Previsto para ser lançando em 2013, mas ainda no prelo, A palavra afiada, será um volume com entrevistas e textos da filósofa, crítica literária, ensaísta e professora emérita da USP, Gilda de Mello e Sousa (1919 – 2005).
O livro, editado pela Ouro sobre Azul, é organizado por Walnice Nogueira Galvão, professora titular de literatura na Universidade de São Paulo. Segundo Walnice, em entrevista à revista Cult, Gilda produziu uma “reflexão finíssima, perspicaz e aguda sobre diferentes fenômenos artísticos, estéticos”.
Gilda foi casada com o crítico Antonio Candido, com quem colaborou na produção da revista acadêmica Clima, publicada entre 1941 e 1944, marco da vida intelectual brasileira, cujo corpo editorial era também composto pelos amigos Paulo Emilio Salles Gomes, Décio de Almeida Prado, Ruy Coelho, Lourival Gomes Machado e Alfredo Mesquita, entre outros. Formou-se em filosofia pela Universidade de São Paulo, onde teve aulas com Claude Lévi-Strauss, Roger Bastide e Jean Maugüé e onde recebeu o título de doutora em ciências sociais com a tese A Moda no Século XIX. De 1943 a 1954, foi assistente de Roger Bastide na cadeira de Sociologia da mesma universidade e, a partir de 1955, tornou-se professora de Estética no Departamento de Filosofia, cuja direção viria a assumir nos anos difíceis da ditadura militar. Nesse departamento fundou, em 1970, a revista Discurso, até hoje uma referência nos estudos filosóficos brasileiros. Aposentou-se em 1972 e recebeu, em 1999, o título de professora emérita da USP.
A editora Ouro sobre Azul tem já publicado o livro Gilda, a paixão pela forma, uma compilação de textos apresentados no seminário dedicado a ela em agosto de 2006 na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. O livro, organizado por Sérgio Miceli e Franklin de Mattos, propôs-se a realçar a importância, a abrangência e a originalidade do pensamento crítico de Gilda, cuja prosa elegante felizmente constitui-se nos livros O tupi e o alaúde, publicado em 1979, Exercícios de leitura, de 1980, O espírito das roupas, de 1987 e A idéia e o figurado, publicado em 2005.
Há um trecho de A palavra afiada, sobre Roger Bastide e a arte barroca brasileira, disponível no site da USP. Nele, Gilda conta:
“O que era admirável no professor Bastide era a utilização que ele fazia desses métodos artesanais de informação, que o fazia interessar-se pelos alunos, pedindo-lhes que lhe contassem seus sonhos. Uma série de informações que, às vezes, ele lia do avesso ou punha de cabeça para baixo. Era como se conhecesse a afirmação de Aby Warburg de que “Deus está no particular”, como se estivesse demonstrando aquela sensibilidade para os pequenos discernimentos de que falava Winckelmann. Quando fazia crítica literária ou de arte, e era um crítico excelente, percebia com facilidade os cacoetes do autor, as obsessões, os lapsos, o afastamento ou aproximação excessiva dos modelos de que ele partia”.
Ainda não disponível para venda, a ser lançado pela editora Ouro sobre Azul.