O livro O albatroz e o chinês reúne cinco ensaios inéditos de Antonio Cândido. São escritos dispersos, divididos em três partes: as duas primeiras, compostas por ensaios mais longos, e a terceira, por escritos breves. Esta publicação, da editora Ouro sobre azul, é uma reedição aumentada do heterogêneo conjunto de textos, lançado originalmente em 2004.
O ensaio que dá título ao livro aborda a oposição entre poemas que representam a natureza e poemas mais intimistas, que a recriam a partir de um ponto de vista subjetivo. O ensaio analisa, a partir daí, tensões da criação, tecendo sua argumentação sobre a interpretação de um poema de Mallarmé. Os ensaios seguintes apresentam aspectos da obra de François Villon, o problema da impregnação entre textos e a interessante possível influência de uma excursão de Ernst Jünger ao Brasil, em 1936, sobre certos pormenores da sua obra máxima, Os penhascos de mármore. A segunda parte dedica-se à literatura portuguesa e, a última parte, a textos variados, dentre os quais dois artigos sobre Pio Lourenço Corrêa – fazendeiro erudito, grande conhecedor da língua, manteve relações de amizade com Mário de Andrade, que inclusive escreveu Macunaíma em sua chácara, em Araraquara –, um texto sobre uma coletânea de artigos críticos de Lúcia Miguel Pereira escritos entre 1931 e 1943, uma análise de Maíra, de Darcy Ribeiro, entre outros. Encerra o volume a apresentação do famoso conto Malagueta, perus e bacanaço, de João Antonio, obra-prima do que, em outro escrito, Antonio Candido definiu como um “realismo feroz”. O crítico literário e professor Alcides Villaça, em resenha ao jornal Estado de São Paulo, diz: “A escritura do crítico é, como sempre, primorosa e imediatamente legível. Os procedimentos artísticos de cada escritor estudado ganham iluminação, referidos ao quadro histórico que ajudam a iluminar; o gosto, elemento tão decisivo na produção e na recepção da arte, tantas vezes escamoteado, sai da sombra da hipocrisia e se expõe na alimentação do limite crítico, em que se inicia o debate da significação. […] acompanha o voo do albatroz, o olhar de cima ou para cima, o planar condoreiro, a aspiração de absoluto, em seus intentos de representação do mundo (nos quais transparecem expectativas históricas) e em seus esforços de invenção de um universo criativo autônomo”. Segundo Villaça, “as ponderações e tonalidades do livro revelam uma provisão cultural e um gosto literário que fazem contraste com as fragilidades da crítica novidadeira”. O livro é composto por textos escritos quase todos na década de 1990, na qual Antonio Candido encerrou as últimas atividades universitárias e publicou alguns livros – Recortes e O discurso e a cidade, ambos em 1993, Lembrando Florestan Fernandes em 1996 e Iniciação à literatura brasileira em 1997. Motivo da irônica epígrafe, o verso de Drummond:
“Que confusão de coisas ao crepúsculo!”
Autor: Antonio Candido
Editora: Ouro sobre Azul
Preço: R$ 30,70 (216 págs.)