Tomo conta do mundo: confissões de uma psicanalista, de Diana Corso, acaba de ser lançado pela Arquipélago Editorial.
O livro atravessa pequenos detalhes e sutilezas do comportamento humano, em crônicas e contos que pensam o inconsciente a partir do cotidiano, e vice-versa. A autora fala sobre as novas configurações familiares, a miragem do corpo perfeito, as cicatrizes da idade, o encanto selvagem das metrópoles.
A publicação traz uma compilação de textos publicados no jornal Zero Hora e nas revistas TPM e Vida Simples, que perpassam uma obsessão: o tema da feminilidade. Figura no volume também o ensaio “Sem medo de Virgínia Woolf”, escrito especialmente para o livro, no qual as personagens woolfianas conduzem uma reflexão sobre a busca das mulheres por um lugar no mundo para si próprias.
A palavra “conficcional”, presente no título do livro, é um neologismo proposto pelo poeta e cronista Fabrício Carpinejar para justapor o confessional e o ficcional.
As crônicas reunidas revelam uma observadora minuciosa da vida, que consegue unir às narrativas suas próprias experiências particulares, bem como (psico)análises dessas experiências. Por entre sutilezas do comportamento humano, ela amalgama a contemplação das miudezas cotidianas à sua cotidiana investigação do inconsciente.
Segundo Luiz Gonzaga Lopes, em artigo, Diana Corso “se define como ‘cronicamente psicanalista’”. Bem-humorada, na apresentação a autora adverte, “o contato com estes escritos pode trazer efeitos colaterais”: “Se persistirem os sintomas, procure um psicanalista”.
A crônica que dá título ao livro, “Tomo Conta do Mundo”, é desencadeado por uma frase de Clarice Lispector: “Sou uma pessoa muito ocupada: tomo conta do mundo. No Jardim Botânico, então, eu fico exaurida, tenho que tomar conta com o olhar das mil plantas e árvores, e sobretudo das vitórias-régias. […] Tomo desde criança conta de uma fileira de formigas”. No site que mantém com o marido e no qual Diana mantém uma secção dedicada à literatura, há o texto “O cachorro do vidente” analisa que “muitos dos nossos sentimentos são pateticamente dedicados a esquisitas ninharias”. Para ela, há um “pequeno drama imaginário”, no qual tais estranhas ninharias tornam-se protagonistas de uma metáforas fortes. “Clarice tinha a tarefa de olhar as plantas do Jardim Botânico, de cuidar da integridade da fila de formigas. Ela certamente sabia que nossa presença no mundo faz diferença, mas está longe de ser imprescindível. A minha com certeza mais prescindível do que a dela. Esse texto, chamado “Eu tomo conta do mundo”, termina com a frase: “só não encontrei a quem prestar contas”. Clarice, segundo Diana, na “crônica e na ficção, soube ser embaixadora da vida mínima, onde pulsam máximas emoções. Fazemos parte da fila de formigas de que ela tomou conta. Nos alinhamos menos solitários, graças à sua generosa sinceridade”.
Em parceria com o marido, Mário Corso, Diana é autora dos livros Fadas no Divã: psicanálise nas histórias infantis (Artmed, 2005) e Psicanálise na Terra do Nunca: ensaios sobre a fantasia (Artmed, 2010).
TOMO CONTA DO MUNDO: CONFISSÕES DE UMA PSICANALISTA, DA PSICANALISTA
Autor: Diana Corso
Editora: Arquipélago Editorial
Preço: R$ 45,00 (272 págs.)