Erro, ilusão, loucura, publicado pela Editora 34, reúne cinco conferências realizadas pelo filósofo Bento Prado Jr. entre 1994 e 1996; o livro apresenta também uma entrevista da mesma época, além de um artigo mais recente, no qual ele retoma sua conhecida reflexão sobre a obra de Bergson. Esta é uma das mais relevantes publicações do filósofo brasileiro, ao lado de Presença e campo transcendental: consciência e negatividade na filosofia de Bergson – traduzido para o francês em 2002 e considerado obra de referência para os estudiosos do tema no mundo todo.
A partir de comentários em torno de uma gravura dos “Desastres da guerra”, de Goya, o livro desenvolve-se tendo, como ponto de encontro dos textos reunidos, a investigação sobre o lugar do sujeito; o entroncamento de onde partem, grosso modo, que engloba também a filosofia da psicanálise, é a teoria da linguagem– preocupação de Bento Prado ao longo de sua trajetória filosófica, base para seus estudos e comentários sobre obras de diferentes filósofos, como Wittgenstein, Deleuze e Rousseau (uma cuidadosa compilação dos textos de Bento Prado sobre a obra de Rousseau foi publicada sob o título A retórica de Rousseau).
Em um dos ensaios de Erro, ilusão, loucura, Bento Prado aproxima a filosofia de Wittgenstein da poesia de Drummond: “Refletindo sobre as ruínas do passado, Wittgenstein nada espera do futuro. Salvação? Mais uma vez lembremos Drummond: ”Lutar com palavras/ é a luta mais vã/ Entanto lutamos/ mal rompe a manhã”. Salvação, talvez só aquela operada no presente e no instante, contra o mundo e contra a história, essa proeza ética imaginada, na mais completa solidão, por um narodnik individualista impregnado pela leitura de Tolstoi”. Os ensaios reunidos neste livro mostram o lirismo da filosofia de Bento Prado. Segundo Franklin de Mattos, “Bento Prado Jr. partilhou sua vida intelectual entre duas vocações; a filosofia e a literatura” – seus ensaios propriamente literários, inclusive sobre Drummond, encontram-se na coletânea Alguns ensaios: filosofia, literatura e psicanálise.
Segundo Bento Prado, teria havido para ele uma “interrogação contínua”, a que fora “muito sensível, sem plena consciência de seu sentido, nas exposições que precederam a publicação”. Ele diz: “Em textos recentes, eu havia examinado algumas instâncias da confusão “categorial” entre erro, sonho, ilusão e loucura, recorrentes na filosofia contemporânea, a serem corrigidas (como deve ser corrigida a própria ideia de “erro categorial”) por uma revalorização do valor crítico da história da filosofia na estratégia geral do pensamento”. No artigo publicado no jornal Folha de São Paulo (em 30 de janeiro de 2000), intitulado “Erro e alienação”, escrito em memória de Gérard Lebrun, ele analisa uma ideia desenvolvida por Lebrun, na qual convergem-se, também, as suas: “não se pode derivar a possibilidade do erro do simples reconhecimento da “incerteza objetiva” ou da finitude de nosso conhecimento. […] O erro, como a verdade, ocorre apenas no interior do juízo. […] A idéia de erro é pensada sobre o fundo da ancoragem ontológica do pensamento no ser ou na verdade em-si. Para fazer justiça ao erro é preciso subverter essa ontologia e essa concepção do Saber”. O erro “recebe direito de cidadania e dá lugar a uma teoria positiva do erro como ilusão necessária, ou como auto-engano”.
Autor: Bento Prado Jr.
Editora: 34
Preço: R$ 30,80 (280 págs.)