Literatura

Garotas de Tóquio, de Frédéric Boilet

19 março, 2012 | Por rafael_rodrigues

AVISO DO AUTOR: Este post se refere a um livro cuja leitura é recomendável apenas para pessoas maiores de 18 anos.

A linha que separa a literatura erótica de boa qualidade da literatura erótica de má qualidade é muito tênue. O mesmo vale para os quadrinhos adultos.

Existem autores que utilizam o erotismo de maneira gratuita e exagerada. As cenas se sucedem sem terem uma justificativa plausível, sem terem necessidade de existir. São histórias feitas como se fossem filmes pornôs, onde o que importa é o sexo pelo sexo, e nada mais.

Mas existem artistas que conseguem ser explícitos e, ao mesmo tempo, delicados. É o caso do francês Frédéric Boilet em seu “Garotas de Tóquio“.

O álbum é composto por sete histórias curtas, nas quais Boilet é o narrador-personagem. Cada uma delas conta o encontro entre o narrador e uma personagem feminina diferente. Essas “garotas de Tóquio” são as musas de Boilet, mulheres convidadas ou que se ofereceram para serem suas modelos.

Poderia-se dizer que a simplicidade é uma das características mais marcantes das histórias. Assim como o traço de seus desenhos é uma espécie de rascunho aprimorado, os diálogos são curtos, bem como as intervenções do narrador.

A cumplicidade entre o narrador e suas musas é outro ponto a ser destacado. Há, em cada uma das sete histórias, uma intensidade de sentimentos muito grande. É como se o protagonista se apaixonasse perdidamente por cada uma das garotas com as quais se relaciona.

Tudo isso contribui para que as cenas de relações sexuais não assustem nem mesmo aos leitores mais puritanos. Essas três características – simplicidade, cumplicidade e intensidade – transformam as histórias eróticas em pequenos contos de amor.

As duas melhores narrativas da coletânea são, de longe, “Uma História quase sem palavras” – a mais explícita de todas e que, como diz o título, quase não tem palavras -, e a divertida “Um belo mangá erótico”. A mais singela e emocionante é “Neri 2004”.

É uma pena que um trabalho de qualidade tão alta seja pouco conhecido e divulgado no Brasil, enquanto que outros quadrinistas, com seus fracos roteiros e desenhos de gosto no mínimo duvidoso são considerados geniais. Inversões de valor que ocorrem em todas as artes, e que são difíceis de entender.

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