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Formas esquivas do mal

15 agosto, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Cegueira Moral reúne cinco diálogos de Zygmunt Bauman com Leonidas Donskis, filósofo e professor de ciência política na Universidade de Vytautas Magnus, na Lituânia.

O livro, que tem como subtítulo “A perda da sensibilidade na modernidade líquida”, constitui-se como materialização de um debate a respeito da insensibilidade diante do sofrimento do outro, fenômeno concomitante ao desejo de controle sobre a privacidade alheia.

Os filósofos abordam o problema do mal não restringir-se às guerras ou circunstâncias extremas como nas quais as pessoas agem forçadas por condições de coerção. O mal atualmente, mostra-se na passividade com que se assiste ao sofrimento alheio. Uma miopia ética, cegueira moral, que disfarça-se sob o signo da banalidade cotidiana. 

Leonidas Donskis, na introdução do livro, define o trabalho intelectual de Bauman de maneira ricamente precisa. Segundo ele: “Zygmunt Bauman não é um sociólogo típico. É um filósofo do cotidiano. O tecido de seu pensamento e de sua linguagem é composto de uma diversidade de fios: uma teoria superior; sonhos e visões políticas; as ansiedades e os tormentos dessa unidade estatística da humanidade, o homem ou a mulher em sua pequenez; a crítica astuta – afiada como uma lâmina e, além disso, implacável – aos poderes do mundo; e uma análise sociológica das ideias tediosas, da vaidade, da busca incansável de atenção e popularidade, e também da insensibilidade e autoilusão dos seres humanos.

Não admira, a sociologia de Bauman é acima de tudo uma sociologia da imaginação, dos sentimentos, das relações humanas – amor, amizade, desespero, indiferença, insensibilidade – e da experiência íntima. Passar facilmente de um discurso para outro tornou-se traço característico de seu pensamento.

Talvez ele seja o único sociólogo do mundo (e Bauman é um dos grandes sociólogos vivos, ao lado de Anthony Giddens e Ulrich Beck) e simplesmente um dos maiores pensadores (com Umberto Eco, Giorgio Agamben, Michel Serres e Jürgen Habermas) que não apenas usa ativamente a linguagem da alta teoria. Ele salta com habilidade dessa linguagem para a da publicidade, dos comerciais, mensagens de texto, mantras dos oradores motivacionais e dos gurus do mundo empresarial, clichês e comentários no Facebook; e depois retorna à linguagem (e aos temas) da teoria social, da literatura moderna e dos clássicos filosóficos.

Sua sociologia busca reconstruir todas as camadas da realidade e tornar sua linguagem universal acessível a todos os tipos de leitor, não apenas ao especialista acadêmico”.

O caderno Ilustrada, do jornal Folha de São Paulo, disponibilizou longo trecho desta introdução.

 

CEGUEIRA MORAL

Autor: Zygmunt Bauman
Editora: Zahar
Preço: R$ 34,93 (264 págs.)

 

 

 

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