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Fotógrafos que escreveram livros sobre fotografia.

10 outubro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

O fotógrafo que escreve sobre fotografia nos revela parte da intimidade intelectual que o movimenta. Sua proximidade com aquilo sobre o que disserta parte de uma autonomia singela do autor à autoridade formal do produtor, resguardando um conhecimento empírico e que encontra em si mesmo sua finalidade.

É como se suas afirmações fossem provadas – positiva ou negativamente – pois despertadas no seio de um processo produtivo. Como disse Cartier-Bresson, “é necessário alcançar, trabalhando, a consciência do que se faz”.

 

Gisèle Freund, “La fotografía como documento social”

La fotografía como documento social, da fotógrafa e estudiosa da fotografia Gisèle Freund, é um trabalho profundo que, publicado originalmente em 1974 – sob o título Photographie et Societé –, foi base para o desenvolvimento da reflexão sobre fotografia como conceito. Freund pensa a fotografia à luz de sua história sociológica, política e artística. Mais do que simples técnica, a fotografia é aqui interpretada como elemento singular de conhecimento, localizada no entroncamento entre informação e arte.

“Cada momento histórico presencia el nacimiento de unos particulares modos de expresión artística, que corresponden al carácter político, a las maneras de pensar y a los gustos de la época. El gusto no es una manifestación inexplicable de la naturaleza humana, sino que se forma en función de unos de unas condiciones de vida muy definidas que caracterizan la estructura social en cada etapa de su evolución”.

 

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Pierre Verger, “50 anos de fotografia”

As fotografias de Pierre Verger são narrativas condensadas, que de certa forma pairam: nelas, há um movimento infinito plasmado, pois ecoam, em si, a captação profunda e imediata do âmago das culturas que registram, culturas inteiras encarnadas em olhares, gestos, cenas – precisos e líricos. 50 anos de fotografia é um livro que traz o rico texto de Verger: as culturas captadas em imagens traduzidas em palavras como um testemunho de vida, um diário de viagem e um documento histórico, simbolicamente arqueológico e profundamente antropológico.

Rememorando sua trajetória, ele contextualiza as fotos e, com a vantagem da distância de anos, analisa seus momentos de amadurecimento fotográfico. Ele conta, por exemplo, que, apesar de inicialmente seduzido “pela extraordinária nitidez dos detalhes que sobressaíam nas fotos tiradas de tão curta distância” que lhe permitiam “valorizar o contraste do rugoso e do liso, do brilhante e do fosco, o veio da madeira, a espuma de uma onda vindo morrer na areia granulosa de uma praia”, entre outros detalhes, nas primeiras páginas do livro lembra: “Só tirei esse tipo de fotografia durante a minha primeira excursão, na qual percorri mil e quinhentos quilômetros a pé na Córsega. Felzmente, meu gosto evoluiu e passei a dirigir um olhar menos míope sobre o mundo nos anos que se seguiram”.

 

Boris Kossoy, “Realidade e ficções na trama fotográfica”

Realidades e ficções na trama fotográfica, do fotógrafo Boris Kossoy, reúne interessantes ensaios sobre os mecanismos intelectuais que orquestram a construção da representação, do signo e da interpretação. Há, segundo o autor, uma qualidade inerente à imagem fotográfica: a materialização documental, que embasa sua ambigüidade enquanto documentação e representação.

Um tema encaminha sua movimentação argumentativa: o papel da intencionalidade ideológica na fotografia e no documento fotográfico, reflexão pela qual ele desenvolve questões sobre arquivos, memória e reconstituição histórica, questionando o caráter de credibilidade e veracidade que a fotografia possui enquanto registro do real e mostrando o que o olhar fotográfico é necessariamente interessado.

“O signo, por um lado, é produto de uma construção/invenção, enquanto que a interpretação, não raro, desliza entre a realidade e a ficção. Tratam de processos de construção de realidades”.

 

Milton Guran, “Linguagem fotográfica e informação”

O fotógrafo e antropólogo Milton Guran, no livro Linguagem fotográfica e informação, investiga o que faz a contundência de uma imagem fotográfica. Ao desenvolver o conceito de “foto eficiente”, situa sua reflexão em um entroncamento ético e estético. Pensando a evolução técnica da fotografia e dos equipamentos fotográficos, bem como seus usos, quer artísticos, quer documentais tanto informativos como midiáticos, ele baseia sua argumentação na análise dos processos de significação da própria linguagem fotográfica, deduzindo-os a partir da identificação dos meandros simbólicos da composição da imagem.

Para Guran, “fotografar é efetivar um reconhecimento antecipado: aquilo que é visto não pode mais ser fotografado, porque já passou”. Os desdobramentos formam uma rede discursiva, que inclui funções estratégicas, engajamento político, relações de poder, proposições filosóficas. A problemática temporal é intrínseca à concentração de potencialidades lingüísticas e significativas encerrada em uma imagem fotográfica. De acordo com o autor, a própria “composição fotográfica tem como finalidade dispor os elementos plásticos percebidos através do visor para conferir significado a uma cena”.

 

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Henri Cartier-Bresson, “O imaginário segundo a natureza”

Henri Cartier-Bresson escreveu alguns significativos textos sobre fotografia. O imaginário segundo a natureza é a primeira publicação que reúne os mais conhecidos e comentados deles em um único volume. Figuram, entre os textos selecionados, o certeiro “O instante decisivo” e o belo “Os europeus”. Há também artigos em que Bresson discorre sobre suas viagens a Moscou e China, textos que carregam a intensidade dos trabalhos fotográficos decorrentes. Outros artigos são dedicados a artistas que foram seus amigos, como André Breton, Alberto Giacometti e Jean Renoir.

Bresson aponta uma ambiguidade essencial na fotografia, despertada pela concepção de que fotografar “é, num mesmo instante e numa fração de segundos reconhecer o fato e a organização rigorosa das formas percebidas visualmente que exprimem e significam este fato”.

“O aparelho fotográfico é para mim um caderno de croquis, instrumento da intuição e da espontaneidade, o mestre do instante, que em termos visuais, questiona e decide ao mesmo tempo. Para “revelar” o mundo, é preciso sentir-se implicado no que se enquadra através do visor”.

 

 

Não tratamos aqui de livros técnicos sobre fotografia, mas de textos que exploram suas dimensões sociais, investigativas, lúdicas.

As reflexões dos fotógrafos sobre a fotografia situam-se dentro das relações históricas, estéticas e políticas que o objeto fotográfico estabelece com o mundo – que lhe é alteridade espelhada.

O trabalho escrito sobre fotografia dá ao fotógrafo um tempo diferente de desenvolvimento reflexivo, que não busca o instante decisivo, senão seus múltiplos desdobramentos.

 

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Ficção documental

9 outubro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

“O signo, por um lado, é produto de uma construção/invenção, enquanto que a interpretação, não raro, desliza entre a realidade e a ficção. Tratam de processos de construção de realidades”.

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Realidades e ficções na trama fotográfica, do fotógrafo Boris Kossoy, reúne interessantes ensaios sobre os mecanismos intelectuais que orquestram a construção da representação, do signo e da interpretação. Há, segundo o autor, uma qualidade inerente à imagem fotográfica: a materialização documental, que embasa sua ambigüidade enquanto documentação e representação. Esta é a primeira obra da trilogia de Kossoy publicada pela Ateliê Editorial – composta também por Fotografia e História e  Os tempos da fotografia – O efêmero e o perpétuo. Em seu conjunto, os três livros são representativos de diferentes linhas de pesquisa desenvolvidas pelo autor, pelas quais analisa os fundamentos estéticos próprios da fotografia.

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