Arquivo da tag: tradução

Literatura

Narrativa profunda, poética densa

7 agosto, 2014 | Por Isabela Gaglianone

“Sim, claro, se amanhã fizer bom tempo.”

Fotografia de Jean Guichard

Ao farol, de Virginia Woolf, é uma transcriação artística das experiências vividas pela escritora na casa de praia de sua família, na baía St. Ives, na Cornualha, Inglaterra, de onde ela podia avistar o farol da ilha de Godrevy. No romance, através das personagens Sr. e Sra. Ramsay, ela problematiza, desloca e formula sua relação com seu pai, Leslie Stephen, um “espartano, ascético, puritano”, e com sua amada e belíssima mãe, Julia Stephen que morreu quando Virginia Woolf tinha apenas treze anos – tragédia pessoal que desencadeou então o primeiro dos colapsos nervosos que atormentariam a escritora ao longo de toda sua vida. A própria Virginia ganha vida no livro como a pintora Lily Briscoe, que passa as férias de verão na Ilha de Skye, na Escócia, ao invés de St Ives. Sua memória, porém, é apenas a matéria bruta, que a autora esculpe para dar forma a este magnífico romance.

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matraca

Um estudo da tradução é um estudo da linguagem

1 julho, 2014 | Por Isabela Gaglianone

“Deveria uma boa tradução amoldar sua língua em direção daquela do original, criando assim uma aura deliberada de estranhamento, de opacidade periférica? Ou deveria naturalizar o caráter da importação linguística de modo a torná-la familiar na língua do tradutor e de seus leitores?”

“A torre de Babel”, Pieter Brueghel, 1563.

Publicado pela primeira vez em 1975, Depois de Babel mantém sua relevância intacta. Uma das mais importantes obras de George Steiner, marcada pelo manejo preciso da erudição que marca sua produção, discute, a partir dos problemas levantados por questões da tradução, a linguagem humana e o fenômeno literário de maneira geral. Um livro cuja contribuição atinge não apenas estudiosos da tradução, mas todos os que se interessam por literatura, linguística e filosofia, do qual pode-se dizer que é uma das grandes obras de nosso tempo.

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Literatura

Tradução é criação

20 janeiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Haroldo de Campos, foto: Eder Chiodetto

O livro Transcriação reúne escritos esparsos de Haroldo de Campos, publicados nos seus livros de ensaios e em suas traduções de poesia. A antologia cobre o âmago da poética da tradução desenvolvida por Haroldo de Campos. Organizado por Marcelo Tápia e Thelma Médici Nóbrega, o livro conta com dezesseis ensaios, publicados entre 1963 e 1997. A extensão temporal dos ensaios permite o acompanhamento do desenvolvimento da teoria de Haroldo de Campos da abolição da hierarquia entre criação e tradução poéticas. Apenas dois dos ensaios já integravam outras obras e foram incluídos para a manutenção da coesão do livro, que também conta com uma introdução elucidativa de Marcelo Tápia.

A reunião dos ensaios dimensiona a amplitude da busca pela existência sincrônica da obra como criativa e tradutória. Configura-se, assim, como cerne da discussão sobre recriação poética, atividade denominada por Haroldo de Campos transcriação: uma fonte indispensável e inesgotável de descoberta e diálogo fértil no trânsito entre línguas, linguagens, tempos e espaços.

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lançamentos

Catálogo argentino da Editora Cosac Naify

23 fevereiro, 2011 | Por admin

Se não me equivoco – me falta a paciência jornalística para confirmar com exatidão os números -, Museu do Romance da Eterna, do argentino Macedonio Fernández (1874-1952), é a 10ª tradução publicada pela editora Cosac Naify de escritores argentinos.

Já publicaram 4 obras de Adolfo Bioy Casares (1914–1999), reconhecido como um dos grandes escritores argentinos da geração de Borges e Cortázar, esses publicados pela Companhia das Letras e Civilização Brasileira, respectivamente;

Alan Pauls (1959) foi traduzido duas vezes com O Passado e História do Pranto;

Domingo Faustino Sarmiento (1811–1888), “el primer escritor moderno de nuestra literatura”, segundo David Viñas, teve publicada sua obra-prima Facundo, ou civilização e barbárie em meados de 2010;

De Beatriz Sarlo (1942), a única mulher do levantamento, traduziram seu ensaio Modernidade periférica, que explora a modernização de Buenos Aires nas décadas de 1920 e 1930 e seus impactos culturais;

Aníbal Cristobo, nascido em 1971, publicou o volume de poemas Miniaturas kinéticas: reunião de três livros, Teste da iguana (1997), Jet-lag (que saiu pela coleção Moby Dick, em 2002) e Krill (que primeiro saiu na Argentina, pela Tse-Tsé, em 2002), que foram escritos tanto em português quanto em espanhol.

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lançamentos

João Ubaldo e a autotradução

17 agosto, 2009 | Por admin

O autor-tradutor ou a composição-tradução, enfim, o tradução do próprio autor de sua obra é o tema deste livro: O respeito pelo original – João Ubaldo Ribeiro e a autotradução. Maria Alice Gonçalves Antunes, professora da UERJ, redigiu o capítulo introdutório dedicado à considerações teóricas e metodológicas, somos apresentados aos conceitos de autor-modelo e leitor-modelo de Umberto Eco:

“O autor-modelo é uma voz que fala afetuosamente (imperiosamente ou enganosamente) conosco, que nos quer ao seu lado, e essa voz se manifesta como estratégia narrativa, como conjunto de instruções que nos dão distribuídas a cada passo, e às quais devemos obedecer quando decidimos comportar-nos como leitor-modelo” (Seis passeios pelos bosques da ficção, Companhia das Letras, 2006, p. 18-19)

Após este capítulo-prefácio, a autora dedica o segundo capítulo para conceituar a autotradução. Distribui pelo texto 4 subcapítulos: “Autotradução: conceituação”, “Breve histórico: a autotradução e as pesquisas sobre o tema”, “A autotradução na academia” e “Autotradução e autotradutores: motivações e questões teóricas”. E depois, no último capítulo, entra no estudo propriamente dito do caso sobre João Ubaldo Ribeiro onde estabelece uma análise comparativa de originais e suas respectivas traduções.

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lançamentos

O Pensamento Clássico Traduzido

5 agosto, 2009 | Por admin

Na última semana duas editoras univesitárias – Unesp e Unicamp – publicaram traduções de obras pilares do pensamento clássico. Os livros I e II da Física, de Aristóteles e a tradução feita a partir do grego de Os Elementos, de Euclides.

Lucas Angioni, professor de História da Filosofia Antiga da Unicamp, é o responsável pela tradução e pelos comentários presentes n’A Física I e II de Aristóteles. Ele é autor também de outros dois livros que foram publicados pela Editora da Unicamp, são eles As noções aristotélicas de substância e essência – o livro VII da Metafísica de Aristóteles e Introdução à Teoria da Predicação em Aristóteles.

 

A bela tradução dos 13 livros que compõe a obra Os Elementos foi realizada por Irineu Bicudo, diretor do Departamento de Matemática da Unesp de Rio Claro. O livro divide-se em 4 seções: os seis primeiros livros dão conta da geometria plana; os três seguintes, da teoria dos números; o livro X, o mais complexo, estuda uma classificação de incomensuráveis/irracionais; e os três últimos abordam a geometria no espaço/estereometria.

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Literatura

Tradução do Francês é nova categoria do Jabuti

14 fevereiro, 2009 | Por admin

Foi publicado na Folha de São Paulo de hoje, 14 de fevereiro de 2009, a notícia da criação de uma nova categoria no tradicional prêmio literário Jabuti voltada para as traduções do Francês.

“A Câmara Brasileira do Livro decidiu incluir a categoria tradução de obras de ficção do francês para o português no tradicional Prêmio Jabuti, como homenagem à língua francesa no Ano da França no Brasil. Com a inclusão, a premiação contemplará 21 categorias no total. As inscrições para o prêmio, de obras publicadas no ano passado, vão de março a maio. Em setembro, serão escolhidos os três primeiros colocados de cada categoria, e, em novembro, serão anunciados o livro do ano de ficção e de não-ficção.”

A notícia é boa, na minha humilde opinião. Enquanto observamos a estreiteza norte-americana que possui sua vida literária voltada única e exclusivamente para o que é produzido dentro de seu território, temos um exemplo brasileiro bastante profícuo.

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Dicionário de tradutores literários do Brasil

9 maio, 2008 | Por admin

Eis uma iniciativa muito interessante do Núcleo de Pesquisas em Literatura e Tradução da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que é um mapa dos tradutores literários no Brasil batizado como Ditra – Dicionário de tradutores literários do Brasil (clique aqui para ir direto à página oficial do dicionário). A partir de uma base extensa que é o Index Translationum, uma compilação da UNESCO da bibliografia internacional de traduções, criada em 1932, uma equipe de professores e alunos do “projeto integrado Tradução, Tradição e Inovação: o papel das traduções do alemão, espanhol, francês, italiano e latim no sistema literário brasileiro (1970-2005), do Grupo de Pesquisa Literatura Traduzida” catalogou “apenas uma fração dos milhares de tradutores existentes no país”. Abra o endereço de consulta aqui e divirta-se.

“Tradução é uma atividade que exige exatidão, pois caso contrário o pensamento se perde. Por existirem teses que são traduções, há uma maior importância, pois a tradução que parte da pessoa que a quer interpretar é sempre melhor, é como se a pessoa afinasse o seu instrumento, sem citar que surgem descobertas de algumas soluções de tradução que em vez de ser uma proeza intelectual de alguém se torna uma produção coletiva, colaborando, também, para a formação de uma linguagem e bibliografia filosófica brasileira”. (Rubens Rodrigues Torres Filho)

Canto III Indiferentes

Miquel Barceló – Infierno. Canto III.

Vestíbulo: Indiferentes

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Tradução: Carta Aberta a uma vítima da propaganda falaciosa de Ben Stein

23 abril, 2008 | Por admin

Há pouco mais de 1 semana estreiou nos Estados Unidos um polêmico filme de viés propagandista entitulado “Expelled: No Intelligence Allowed” (Expulso: Inteligência Não Permitida”). O diretor é Nathan Frankowski – estreante na direção – e o filme conta com a atuação e roteiro de um notório defensor do movimento do Design Inteligente – se você ainda não sabe do que se trata, clique aqui. Em meio às inúmeras polêmicas que o filme suscita, algumas entrevistas com renomados cientistas evolucionistas como Michael Shermer, editor da revista Cético e Richard Dawkins, da Universidade de Oxford, geraram controvérsias que culminaram na carta traduzida neste presente artigo.

O autor da carta foi o supracitado Richard Dawkins, em resposta à uma carta enviada a seu colega Michael Shermer com o seguinte trecho:

Agora eu realmente compreendo quem vocês, ateistas e darwinistas, são! Vocês acreditam que não houve problema algum em meus bisavôs morrerem no Holocausto! Quão desprezível. Seu artigo passado sobre o Holocausto foi somente uma fachada. Nós judeus lutaremos para manter pessoas como você fora dos Estados Unidos!

Michael Shermer respondeu as acusações perguntando se ele havia ao menos assistido ao filme. Uma nova resposta chegou:

Sim eu vi. Você sabe, eu respeito você como ser humano e você fez um ótimo trabalho desmascarando paranormais e impostores, mas este é um problema muito delicado que afeta a mim e a minha família emocionalmente. Os negócios de nossa família foram afetados por Auschwitz e por isso nossa família não possui mais nada. Tudo se foi. As coisas começaram a fazer sentido assim que eu assisti o filme e agora eu estou chocado. Aprendi muito com Ben Stein, um irmão judeu, que abriu meus olhos.

Richard Dawkins tomou conhecimento destes acontecimentos de bastidores e resolveu endereçar a seguinte carta a este enfurecido indivíduo (clique aqui para ler a carta em PDF):

Caro Sr. J,

Michael Shermer repassou-me uma carta sua na qual há indícios de que você foi lamentavelmente enganado pelas sugestões falaciosas e/ou ignorantes de Ben Stein de que Darwin é, de alguma maneira, responsável por Hitler. Eu espero que você não se importe se eu escrever-lhe tentando desfazer este grave erro.

1. Eu simpatizo profundamente com você pelas perdas de seus parentes no Holocausto. Entretanto, eu não acho que isso possa ser dito para justificar o tom da sua carta para Michael Shermer, que é um homem decente, como você mesmo pareceu confessar em sua segunda carta a ele, e a antítese de um simpatizante nazista.

Agora eu realmente compreendo quem vocês, ateistas e darwinistas, são! Vocês acreditam que não houve problema algum em meus bisavôs morrerem no Holocausto! Quão desprezível. Seu artigo passado sobre o Holocausto foi somente uma fachada. Nós judeus lutaremos para manter pessoas como você fora dos Estados Unidos!

Repare nas suas palavras. Provavelmente você arrepende-se delas agora. Eu certamente espero que sim, mas continuarei a escrever minha carta para você, presumindo que você ainda sente ao menus um pouco do que escreveu.

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Literatura

Paulo Rónai

18 dezembro, 2007 | Por admin

PAULO RÓNAI é tradutor, filólogo e ensaísta. Ou melhor, era. O centenário de nascimento do húngaro Paulo Rónai, falecido em 1992, foi lembrado na Universidade de São Paulo semana passada com uma mesa redonda comemorativa. Rónai formou-se em Literatura e Línguas Latina e Neolatina e chegou a especializar-se em literatura francesa ao defender uma tese sobre Balzac, 1m 1930. Entrou em contato com a língua portuguesa quando ainda estudava na universidade francesa Sourbonne, e sentiu a impressão de que a línguar era “um latim falado por crianças ou velhos, de qualquer maneira gente que não tivesse dentes. Se os tivesse, como haveria perdido tantas consoantes?” (fonte: Instituto Moreira Salles).

De Rónai, a 30PorCento conta com duas traduções. A primeira, da editora Cosac Naify, é um premiado juvenil chamado Os Meninos da Rua Paulo, do húngaro Ferenc Molnár, escrito em 1907. O livro foi adaptado ao cinema por Zoltán Fábri – o link é para a versão em VHS na Amazon, foi a única que achei – e recebeu uma indicação para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1969. O preço na 30PorCento é de R$ 31.00 Por R$ 21.70. A segunda tradução é da Edusp; Contos Húngaros, da coleção Criação e Crítica. Este volume é uma continuação dos contos magiares reunidos na Antologia do conto húngaro, publicado em 1957, com prefácio de seu amigo João Guimarães Rosa. Infelizmente, o livro da Edusp está esgotado.

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Últimas

Martin Claret…já ouvi falar de algumas péssimas traduções, mas cópias; assim já é demais!

5 novembro, 2007 | Por admin

Vejam abaixo a notícia sobre as traduções plagiadas da editora Martin Claret:

Editora plagiou traduções de clássicos

Editora Martin Claret publicou “Os Irmãos Karamazov” e “A República”, entre outros, com cópias de traduções alheias

Com cerca de 500 livros de bolso no catálogo, empresa fundada na década de 70 negocia venda de 75% de suas ações para a Objetiva

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Em negociação para ter 75% de suas ações compradas pela Objetiva, braço brasileiro do poderoso grupo espanhol Santillana/Prisa, a Martin Claret é uma editora que já plagiou traduções. Os nomes dos verdadeiros tradutores foram omitidos e seus direitos, violados.

Criada nos anos 70, em São Paulo, pelo gaúcho Martin Claret, a empresa tem em seu catálogo cerca de 500 títulos de domínio público (de escritores mortos há mais de 70 anos) publicados em formato de bolso (preços de R$ 10,50 a R$ 18,90). Quatro casos de plágio estão confirmados: edições de “Os Irmãos Karamazov”, “A República”, “As Flores do Mal” e de três novelas de Franz Kafka reunidas num único volume-“A Metamorfose”, “Um Artista da Fome” e “Carta a Meu Pai”.

Lançada em 2003, a edição de “Os Irmãos Karamazov”, de Fiodor Dostoievski (1821-1881), tem como tradutor um certo Alexandre Boris Popov, que não consta entre os poucos nomes que costumam passar obras do russo para o português. Na verdade, é cópia da tradução concluída em 1944 por Boris Schnaiderman para a extinta editora Vecchi.
As versões são praticamente idênticas. Apenas algumas expressões foram trocadas pela Martin Claret, como “muito encontradiço” por “bastante freqüente” na primeira página. Schnaiderman, um dos maiores especialistas em literatura russa do país, assinou o trabalho com o pseudônimo de Boris Solomonov e o renega.

“Eu era muito novo, precisava de dinheiro e cometi uma leviandade. Fiz o que podia na ocasião, mas minhas condições eram limitadas”, diz ele, que, aos 90 anos, não pensa em processar a Martin Claret. “Na minha idade, quanto menos complicação, melhor”, justifica.

Ele foi alertado do plágio pela editora 34, que pretendia lançar sua tradução, mas, diante da recusa, encomendou uma a Paulo Bezerra para 2008.

Coincidência impossível

“A República”, de Platão (428/27 a.C. – 347 a.C.), saiu neste ano pela Martin Claret com tradução assinada por Pietro Nassetti. O repórter Euler de França Belém mostrou na edição de 14 de outubro do jornal “Opção”, de Goiânia, que o texto é uma “adaptação” -com mudanças de palavras para ficar mais “acessível”- da tradução de Maria Helena da Rocha Pereira, uma das maiores especialistas portuguesas em Grécia Antiga.

A Folha confrontou os dois livros e comprovou que as diferenças são insignificantes, coincidência impossível no caso de uma tradução tão complexa. O livro da Fundação Calouste Gulbenkian foi lançado em Portugal em 1972 e está na 10ª edição. Procurada, a fundação não comentou o assunto.

No caso de “As Flores do Mal”, outro lançamento de 2007 assinado por Nassetti, foi o poeta e tradutor Ivo Barroso quem apontou o plágio num artigo na revista virtual “Agulha”. A edição copiada é de 1958, da série Clássicos Garnier, da Difusão Européia do Livro, com os versos de Charles Baudelaire (1821-1867) traduzidos pelo poeta paulista Jamil Almansur Haddad (1914-1988).

“É impossível haver identidade absoluta entre todos os versos de um poema. O máximo são dois versos iguais. Mas as únicas mudanças feitas foram de palavras difíceis por outras de mais fácil compreensão, e ainda alterando a métrica e a rima”, explica Barroso, tradutor da poesia completa de Rimbaud. Herdeiros de Haddad não foram encontrados pela Folha.

Tradução 24 horas?

Em 2000, respondendo a uma intimação judicial da Companhia das Letras, a Martin Claret reconheceu ter usado uma parte das traduções de Modesto Carone para três novelas de Kafka (1883-1924): “A Metamorfose”, “Um Artista da Fome” e “Carta a Meu Pai”.

Indenizou Carone e retirou de circulação o livro, que tinha como tradutores Nassetti e Torrieri Guimarães.

A nova edição, de 2007, é assinada só por Guimarães, um jornalista de 74 anos que fez várias traduções de Kafka para a editora Hemus e de outros autores para a Martin Claret.

Um caso menos grave é o da editora Hedra, que reconheceu notas de sua versão de “Metamorfoses”, de Ovídio, nas da Martin Claret.

Como a tradução e a maioria das notas são do poeta português Bocage (1765-1805), que já está em domínio público, descartou-se medida judicial.
Suspeita-se que muitos outros livros da Martin Claret usem traduções plagiadas, já que poucos e desconhecidos nomes -como Alex Marins e Jean Melville- assinam um arco eclético de títulos.

Pietro Nassetti teria traduzido Shakespeare, Maquiavel, Descartes, Rousseau, Voltaire, Schopenhauer, Balzac, Poe e outros.

“Se esse cara trabalhasse 24 horas por dia durante 60 anos, não traduziria nem a décima parte disso”, afirma o especialista Ivo Barroso.
Segundo o artigo 184 do Código Penal, os plagiadores estão sujeitos a detenção de três meses a um ano. Na área cível, podem arcar com danos morais e materiais”

É muita indignidade……




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