O romance Humilhados e ofendidos, de Dostoiévski, é considerado pela crítica como um dos mais notáveis textos do autor. Trata-se de um retrato profundamente complexo das condições psicológicas e morais às quais a própria condição humana submete-se na vida urbana. Dividido em quatro partes, o romance perpassa e une as histórias de um príncipe, um escritor e de uma família empobrecida, que encontra-se em condição penúria e degradação na cidade grande.
A narrativa foi publicado originalmente no início da década de 1860; escrita para ser publicada no jornal “Vrênia”. Ao longo de seus capítulos, o desenrolar da prosa dostoiévskiana mantém o leitor envolto em uma atmosfera de grande tensão psicológica. As histórias das personagens por si sós são densos relatos e, seu cruzamento, é de tal forma encaminhado, que completa um efeito vivo de inquietude, marcado pela intensidade de sentimentos espessamente envoltos em mistério.
Dostoiévski estrutura o romance na profundidade de seu ideal humanitário, nas suas indagações psicológicas, no trato preciso com o sofrimento moral e social; com o abuso do poder econômico sobre a vida dos desfavorecidos. A dita polifonia de sua prosa aqui, ainda que não seja um dos romances da maturidade literária do autor, já desenvolve-se de maneira magistral.
Segundo o crítico David Carneiro: “Talvez uma análise mais pobre ou apressada, buscasse vincular a idéia de lei no pensamento de Dostoiévski a uma eterna identificação com a lei do mais forte ou dos “poderosos”, como se esta fosse apenas o recurso externo de um poder coeso, pronto para ser mobilizado com o intento de manter sua auto-reprodução. Este tipo de análise ainda que não seja, em certas condições históricas e sociais, totalmente destituído de sentido parece pecar pela generalização e por não considerar que o que pode estar em jogo é uma relação bem mais complexa. Ao identificarmos a lei, esta lei, com a lei dos poderosos ou de uma classe em particular, surge-nos, inevitavelmente, em oposição a figura de uma outra lei, ou sua abolição completa, por meio de uma “justiça revolucionária”. Se seguirmos, no entanto, os passos do autor e sua obra, sabemos ser este um caminho improvável para Dostoiévski, crítico implacável dos movimentos ditos revolucionários no século XIX”. Carneiro levanta a seguinte hipótese de aproximação do conceito de justiça com o filósofo francês Derrida; diz ele: “Não estaria aqui presente a possibilidade da justiça levantada por Jacques Derrida em seu Força de Lei? Derrida também nega, contrariando certos autores das “escolas críticas do direito”, uma definição da lei necessariamente como poder exterior mobilizável por uma classe, mas defende que o momento instituidor e justificador do direito contém em si mesmo uma violência performativa que não é justa e nem injusta por si mesma, que se mantém e se institui por uma boa dose de crença. Se o direito sustenta-se então por um tipo de crença e não por ser justo, onde estaria então a justiça?”.
A tradução disponível no Brasil foi realizada por Klara Gourianova, russa que veio ainda na infância para o Brasil com a família. Foi publicada pela Editora Nova Alexandria, em 2004 e encontra-se disponível apenas em sebos. Pode-se encontrar também a tradução feita em Portugal, também diretamente do russo, por Filipe e Nina Guerra, publicada pela Editorial Presença.
Autor: Fiódor Dostoiévski
Editora: Nova Alexandria
Preço mínimo: R$ 32,00 (328 págs.)
[disponível apenas em sebos]