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Inimigo Rumor 20 – CosacNaify

30 abril, 2008 | Por admin

Para comemorar os 10 anos da publicação da revista “Inimigo Rumor”, publicação editada inicialmente pelos poetas Carlito Azevedo e Júlio Castañon Guimarães, o Blog da livraria 30PorCento disponibilizou uma resenha da edição de estréia da revista. Esta resenha foi publicada em 14/06/1997, no extinto “Jornal de Resenhas”, suplemento dominical da Folha de S. Paulo que hoje nos faz tanta falta. A resenha publicada neste artigo pode ser encontrado na página 787 do volume 1 do livro que reuniu toda a trajetória do Jornal de Resenhas, editado em 2001 pela Discurso Editorial. Clique aqui para encomendar o livro. Para comprar a edição 20 de “Inimigo Rumor” com 30% de desconto, clique aqui.

Eis a transcrição literal:

Vozes da Poesia Brasileira
Heitor Ferraz

Inimigo Rumor n1. Carlito Azevedo e Júlio Castñon Guimarães (Orgs.) Sette Letras, 110 págs.

Numa carta enviada a Clarice Lispector, nos anos 40, João Cabral de Melo Neto propunha a criação de uma revista literária que se chamaria “Antologia”. Pela proposta do poeta, a revista não teria um “programa formulado”. Seria “qualquer coisa como um balanço de antes do fim do ano”. Ele mesmo se encarregaria de imprimir os textos em sua prensa manual. Até onde se sabe, o projeto não vingou. A carta de Cabral a Clarice, escrita numa época em que escritores tão diferentes mantinham diálogo aberto e constante, reaparece agora nas páginas da revista de poesia “Inimigo Rumor”.

Certamente a proposta de Cabral agradou aos dois editores. Neste primeiro número, eles preferiram não escrever um editorial, no qual exporiam suas pretensões. Em cinco breves linhas, contentaram-se em anotar a origem do nome da revista (que provém do título de um livro do poeta cubano José Lezama Lima, “Enemigo Rumor”) e dizer que ela se destina “preponderantemente à publicação de poemas e de textos críticos ou documentais referentes a poesia”.

Com essa postura, os editores se abrem, de alguma forma, para a pluralidade de vozes que circula hoje na poesia brasileira. A mostra que trazem já neste número de estréia é prova disso. A revista publica, numa primeira seção, poemas inéditos de poetas já consolidados pela crítica e público, como Haroldo de Campos, Sebastião Uchôa Leite, Francisco Alvim e Armando Freitas Filho, além de poemas de Ronald Polito. O leitor atento poderá fazer comparações curiosas entre essas vozes aparentemente dissonantes, encontrando possíveis pontos de afinação durante a leitura de um e outro poeta.

Apontar equivalências poderia soar disparatado ou pura heresia, já que sabemos como este campo é minado pelas divergências, na maior parte das vezes mais pessoais do que propriamente literárias. A revista acaba servindo como sugestão para um exercício: perceber até onde a poesia de grande plasticidade de Haroldo de Campos encontra surpreendentes afinidades com a de Armando Freitas Filho, ou a brevidade poética e a coloquialidade de Francisco Alvim podem se aproximar dos versos curtos e mentais de Sebastião Uchôa Filho.

A ausência de um editorial, no caso, acaba permitindo a curiosa pesquisa, já que nenhum programa foi formulado nas páginas da revista, a não ser o não-programa de Cabral, o de fazer “qualquer coisa fora do tempo e do espaço – um pouco como nós vivemos”. Esta “ausência”, que ainda simplesmente agrega poetas que se colocavam em campos opostos, já apresenta subliminarmente em debate uma questão nuclear: até onde as discordâncias resistem a um exame crítico mais detido – já que partem, todos, dentro da poesia brasileira, da leitura dos poetas do primeiro modernismo até João Cabral de Melo Neto?
Mesmo assim, “Inimigo Rumor”, que terá uma periodicidade quadrimestral, põe em circulação uma produção intelectual que raramente encontra espaço em outras revistas do gênero. Os três textos acolhidos na seção de ensaios versam sobre poetas historicamente consagrados. O crítico Sergio Alcides comparece com uma instigante investigação sobre a memória e a melancolia na obra de Claudio Manuel da Costa, dialogando com a melhor tradição crítica do arcadismo mineiro; já Telê Ancona Lopez, na tônica da crítica genética, analisa os manuscritos e a gênese de “Lira Paulistana”, de Mário de Andrade; e, por fim, Murilo Marcondes de Moura esmiuça o poema “Noturno à Janela do Apartamento”, de Carlos Drummond de Andrade.

A revista traz também, além da carta de Cabral, traduções de poemas de José Lezama Lima, feitas pela poeta Josely Vianna Baptista, e uma série de poemas francesa que vai de Valéry ao contemporâneo Jacques Roubaud. E ainda uma seção de resenhas. O único problema editorial encontrado é a falta de informações sobre os tradutores e ensaistas, um problema que poderá ser resolvido no próximo número que já está em preparação.

Num momento em que pelo menos outras duas revistas do gênero já circulam no Rio – “Poesia Sempre” e “Carioca” -, a caçula “Inimigo Rumor” procura, com toda simplicidade gráfica e seguindo um modelo mais tradicional na sua divisão interna, ser mais do que um prazeroso espaço de divulgação poética, mas de fato uma “antologia” de textos que suscita o debate estético, pela sua própria abertura e conformação. Se hoje ele ainda não é explícito, em breve o será, já que a revista se apresenta como uma importante câmara de ecos da produção poética brasileira mais significativa e – tomando como base o primeiro número – consegue fugir do personalismo habitual.

Geometria Urbana 1

Dia 3 de maio (sábado): Não perca neste Blog uma tradução em comemoração aos 80 anos da publicação de Macunaíma, de Mario de Andrade. O título do artigo foi “Long-Lost Trove of Music Connects Brazil to Its Roots” publicado dia 25/01/2007.

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