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Joseph Roth: escritor andarilho

19 setembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Há um interesse peculiar pelos andarilhos, pelos errantes. Dizia-se que Robert Walser o era; Michel Foucault destrincha os significados sociais dos hospícios como prisões, bem como do reforço da criação de um imaginário popular que relaciona a caminhada desinteressada à loucura; o cineasta brasileiro Cao Guimarães, no longa “Andarilho”, depara-se não somente com um, mas consegue o encontro de dois andarilhos.

Joseph Roth, nascido em 1894 em Brody – confins do Império Austro­ Húngaro, atual Ucrânia –, foi um escritor andarilho e nômade convicto, tinha inclusive fama entre os conhecidos de ter seus bens resumidos a três malas. No romance A lenda do santo beberrão, recém lançado no Brasil pela Estação Liberdade, seu protagonista – espécie de seu alter ego – é um andarilho. Um dos aspectos de interesse do andarilho, do nômade, é que são espécies de anti-heróis na sociedade de consumo. Ironicamente interessante no livro de Roth, pois seu protagonista depara-se com a improvável fortuna de ganhar uma alta soma de dinheiro de um desconhecido. Idôneo, garante que devolverá o dinheiro como promessa a uma santa, porém, acaba por gastá-lo inteiramente, em grandes doses etílicas. Seu lar passa a resumir-se ao sempre protelado fundo do copo. Joseph Roth, definido já como poeta do cotidiano, chamou a este livro de seu testamento.

Também de sua autoria, a Estação Liberdade publica Hotel Savoy, livro denso, profundamente crítico, povoado por órfãos de guerra, desterrados, desiludidos, personagens ricos enquanto tipos psicológicos a comportarem-se, após a guerra, como se a paz não passasse de uma utopia, incapazes de viverem sem conflitos. O livro testemunha o quão marcado foi o escritor pela guerra e pelo período entre guerras. Épocas em que a destruição, a falta de perspectiva, de destino, pode também ser representada pela figura estigmatizada do andarilho que vagueia ao léu, naquele contexto europeu repleto de imigrantes desorientados, à busca inócua de um sentido para a barbárie que destruíra suas famílias e histórias, também de um novo significado para suas vidas, atônitas. Fantasmas vivos, errantes fadados à desesperança. Um outro olhar sobre os andarilhos, num sentido mais metafórico e humanamente cruel principalmente porque historicamente realista.

 

 

A LENDA DO SANTO BEBERRÃO
Autor: Joseph Roth
Editora: Estação Liberdade
(80 págs.)

 

HOTEL SAVOY
Autor: Joseph Roth
Editora: Estação Liberdade
(80 págs.)

 

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