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A batalha do homem contra o mar

18 outubro, 2013 | Por Isabela Gaglianone
O polvo, aquarela de Victor Hugo, 1866

“O polvo”, aquarela de Victor Hugo, 1866

Escrito e ilustrado por Victor Hugo, Os trabalhadores do mar é novamente publicado no Brasil, agora na edição cuidadosa da Cosacnaify. A editora manteve a primeira tradução de Machado de Assis, publicada na primeira edição brasileira, e incluiu capítulos que não haviam sido publicados, cuja tradução é assinada pela poeta Marília Garcia. Publicado originalmente na França em 1866, o livro é dedicado à ilha de Guernesey, na qual Victor Hugo viveu quinze anos, em um exílio auto infligido. A dedicatória do livro diz: “Dedico este livro ao rochedo de hospitalidade e de liberdade, a este canto da velha Normandia onde vive o nobre e pequeno povo do mar, à ilha de Guernesey, severa e branda, meu atual asilo, meu provável túmulo”. A pequena ilha é cenário para a magnífica história, que transforma eventos aparentemente mundanos em profundos dramas humanos, além de desenvolver – ainda que menos do que em outros romances de Victor Hugo, como Os miseráveis ou L’Homme qui rit – questões de cunho social, histórico e político. Os trabalhadores do mar se passa em um momento imediatamente posterior às guerras napoleônicas e, entre seus principais temas, encontra-se também o impacto da primeira revolução industrial na população da ilha.

A edição original foi acompanhada por um prólogo, à guisa de apresentação, escrito pelo editor: “A religião, a sociedade, a natureza: tais são as três lutas do homem. Estas três lutas são ao mesmo tempo as suas três necessidades; precisa crer, daí o tempo; precisa criar, daí a cidade; precisa viver, daí a charrua e o navio. Mas há três guerras nestas três soluções. Sai de todas a misteriosa dificuldade da vida. O homem tem de lutar com o obstáculo sob a forma superstição, sob a forma preconceito e sob a forma elemento. Tríplice ananke pesa sobre nós, o ananke dos dogmas, o ananke das leis, o ananke das coisas. Na Notre-Dame de Paris, o autor denunciou o primeiro; nos Miseráveis, mostrou o segundo; neste livro indica o terceiro. A estas três fatalidades que envolvem o homem, junta-se a fatalidade interior, o ananke supremo, o coração humano.” [ananke, vocábulo grego que significa fatalidade].

O protagonista desse monumental romance sobre a batalha do homem contra o mar e suas criaturas é um habitante de Guernesey, personagem que, comum na poética de Victor Hugo, é um marginal social. A moça por quem enamora-se, perdera o tio em um naufrágio, ocorrido em um lugar particularmente perigoso, não muito distante da ilha, em direção à costa francesa; ela promete casar-se com o homem capaz de recuperar o motor a vapor da embarcação motor do navio, grande invenção da época – desdobramento primeiro da miséria humana na era industrial capitalista. Romântico e heroico, o protagonista se oferece, e o romance passa a narrar as suas aventuras e desventuras, entre as quais, a famosa luta com um imenso polvo gigante, dentro de uma caverna em um rochedo. A dimensão humana trágica do herói faz do livro uma interessante reflexão sobre crenças, esperanças, sobre a vida e a morte. Sobre a força do mar.

“Essas casas mortas não são raras nas ilhas da Mancha. As populações campesinas e marítimas não vivem tranquilas a respeito do diabo. As da Mancha, arquipélago inglês e litoral francês, têm a respeito dele noções muito precisas. O diabo possui delegados por todo o mundo”.

 

 

 

OS TRABALHADORES DO MAR
Autor: Victor Hugo
Editora: Cosacnaify
(704 págs.)

 

 

 

 

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