Acaba de ser lançado no Brasil o livro A luta de classes: uma história política e filosófica, do marxista italiano Domenico Losurdo. Com tradução de Silvia de Bernardinis, o volume chega às livrarias editado pela Boitempo.
O filósofo analisa o conceito e a prática da luta de classes, frente à sua atualidade diante da atual crise econômica que se alastra: “é certo que a luta de classe tenha de fato desaparecido?”, provoca.
Para Losurdo, a luta de classes não é apenas o embate entre classes proprietárias e trabalho dependente. É também a “exploração de uma nação por outra”, como denunciava Marx, é a opressão “do sexo masculino sobre o feminino”, como escrevia Engels. O texto realiza, assim, uma original leitura da teoria de Marx e Engels da história mundial que tem início com o Manifesto Comunista. Losurdo mostra que diante das transformações que marcaram a passagem do século XX para o XXI, a teoria da luta de classes revela-se uma fundamental chave de compreensão.
Segundo o político e ativista social José Luiz Del Roio, no texto de orelha, Losurdo demonstra “a complexidade das situações que se apresentaram diante dos fenômenos revolucionários”. Segundo Roio, ele “concentra boa parte de seu esforço em aprofundar a análise dos acertos, dos erros, das utopias e da dura realidade que enfrentaram e ainda enfrentam as sociedades que puderam trilhar os caminhos da construção do socialismo. Grande é o mérito do pensador italiano ao colocar nesse labirinto de contradições a questão de gênero e da luta das mulheres para superar a alienação e a exploração específica a que foram e são submetidas. Sua análise, rigorosamente científica, não esconde, entretanto, o militante revolucionário, pleno de confiança em um destino melhor para os povos e oprimidos do planeta”.
Domenico Losurdo detém sua análise na expressão intrigante usada por Marx e Engels, “lutas de classes”; para o italiano, esse plural é muito significativo e repleto de consequências, nem sempre percebidas ao longo da história da luta política. Ele defende que, diante das diferentes formas de luta de classes, urge a mudança da divisão do trabalho e das relações de exploração e opressão que existem tanto no espectro global, entre Estados, como no interior de um país e até mesmo na instituição familiar.
Em entrevista concedida à revista Carta Capital, Losurdo fala, sobre a relevância da luta de classes para a interpretação e transformação da realidade contemporânea: “Na época atual, não existem mais as colônias no sentido clássico, pois é evidente que a luta anticolonial chegou ao fim em nível planetário. Esse avanço é, sem dúvida, o resultado de um processo iniciado com a Revolução de Outubro, quando Lenin conclamou ‘os escravos das colônias a quebrarem o jugo da dominação colonial’. O mundo era propriedade de poucas grandes potências colonialistas, da Ásia à América Latina. Hoje o quadro é outro, mas ela continua como luta anticolonialista: não é mais pela independência nacional, mas assume a forma de disputa econômica. Uma citação de Mao Tsé-tung torna-se útil outra vez. Na véspera da proclamação da República Popular da China, em 1949, ele avisou: ‘Se, depois da conquista do poder, não tivermos em conta que os Estados Unidos querem que a China continue dependendo do trigo americano, a China continuará sendo substancialmente uma colônia no plano econômico. Nesse caso, a independência política será meramente formal’. Mao entendeu claramente que o processo de libertação do colonialismo passou da fase político-militar para a político-econômica”.
Losurdo ficou conhecido no Brasil com A linguagem do império: léxico da ideologia estadunidense [Boitempo, 2010].
O filósofo esteve no Brasil ao longo do mês de junho para um ciclo de conferências e debates de lançamento de A luta de classes, discutindo a história e atualidade da luta de classes no Brasil e no mundo. Passou por São Paulo, Santo André, São Luís do Maranhão, Rio de Janeiro e Niterói.
A LUTA DE CLASSES: UMA HISTÓRIA POLÍTICA E FILOSÓFICA
Autor: Domenico Losurdo
Editora: Boitempo
Preço: R$ 46,90 (400 págs.)