“O momento supremo da crise se consumava numa flutuação agradável e dolorosa, que não era deste mundo. Ao menor ruído de passos, o quarto rapidamente voltava ao seu aspecto inicial. Ocorria então entre as suas paredes uma redução instantânea, uma diminuição extremamente pequena de sua exaltação, quase imperceptível; isso me convencia de que uma finíssima crosta separava a certeza em que eu vivia do mundo das incertezas” – Max Blecher.
Acontecimentos na irrealidade imediata, do romeno Max Blecher, é uma ficção autobiográfica experimental. Narrado na primeira pessoa, o romance perpassa uma história de amadurecimento, do agravamento das “crises de irrealidade” juvenis, exacerbados pela subjetividade de um narrador hipersensível e que sofre de uma grave enfermidade. O protagonista é um alter ego de Blecher, que morreu em 1938, antes de completar 29 anos, após ter passado dez anos internado, em sanatórios e em sua casa, para o tratamento do mal de Plott, uma doença degenerativa, espécie de tuberculose que afeta a coluna vertebral.
O livro é profundo, denso, inquieto, agudo, assombroso. Continue lendo