“O sono do homem do garimpo é repleto de explosões, de baques metálicos de ferro contra rocha, do chocalho das peneiras preenchidas de areia e cascalho. Sonha mais com o árduo trabalho que precede a pedra que com a pedra dos sonhos, o garimpeiro em seu catre. Com a pedra da riqueza, sonha muito mais acordado — o corpo em seu descanso e a mente em seu torpor são mais afeitos à realidade que o garimpeiro em pleno entendimento, durante a vigília”.
É no sertão garimpeiro que se desnovelam as tramas deste novo e belo romance de Estevão Azevedo. As diversas personagens de Tempo de espalhar pedras entrecruzam-se,, inseridas no cenário de um vilarejo que – metáfora nacional –, paulatinamente, é destruído por homens desesperadamente cobiçosos. Pois nas muitas serras ao redor daquela paisagem, quando já não há solo que não tenha sido maculado por explosões e picaretas, os homens têm a fatal percepção: as únicas superfícies ainda intocadas e que podem esconder pedras preciosas são aquelas em que suas próprias casas estão erguidas. Sob vielas e praças, sob salas, quartos, cozinhas e quintais, escondem-se suas últimas esperanças de sobrevivência ou fortuna.