Arquivo da tag: literatura argentina

Resenhas

A invenção de Morel

11 julho, 2017 | Por Isabela Gaglianone

“Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada”
– Fernando Pessoa

gravura de Norman Ackroyd, “Island Connemara”

A invenção de Morel, de Adolfo Bioy Casares, não é por exagero descrita por Jorge Luis Borges como perfeita. Vertiginoso labirinto metafísico, sua narrativa acompanha o movimento filosófico que a desdobra em representações e reflexões sobre a realidade, distópica e satírica.

Conhecemos-na através do relato em primeira pessoa de um narrador que conta ser um foragido da lei e, por isso, ter-se refugiado em uma ilha, inabitada e desconhecida. O motivo do relato é apresentado logo em suas primeiras linhas, o narrador escreve impulsionado pela necessidade de dar testemunho de um “milagre”: o verão antecipara-se e pessoas repentinamente apareceram naquela ilha, que habitava então há cem dias e onde nunca vira homem algum. Ao avistar os misteriosos visitantes, que vê dançando alegremente em meio ao capinzal cheio de cobras, apavorado, conta ter fugido para os cantos mais recônditos da ilha, de onde então escreve, em meio a pântanos e plantas aquáticas, atazanado por mosquitos, aterrorizado com seu futuro incerto. Anuncia que, caso sobreviva, escreverá uma “Defesa dos sobreviventes” e um “Elogio a Malthus”: “Atacarei, nessas páginas, os exploradores das florestas e dos desertos; provarei que o mundo,  com o aperfeiçoamento das polícias, dos documentos, do jornalismo, da radiotelefonia, das alfândegas, torna irreparável qualquer erro da justiça, é um inferno unânime para os perseguidos. Até agora não consegui escrever nada além desta folha que ontem não previa. São tantas as tarefas na ilha deserta! É tão insuperável a dureza da madeira! Tão mais vasto o espaço que o pássaro movediço!”

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Prosa precisa

6 agosto, 2015 | Por Isabela Gaglianone

Odilon Redon

O vento que arrasa, da argentina Selva Almada, vem sendo aclamado como a última grande revelação literária da América Latina.

O romance é ambientado no Chaco argentino e transcorre-se ao longo de somente um dia e meio na vida de Leni, uma moça de dezesseis anos, e de seu pai, um pastor que vive a percorrer o país em busca de sinais de Deus. Com problemas no carro, eles fazem uma parada na oficina mecânica do Gringo, onde conhecem o jovem Tapioca, rapaz que o pastor vê como uma alma iluminada e a quem, por isso, quer levar consigo na peregrinação.

Com tradução de Samuel Titan Jr., o livro acaba de ser lançado no Brasil pela CosacNaify. O volume conta com quarta capa de Beatriz Sarlo, para quem Selva Almada destaca-se no mapa da ficção por ser, não literatura urbana, nem sobre jovens, nem sobre marginais, mas uma literatura de província, regional frente às culturas globais, mas não uma literatura de costumes – ao contrário da literatura urbana que, diz Sarlo, tantas vezes é literatura de costumes sem ser regional.  Continue lendo

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Literatura

Prosa alegórica

28 abril, 2015 | Por Isabela Gaglianone
desenho de Degas.

esboços de Degas.

Nos pampas, em meio ao calor sufocante de fevereiro, sob a latente pressão do regime militar, um acontecimento inusitado desperta a narrativa: vários cavalos são assassinados, sem motivos aparentes ou explicações plausíveis, os corpos dos animais são encontrados, vítimas impotentes de tiros à queima-roupa.

Em Ninguém nada nunca, o argentino Juan José Saer narra de maneira oblíqua, reconhecível, mas não realista. Traça uma reflexão literária contundente sobre o mal-estar do homem no mundo, que perpassa a tensão e o mistério dos enigmáticos, e sobretudo alegóricos, abates dos cavalos.

Numa tradução inventiva do real, avessa à pura representatividade, a prosa de Saer aumenta a perceptividade simbólica do mundo e conserva no vazio as incompreensões milenares, irradiando-as, porém, ao infinito.  Continue lendo

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Literatura

Sons de água

23 março, 2015 | Por Isabela Gaglianone

“São eles próprios mundo, realidade, destinados a segregar, em cada um de seus atos, mais mundo, mais realidade, são, mais ainda, o próprio presente, que à medida que se desloca vai criando mais presente, e ao mesmo tempo, sem perceber, afundando-nos no passado”.

Evandro Carlos Jardim

Evandro Carlos Jardim

Quando faleceu, em junho de 2005, vítima de um câncer de pulmão, o argentino Juan José Saer terminava de escrever os últimos capítulos de sua novela mais extensa, O grande. Nem por isso o romance é considerado inacabado. Composta por sete capítulos, cada qual correspondente a um dia da semana, a narrativa começa numa terça-feira e acaba na segunda-feira posterior à esperada grande reunião de domingo. O último capítulo, interrompido pela morte do autor, é um arremate para os encadeamentos de indagações de longo fôlego do encontro de seu dia anterior: a frase que o inicia e o conclui, retumba significados de um tema recorrente neste grande escritor – a poesia do tempo que passa, que dá o ritmo próprio à sua literatura: “Com a chuva chegou o outono e, com o outono, o tempo do vinho”.

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Literatura

Abomino a verdade da vida, a cópia da vida

10 outubro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Odilon Redon

Segundo Macedonio Fernández, não há dúvidas de que as coisas não começam. Ao menos, não começam quando são inventadas: o mundo foi inventado antigo. O fabuloso Museu do Romance da Eterna parte desta ideia como premissa.

No Brasil, o livro foi lançado em 2011. Fora publicado na Argentina em 1967, apenas após quinze anos da morte do autor. Desprestígio literário de compreensão inconcebível: Borges o chamava “meu mestre” e a prosa argentina do século XX, como um todo, teve na originalidade de Macedonio Fernández, sua maior referência.

O romance começou a ser escrito em 1904 – Macedonio tinha então trinta anos de idade – e continuou até o final da vida do autor, em 1952. A narrativa desenrola-se a partir de uma série de prólogos, precedentes a uma história que parece nunca chegar: trata-se da história de um homem que, ao ficar viúvo, decide deixar a cidade e refugiar-se no campo, em uma estância de nome “O Romance”.

O inacabado, nesta obra inclassificável, é a chave que abre a literatura à modernidade.

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Catálogo argentino da Editora Cosac Naify

23 fevereiro, 2011 | Por admin

Se não me equivoco – me falta a paciência jornalística para confirmar com exatidão os números -, Museu do Romance da Eterna, do argentino Macedonio Fernández (1874-1952), é a 10ª tradução publicada pela editora Cosac Naify de escritores argentinos.

Já publicaram 4 obras de Adolfo Bioy Casares (1914–1999), reconhecido como um dos grandes escritores argentinos da geração de Borges e Cortázar, esses publicados pela Companhia das Letras e Civilização Brasileira, respectivamente;

Alan Pauls (1959) foi traduzido duas vezes com O Passado e História do Pranto;

Domingo Faustino Sarmiento (1811–1888), “el primer escritor moderno de nuestra literatura”, segundo David Viñas, teve publicada sua obra-prima Facundo, ou civilização e barbárie em meados de 2010;

De Beatriz Sarlo (1942), a única mulher do levantamento, traduziram seu ensaio Modernidade periférica, que explora a modernização de Buenos Aires nas décadas de 1920 e 1930 e seus impactos culturais;

Aníbal Cristobo, nascido em 1971, publicou o volume de poemas Miniaturas kinéticas: reunião de três livros, Teste da iguana (1997), Jet-lag (que saiu pela coleção Moby Dick, em 2002) e Krill (que primeiro saiu na Argentina, pela Tse-Tsé, em 2002), que foram escritos tanto em português quanto em espanhol.

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Inéditos de Julio Cortázar

16 fevereiro, 2009 | Por admin

Foi publicado hoje, 15 de fevereiro de 2009, no Estadão, uma matéria sobre o lançamento de textos inéditos, para maio, do escritor argentino Julio Cortázar. O Luis Favre prestou a gentileza de publicar em seu blog a íntegra do artigo. Leia O baú das preciosidades de Julio Cortázar.

O mote do artigo, escrito por Luiz Zanin Oricchio, é o fato de que “a editora espanhola Alfaguara promete, para maio, um sólido volume de inéditos do autor, reunidos sob o título de Papeles Inesperados.”

O site oficial da Editorial Alfaguara adiantou que “o livro reúne 11 contos nunca antes publicados; 3 histórias de cronópios que haviam desaparecido; 1 capítulo inédito d’O Livro de Manuel; 11 episódios protagonizados por Lucas [do livro Um Tal Lucas]; 4 auto-entrevistas; 13 poemas inéditos; artigos sobre literatura, pintura, política, viajens; discursos; prólogos; e textos inclassificáveis, entre outras muitas páginas de inegável valor literário.”

Leia o texto completo, Julio Cortázar, veinticinco años después, no site da Alfaguara. O livro a ser publicado em maio chamar-se-á Papeles inesperados.

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Alan Pauls no Brasil para lançar seu novo livro pela Cosac Naify

2 setembro, 2008 | Por admin

O escritor argentino Alan Pauls desembarcou hoje no Brasil para divulgar seu novo livro “História do Pranto“. Os lançamentos ocorrerão hoje a noite no Rio de Janeiro e amanhã em São Paulo, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional às 19hrs. O autor já esteve no Brasil em 2007 para participar da FLIP (festa literária internacional de paraty) em um debate sobre seu primeiro livro publicado pela Cosac Naify “O Passado“, livro que ganhou destaque ao servir de roteiro para o filme homônimo do diretor brasileiro Hector Babenco. O lançamento no Conjunto Nacional contará com a presença da jornalista Sylvia Colombo, que entrevistará Alan Pauls.

Alan Pauls no Brasil para lançar seu novo livro pela Cosac Naify

Alan Pauls na Livraria 30PorCento.

O Passado.

História do Pranto.

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Lançamento CosacNaify – História do Pranto de Alan Pauls

5 agosto, 2008 | Por admin

Acaba de sair pela Cosac Naify o segundo livro publicado pela editora do escritor argentino Alan Pauls. Recorde de vendas da editora, o primeiro livro do autor, O Passado, fez sucesso no cinema com a adaptação do brasileiro Hector Babenco e o ator Gael Garcia Bernal.

História do Pranto - Alan Pauls

O release no site da editora diz que “o livro mescla de modo original o romance psicológico e a novela política. Alan Pauls usa o testemunho vertiginoso de um garoto que acreditava ser o Super-Homem para recuperar a história da esquerda argentina dos anos 70.”

Para comprar na Livraria 30PorCento – de 29 por 20,30 reais – clique aqui.

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Especial cosacnaify: O Passado em filme e livro + uma sacola de pano

1 junho, 2008 | Por admin

A editora Cosac Naify lançou uma sacola para os livros de O Passado. São duas versões: a primeira é o romance escrito por Alan Pauls que serviu de base para o filme de Hector Babenco. A segunda é o making of do filme, assinado pelo próprio Babenco. A sacola não é novidade na editora. Há alguns meses foi lançado uma bela sacola com 7 volumes da coleção escritoras modernistas, descrita aqui neste blog. A 30PorCento, como sempre, passa a comercializar esta coleção – com a sacola, diga-se de passagem – de R$ 118,00 Por R$ 82,60.

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