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Aqueles que queimam livros

14 julho, 2017 | Por Isabela Gaglianone

“No lugar em que agora queimam livros, hão-de queimar homens amanhã” – Heine, citado por George Steiner, em Tigres no espelho.

Trabalho da artista Ekaterina Panikanova

George Steiner é autor de tão extensa quanto diversificada obra, abrangendo sobretudos as áreas de filosofia, crítica literária e literatura. Nascido em 1929, em Paris, Steiner ensinou literatura em universidades de todo o mundo e tornou-se conhecido como um humanista pessimista, interrogando a espantosa contradição entre a exuberância do pensamento ocidental e os assassinatos em massa e genocídios praticados por essa mesma cultura, sobretudo em relação aos judeus pelos nazistas alemães – como o nazismo pôde se desenvolver no próprio seio da alta cultura?, pergunta. “Aqueles que queimam livros, que banem e matam os poetas, sabem o que fazem. O poder indeterminado dos livros é incalculável”.

Para Steiner, porém, o pessimismo da análise da história da humanidade tem um remédio otimista: os livros são a nossa chave de acesso para nos tornamos melhores do que somos. É o que discute em Aqueles que queimam livros, que acaba de ser lançado no Brasil pela editora Âyiné, com tradução de Pedro Fonseca.

Segundo o autor, é inquestionável a capacidade da leitura de produzir uma transcendência intelectual, responsável por suscitar discussões, alegorizações e desconstruções sem fim. Tanto, que um livro pode sobreviver em qualquer parte nesta terra, envolvo em um silêncio inquebrantável, e a qualquer momento é possível que seja ressuscitado.

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Crítica Literária

Morte da tragédia, crise da cultura

8 julho, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Frederic Leighton, “Electra”

“O que eu identifico como ‘tragédia’ em sentido radical é a representação dramática ou, mais precisamente, a prova dramática de uma visão da realidade na qual o homem é levado a ser um visitante indesejável no mundo”.

Composto de início como tese de doutoramento a ser defendida na Universidade de Oxford, A Morte da Tragédia, de George Steiner, trabalho foi a princípio, tragicomicamente, condenado, pois sua redação não atendia às exigências de uma boa dissertação acadêmica. Mais tarde, não só o ensaísta tornou-se professor na referida universidade, como este escrito transformou-se em obra de referência na crítica e nos estudos sobre o destino da tragédia

Steiner, notório por seu humor e ironia, apura neste ensaio os sentidos para ler e escutar inclusive os detalhes lexicais e tonais e identificá-los como sintomas do declínio que busca descrever. Assim, na esfera da linguagem, ele interpreta o fenômeno trágico como expressão determinada não pela vida, mas sim por uma ideia que resume uma visão de mundo. A tragédia é, nos termos do próprio autor, uma “metafísica do desespero”.  Continue lendo

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matraca

Um estudo da tradução é um estudo da linguagem

1 julho, 2014 | Por Isabela Gaglianone

“Deveria uma boa tradução amoldar sua língua em direção daquela do original, criando assim uma aura deliberada de estranhamento, de opacidade periférica? Ou deveria naturalizar o caráter da importação linguística de modo a torná-la familiar na língua do tradutor e de seus leitores?”

“A torre de Babel”, Pieter Brueghel, 1563.

Publicado pela primeira vez em 1975, Depois de Babel mantém sua relevância intacta. Uma das mais importantes obras de George Steiner, marcada pelo manejo preciso da erudição que marca sua produção, discute, a partir dos problemas levantados por questões da tradução, a linguagem humana e o fenômeno literário de maneira geral. Um livro cuja contribuição atinge não apenas estudiosos da tradução, mas todos os que se interessam por literatura, linguística e filosofia, do qual pode-se dizer que é uma das grandes obras de nosso tempo.

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