A revista modernista Klaxon acaba de ganhar uma edição comemorativa pela Cosacnaify, em homenagem aos noventa anos de sua última publicação. A revista foi publicada entre 1922 e 1923, em sequência à Semana de Arte Moderna. A edição comemorativa apresenta uma versão fac-símile das edições originais e uma a mais, cujo projeto especial foi elaborado pelos artistas plásticos Marilá Dardot e Fabio Morais. Completa a reedição um livreto com textos dos organizadores e do jornalista Marcos Augusto Gonçalves, autor do livro 1922 – A semana que não terminou, sobre o legado da Semana de Arte Moderna.
O nome Klaxon veio de uma então famosa marca norte-americana de buzinas em forma de corneta para automóveis e outros veículos. Na capa aparecia o subtítulo: Mensário de Arte Moderna. O propósito principal da revista foi servir como divulgação das ideias que permeavam o movimento modernista de maneira geral, uma concepção de que a arte não deve ser uma cópia da realidade, uma ânsia pela atualidade, por abolir o passado para viver o presente, ideias, num tom futurista, que giravam em torno de um culto ao progresso. Na revista colaboraram Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Sérgio Buarque de Holanda, Tarsila do Amaral e Graça Aranha, entre outros artistas e escritores. Prevaleceu, sempre, porém, o espírito de grupo que fora anunciado no texto introdutório: “Klaxon tem uma alma coletiva”. Essa apresentação tem todas as características de um manifesto e, apesar de ter sido assinada pela Redação, segundo Mário da Silva Brito, é de autoria de Mário de Andrade. A revista acabou saindo de circulação por discordâncias com seus anunciantes – que não gostaram das novidades e deixaram de contribuir.
Em “O alegre combate de Klaxon”, introdução à edição fac-símile da revista, Mário da Silva Brito define: “[…] em Klaxon aparece, sob forma de artigos, poemas, comentários, críticas de arte, piadas e farpas zombeteiras, o estado de espírito do grupo de jovens que elaborou a ideologia modernista”.
Segundo o professor Jorge Schwartz, das “diversas revistas modernistas que proliferam no Brasil dos anos 1920, Klaxon sem dúvida é plasticamente a mais audaciosa, a mais renovadora e a mais criativa, não só por sua belíssima diagramação, que lembra técnicas da Bauhaus, como pelas modernas ilustrações de Brecheret e Di Cavalcanti. Seu caráter cosmopolita é explícito”.
Conforme analisou Antonio Gonçalves Filho, no Estado de São Paulo: “A despeito da vida curta, ela abriu caminho para outras revistas vanguardistas dos anos 1920, entre as quais uma de grande importância histórica, a Revista de Antropofagia, criada por Oswald de Andrade em 1928. A Klaxon surgiu na esteira de um fenômeno editorial europeu, em que revistas serviam de veículos para difundir movimentos artísticos, como a Almanach Der Blaue Reiter (1912), importante na promoção do expressionismo alemão, ou a portuguesa Orpheu (1915), dedicada à literatura. Como elas, a Klaxon foi um veículo para atingir um público culto mas não sintonizado com o ideal modernista, incomodando tanto como o barulho da buzina que lhe emprestou o nome”.
A biblioteca Brasiliana, da USP, cujo acervo bibliográfico e documental sobre assuntos brasileiros está sendo digitalizado, disponibiliza em seu site, para que sejam visualizados ou baixados como arquivos em formato pdf, os oito volumes da Klaxon, integrais (os números 8 e 9 da revista estão reunidos num só volume).
“[…] é uma buzina literária, fonfonando, nas avenidas ruidosas da Arte Nova, o advento da falange galharda dos vanguardistas” (Menotti del Picchia).
Autor: Vários autores. Textos de Daniel Rangel, Fabio Morais, Marcos Augusto Gonçalves e Marília Dardot
Editora: Cosacnaify e Instituto de Cultura Contemporânea
Preço: R$ 63,00 (200 págs.)