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Obra de um “hipocondríaco assumido”

2 julho, 2015 | Por Isabela Gaglianone
Honoré Daumier

Honoré Daumier

O escritor argentino Diego Vecchio acaba de ter lançada no Brasil uma edição de seu livro Micróbios. Vecchio participa da FLIP deste ano como um dos autores de destaque.

O livro é uma reunião de contos que oscilam entre a comédia e a tragédia. Sua criação literária surge como uma resposta psicanalítica non-sense. São nove narrativas, cada qual uma apresentação de um caso clínico raro, descritos em chave freudiana – cada uma das personagens sofre de uma enfermidade, causada pela leitura e pela escrita.

A ideia condutora dos contos surgiu a partir de uma leitura do autor: em 1768, Samuel Auguste Tissot, médico e confidente de Rousseau, escreveu um célebre tratado sobre onamismo, A saúde dos homens de letras, no qual tenta demonstrar que a literatura é como a masturbação: uma prática que faz mal à saúde. Certos livros seriam o efeito colateral da anemia, da asma, da dispepsia, da difteria, de cálculos renais, da sífilis.

Uma passagem de Tissot serve como epígrafe ao volume de contos: “Além de doenças nervosas, as letras produzem uma infinidade de outros males. Um célebre matemático, cuja conduta sempre foi irrepreensível e que padecia de gota hereditária, sucumbiu antes do previsto, aplicando-se excessivamente à resolução de uma equação. O estudo da metafísica enfraqueceu os nervos de Leibniz, provocando-lhe convulsões poucas horas antes de morrer. É conhecido o acidente que sofreu o cavalheiro de Epernay. Depois de quatro meses de trabalho assíduo, perdeu a barba, os cílios, as sobrancelhas e, por último, todos os cabelos e pelos” [De la Santé des gens de lettres, 1768].

De acordo com Mathieu Lindon, escritor e jornalista francês que assina o texto de orelha: “Com uma erudição bem-humorada e uma imaginação tão fantástica quanto rigorosa, os nove contos apresentam casos clínicos raros. Cada história traz uma enfermidade sofrida em diferentes regiões do planeta, de modo a alcançar uma ironia universal que não deixa nenhuma literatura de pé: nem a escandinava, nem a russa, nem a norte-americana, nem a japonesa, nem a argentina… A jocosidade inventiva mantém-se firme ao longo de todo o livro, numa reconstrução do mundo efetuada apenas por meio da medicina e da literatura, de onde todo o resto deságua. E, apesar do caráter bastante desagradável dos eventos físicos, a diversão é um aspecto incontornável”.

Vecchio vive na França desde o início dos anos 1990 e, hipocondríaco assumido, se inspirou em sua própria fixação por remédios para compor obras literárias. Com formação em psicologia na Universidade de Buenos Aires, se baseou em casos clínicos de Freud como referência para criar personagens.

A Cosac disponibiliza um trecho para visualização.

 

microbios

 

MICRÓBIOS

Autor: Diego Vecchio
Editora: Cosac Naify
Preço: R$ 24,43 (192 págs.)

 

 

 

 

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