Caetano canto. Ele desenvolveu um jeito sofisticado e inventivo de usar estas modulações que era comuns nos cantores que costumávamos ouvir nos sertões nordestinos.”

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Artes Plásticas

Pintura e Samba – A arte de Helio Oiticica

25 abril, 2008 | Por admin

O múseu britânico Tate Modern possui uma seleção mensal de vídeos curtos a respeito da arte moderna e contemporânea. A edição número 6 contou com uma matéria sobre o artista plástico brasileiro Helio Oiticica e seu trabalho “Parangolés”.

A matéria diz:

“Esta performance recria o trabalho inovador do artista brasileiro helio oiticica. frustrado com as limitações da pintura, oiticica dedicou-se a achar meios nos quais a pintura pudesse ser tirada das paredes das galerias e saíssem para o espaço tridimensional. um dos resultados foi seu “parangolés” da metade dos anos 1960. literalmente uma pintura habitável, eles foram desenhados para serem vestidos durante uma dança no ritmo de samba. Esta idéia surgiu de seu envolvimento com as pessoas do morro da mangueira, uma favela carioca, e a famosa escola de samba da mangueira. o sobrinho do artista, césar oiticica filho, prossegue com a história.”

Para assistir ao vídeo da matéria, clique aqui. Abaixo, a tradução dos comentários do sobrinho do artista. Clique aqui para a versão PDF.

PARANGOLÉS

César Oiticica Filho:

Helio Oiticica foi um artista Brasileiro que começou a pintar nos anos 50. Ele então tomou as cores das pinturas nas paredes das galerias e museus e trouxe para este espaço, através do Parangolés. Parangolés é um trabalho que você pode vestir, mais conhecido pelas capas, pois as capas que as pessoas vestem para dançar, para a performance e é um trabalho que funciona muito bem com o corpo.

O que você verá aqui é o modo como ele trouxe essas cores dos objetos para a vida das pessoa. Em 1964 Helio foi para a Mangueira, que é uma favela na cidade do Rio de Janeiro e ele começou a dançar samba com os dançarinos que eram apenas os negros naquela época. E então ele levou esta experiência para seu trabalho e com o Parangolés ele convidou estes dançarinos para vestirem as capas e dançarem com elas num grande museu, numa exposição. Entretanto a entrada deles não foi permetida e eles ficaram do lado de fora dançando com a bateria e todo o pessoal da Mangueira. A vida era bem chocante naquela época.

Aqui em Londres temos a Escola de Samba, a Escola de Samba de Londres. Há dançarinos daqui e eu acho isso muito bom. É incrível e pessoas normais que querem participar desta exibição, deste evento, têm sido convidadas a participar. Quando as pessoas executam Parangolés elas estão movendo as cores. Eu acho que a lição mais significativa do Parangolés é o espírito de liberdade pois quando você começa a brincar você transforma-se numa espécie de criança e então começa a descobrir a liberdade da alma através deste trabalho, o que é incrível.

Data: 31 Julho 2007

A Edusp possui um livro de Celso Favaretto que reconstrói a trajetória de Helio Oiticica. Clique aqui para acessar o livro na livraria 30PorCento. O preço especial é de R$ 58,00 por R$ 40,60.

Ornamento de Divisão

“A Cia. Teatro e Dança Mariana Muniz apresenta na Galeria Olido, entre os dias 26 e 29 de junho de 2008, o supracitado Parangolés.  Os figurinos atuam em conjunto com um objeto síntese, no caso um bambu, que cada bailarino carrega consigo durante a dança. A relação das roupas com esse objeto estrutura a idéia das cores e espaço presentes no trabalho do artista plástico. “A utilização desses elementos em cena simbolizam a idéia de que no espetáculo o corpo é a obra”, explica a bailarina e diretora Mariana Muniz. Para o produtor José Renato Almeida, um dos principais objetivos do trabalho é promover uma interação com a platéia. “Como na obra de Oiticica, o público deixa de ser apenas um espectador, tornando-se parte integrante da obra”, afirma. Com músicas que misturam samba, timbres e batidas, a trilha sonora original foi composta por Celso Nascimento e Ricardo Severo.” (fonte: Portal da Prefeitura da Cidade de São Paulo)

Galeria Olido – Sala Paissandu. Av. São João, 473 – Centro. De 26 a 29. 5ª a sáb., 20h. Dom., 19h. Grátis

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tradução

Tradução: Carta Aberta a uma vítima da propaganda falaciosa de Ben Stein

23 abril, 2008 | Por admin

Há pouco mais de 1 semana estreiou nos Estados Unidos um polêmico filme de viés propagandista entitulado “Expelled: No Intelligence Allowed” (Expulso: Inteligência Não Permitida”). O diretor é Nathan Frankowski – estreante na direção – e o filme conta com a atuação e roteiro de um notório defensor do movimento do Design Inteligente – se você ainda não sabe do que se trata, clique aqui. Em meio às inúmeras polêmicas que o filme suscita, algumas entrevistas com renomados cientistas evolucionistas como Michael Shermer, editor da revista Cético e Richard Dawkins, da Universidade de Oxford, geraram controvérsias que culminaram na carta traduzida neste presente artigo.

O autor da carta foi o supracitado Richard Dawkins, em resposta à uma carta enviada a seu colega Michael Shermer com o seguinte trecho:

Agora eu realmente compreendo quem vocês, ateistas e darwinistas, são! Vocês acreditam que não houve problema algum em meus bisavôs morrerem no Holocausto! Quão desprezível. Seu artigo passado sobre o Holocausto foi somente uma fachada. Nós judeus lutaremos para manter pessoas como você fora dos Estados Unidos!

Michael Shermer respondeu as acusações perguntando se ele havia ao menos assistido ao filme. Uma nova resposta chegou:

Sim eu vi. Você sabe, eu respeito você como ser humano e você fez um ótimo trabalho desmascarando paranormais e impostores, mas este é um problema muito delicado que afeta a mim e a minha família emocionalmente. Os negócios de nossa família foram afetados por Auschwitz e por isso nossa família não possui mais nada. Tudo se foi. As coisas começaram a fazer sentido assim que eu assisti o filme e agora eu estou chocado. Aprendi muito com Ben Stein, um irmão judeu, que abriu meus olhos.

Richard Dawkins tomou conhecimento destes acontecimentos de bastidores e resolveu endereçar a seguinte carta a este enfurecido indivíduo (clique aqui para ler a carta em PDF):

Caro Sr. J,

Michael Shermer repassou-me uma carta sua na qual há indícios de que você foi lamentavelmente enganado pelas sugestões falaciosas e/ou ignorantes de Ben Stein de que Darwin é, de alguma maneira, responsável por Hitler. Eu espero que você não se importe se eu escrever-lhe tentando desfazer este grave erro.

1. Eu simpatizo profundamente com você pelas perdas de seus parentes no Holocausto. Entretanto, eu não acho que isso possa ser dito para justificar o tom da sua carta para Michael Shermer, que é um homem decente, como você mesmo pareceu confessar em sua segunda carta a ele, e a antítese de um simpatizante nazista.

Agora eu realmente compreendo quem vocês, ateistas e darwinistas, são! Vocês acreditam que não houve problema algum em meus bisavôs morrerem no Holocausto! Quão desprezível. Seu artigo passado sobre o Holocausto foi somente uma fachada. Nós judeus lutaremos para manter pessoas como você fora dos Estados Unidos!

Repare nas suas palavras. Provavelmente você arrepende-se delas agora. Eu certamente espero que sim, mas continuarei a escrever minha carta para você, presumindo que você ainda sente ao menus um pouco do que escreveu.

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