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Faixa de Gaza: O verdadeiro alvo, por Vladimir Safatle

27 janeiro, 2009 | Por admin

O periódio online Trópico publicou no último dia 24 um artigo do professor de filosofia da USP, Vladimir Safatle, entitulado “O verdadeiro alvo: afinal de contas, quem exatamente o governo de Israel quer atacar, quando avança sobre a Faixa de Gaza?”.

Safatle argumenta que o maior problema desse assunto não é sua urgência, e sim seu bloqueio, “encontramos todos os dias artigos e mais artigos sobre o problema. Mas a grande maioria está bloqueada pela profusão infindável de preconceitos toscos, assim como amálgamas intelectualmente desonestos e apressados, produzidos por ambos os lados.” Basta ter acompanhado a profusão propagandista-ideológica no Twitter nos dias da invasão terrestre israelense.

O artigo continua indagando-se se “o argumento do direito de auto-defesa é consistente?”, e logo o refuta com “este direito não pode ser aplicado quando se trata de ações referentes à gestão de um território ocupado ilegalmente.” Fica claro que a arbitrariedade da auto-defesa é um instrumento simples da legitimação da intervenção militar.

À “Gênese do fundamentalismo islâmico popular” cabe a pergunta “como um grupo como o Hamas, com um programa minoritário no início dos anos 90, transformou-se hoje no partido mais popular da Palestina? Uma popularidade que irá aumentar significativamente após este conflito, tal como aconteceu com o Hizbollah.” Safatle argumenta que “cada palestino morto significa a consolidação de um sentimento de humilhação e descrença em relação à negociação política. E o que é expulso do campo simbólico da política retorna sob a forma de violência real. Por sinal, esta foi a equação que sempre alimentou o Hamas e que continuará a alimentá-lo. Pois não se destrói um grupo armado aumentando seu apoio popular.”

Safatle condena as palavras do filósofo alemão Robert Kurz, de que a “‘esquerda pós-moderna(?)’ estaria disposta a identificar-se com a administração autoritária da crise mundial (do capitalismo), aceitando como inevitável a guerra islâmica contra os judeus, como se ela fosse um mero flanqueamento ideológico”. Em primeira pessoa, ele responde: “não há compromisso possível entre a esquerda e um grupo claramente antissemita e reacionário. Ao contrário, ele representa tudo aquilo contra o qual lutamos, já que foi a esquerda que elevou o antissemitismo a um dos crimes mais inaceitáveis.”

A partir deste momento, o artigo entra no mérito de seu título: “A direita israelense é o grande sócio do Hamas porque, graças a este, ela consegue atingir seu verdadeiro alvo: os judeus esquerdistas, anticomunitaristas e pacifistas de Israel e do mundo, que sempre criticaram duramente e com os melhores argumentos a situação nos territórios ocupados.”

E, após a argumentação sobre o panorama político interno israelense, conclui, com uma certa beleza, a favor da criação do estado binacional como única solução positiva: “neste caso, devemos dizer claramente: nenhum povo tem direito a ter um Estado, pois o ímpeto fundamental do Estado moderno é a dissociação radical entre Estado, nação e povo (…) Cabe a dois povos igualmente vítimas do exílio, do desterro, da perseguição e da humilhação a tarefa de ser fiel a essa experiência histórica comum e transformá-la na mola mestra de um novo momento de criatividade política. Com a inteligência que transforma sofrimento em criação, diremos: o exílio é nossa verdadeira força.”

fonte: Revista Trópico

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