Artes Plásticas

Diálogo andarilho

25 novembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Marco Buti, sem título, 1995, gravura em metal.

Em coedição com a Pinacoteca do Estado de São Paulo, A editora Cosacnaify publicou Ir até aqui, reunião de gravuras e fotografias de Marco Buti. O livro conta com textos de Alberto Martins – que também é responsável por sua organização –, de Antonio Gonçalves Filho e de Priscila Sacchettin.

Segundo Marco Buti, suas obras inspiram-se em caminhadas pela cidade, nas quais ele observa diferentes incidências da luz na paisagem urbana, a construção ou a demolição de edifícios, os caminhares e deslocamentos das pessoas, os reflexos, as sombras e os espaços, as misturas de linguagens. Daí o título, “Ir até aqui”. Outro dos interessantes casos de artista andarilho, que encontra no ato de caminhar parte de seu processo criativo e inspirador.

A cidade aparece nas gravuras do artista em vistas fragmentadas, em trabalhos feitos em água-forte, água-tinta, buril e ponta-seca. O livro oferece um passeio por sua produção, um caminhar por entre sua interessante poética, destacando o ponto considerado como expressão de sua mais alta maturidade, essa investigação acerca das relações entre sujeito e metrópole, paisagem e memória, cálculo e acaso, e se cristalizam – tanto nas gravuras como nas fotografias, bem como no diálogo entre elas – em imagens de silêncio e precisão.

De acordo com a historiadora da arte Maria Cecília França Lourenço, é notável, na obra de Buti, o “traço agitado, por vezes, sobreposto a outros, de maneira que as formas parecem emergir do tecido gráfico”. Para a historiadora, “a produção de Buti destaca-se por proporcionar ao espectador uma sensação de atmosfera ou de velocidade, e principalmente pelo tratamento dado à figura humana, à qual confere um clima emotivo”.

O livro foi lançado na abertura da exposição homônima, mostra retrospectiva do trabalho de Buti, na Estação Pinacoteca, que reuniu cerca de cem trabalhos sobretudo sobre essa sua  exploração da urbanidade em fotografias e gravuras. Alberto Martins, também curador da mostra, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, afirmou: “A montagem privilegiou as relações que os trabalhos tem, que independem da técnica empregada”. Logo na entrada da exposição, Martins destacou o que considera um trabalho-chave na trajetória de Buti: um bloco negro de gravuras, sem título, de 1990. Segundo o curador, “essa obra marca uma nova relação de Buti com a cidade“.  No livro, Martins escreve: “Até então, as gravuras de Buti exploravam de modo intenso as relações entre indivíduo e metrópole, mas preservando em seu interior um espaço de salvaguarda do sujeito“. Já no grande bloco, não há figuras diminuídas, e sim um maciço negro. “Não há mais garantias“, nas palavras de Alberto Martins.

A Cosacnaify disponibiliza visualização do livro.

 

 

IR ATÉ AQUI

 

Autor: Marco Buti; textos de Alberto Martins, Antonio Gonçalves Filho, Priscila Sacchettin
Editora: Cosac Naify
Preço: R$ 67,20 (136 págs.)

 

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