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Guia de Leitura

Da atualidade da Antiguidade romana

15 janeiro, 2016 | Por Isabela Gaglianone
Afresco em Pompéia

Afresco em Pompéia

Somos ainda herdeiros diretos de muitas tradições e lógicas, sociais, urbanas e intelectuais, dos romanos antigos.

Na casa de um poeta trágico na cidade de Pompéia lê-se em um mosaico, à entrada, “Cave canem”, ou seja, cuidado com o cão; os livros eram comercializados por livreiros, que incentivavam a publicação dos autores que julgavam promissores, mas que mantinham o lucro das vendas; uma decepção amorosa, conta Marcial, era curada com uma embriaguez; em outro de seus epigramas, o poeta diz: “Se o pergaminho for teu companheiro, pensa / em tomar longas vias com teu Cícero”, querendo dizer que o livro poderia ser companheiro inseparável, independente de quão longa fosse a jornada e, uma vez que o nome de Cícero se dizia “Cicerone”, aí pode encontrar-se a origem do termo cicerone.

De detalhes mínimos como estes costumes prosaicos, às concepções maiores de manipulação política pelo discurso retórico, por exemplo, ou da importância do estudo da história para a educação, há muito no que possamos nos reconhecer olhando a vida na Roma antiga.

 

Paul Veyne, "Pão e circo"

Paul Veyne, “Pão e circo”

Esta obra monumental do historiador e arqueólogo Paul Veyne, especialista na Antiguidade greco-romana, reúne uma investigação minuciosa sobre as origens da prática tão comum, a aristocratas e imperadores, do Pão e circo. Até hoje utilizamos a expressão, porém, segundo esta análise interessante e profunda, deturpamos seu sentido de maneira enviesada e historicamente incorreta. Qual o motivo que levava a elite romana a organizar jogos e distribuía trigo para a plebe? Seria uma prática diversionista, ou um clientelismo, quiçá por visar a despolitização, ou somente por populismo? O poeta e pensador romano Juvenal entendia o “Panem et circenses” como a derrocada da república, pois que a massa trocava seus votos por diversão e alimento. Mas Veyne descontrói essa interpretação, desenvolvendo uma complexa chave de leitura para a compreensão dos acontecimentos históricos, sociais e políticos da época. Segundo ele, antes de ser uma deliberada estratégia de manipulação das massas ou manipulação da plebe, a política do pão e circo remetia sua origem a práticas herdadas das cidades-Estado gregas, de comprometimento com a vida social por parte dos nobres: práticas que tanto embutiam um sentido de dever, como também eram usadas como demonstração de superioridade. Apropriadas de modo específico pela elite romana, em conformidade às características de sua sociedade, essas liberalidades oferecidas ao povo marcam um fenômeno mais amplo em que aristocratas realçavam sua posição social por meio de doações ostentatórias para a coletividade. Contextualizadas historicamente, são assim caracterizadas por Veyne como “evergetismo”.  Continue lendo

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