Literatura

Poética mítico barroca

22 setembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

O poema-romance de Lezama Lima, Paradiso, é considerado uma das maiores referências literárias da América Latina. O autor cubano, poeta e ensaísta, é o mais expressivo escritor da corrente literária conhecida como neobarroco. Seu estilo, culto, é sustentado por metáforas e alegorias. Sua experimentação poética é marcada pelo excessivo, exagerado, rebuscado.

Paradiso, publicado originalmente em 1966, é a obra prima absoluta de Lezama Lima, exemplar da mais dinâmica vanguarda mundial. Livro neobarroco, narra com riqueza de detalhes a infância e a adolescência de José Cemi, espécie de alter ego do próprio autor, um intelectual cubano da década de trinta para quem a criação poética é a única via de salvação para o homem que, desterrado do paraíso da infância, encontra-se perdido no mundo à espera da ressurreição.

O próprio autor, sobre a obra, disse: “Meu romance tem um afã de totalidade; focaliza problemas essenciais da relação do homem e do cosmo. Meu romance é ou está dentro de um barroco fervoroso que assimila todos os elementos do mundo exterior: procura destruir uns, assimilar outros e, com esse fervor, consegue sua expressão um pouco mais barroca que gótica”

Segundo Ana Maria Albernaz, doutora em Ciência da literatura pela UFRJ, em artigo publicado na revista de literatura Itinerários: “A poesia germina em duplo domínio. Por um lado, prospera como poética da fala, por outro como poética do silêncio, em ambas manifesta sua descendência mítica, que é mito e mistério. Diretamente tributária do primeiro constitui-se como realização de um ordenamento cosmogônico, percurso de fundação de um mundo; herdeira do segundo, é envio catabático, trajeto de desprendimento de um mundo estabelecido”. Como analisa Albernaz, a obra de Lezama Lima “entranha e dramatiza esta contraditória filiação, mas não pretende sua resolução, ao contrário, manifesta toda a extensão daquilo que Lezama denomina a “dobra demoníaca”. Para a crítica, em Paradiso encontra-se “a poética que acompanha o conflito, e o apaziguamento que se opera nesta extensão. A imagem não é saneadora, mas instaura a utópica harmonia dos contrários e, sem buscar a fusão, encontra a impossível compatibilidade”. Segundo ela, assim, como um todo, “a obra de Lezama Lima constitui-se como catábase e cosmogonia. Insatisfeita com sua forma poema, busca a completude através dos ensaios e, ainda, da prosa poética. Nestas diferenças a própria linguagem é a busca reiterada do sentido simbólico que dela transborda em excedência, mas que só no seu interior pode ser encontrado”.

No Brasil, a publicação de Paradiso foi envolta em polêmica controvérsia editorial. Os direitos da obra foram vendidos a duas editoras, tanto à Martins Fontes como à Estação Liberdade. O resultado, para o leitor, é a possibilidade de conferir duas traduções: a da Martins Fontes, feita por Olga Savary, e a da Estação Liberdade, realizada por Josely Vianna Baptista.

Na descrição do livro, a Martins Fontes escreve: “De leitura densa, experimental e poética, Paradiso mistura diversas referências de todas as épocas, cores, sabores e lugares para apresentar ao leitor o rico universo de um homem só, que também pode ser de todos os homens”. E a Estação Liberdade aponta que o livro: “Percorre a Grécia antiga, a América criolla, a Europa de Dante, Góngora, Goethe e Voltaire. O cubano Lezama Lima exerce um sublime e ao mesmo tempo dolorido mergulho no universo das leituras de formação, da amizade e da lealdade cúmplices, da sexualidade em suas exuberâncias mais fantasiosas. Um romance em que a realidade mágica coteja apoteoticamente uma imaginação em desvario”.

 

 

PARADISO

Autor: José Lezama Lima
Editora: Martins Fontes
Preço: R$ 84,90 (624 págs.)

Tradução de Olga Savary

 

 

 

PARADISO

Autor: José Lezama Lima
Editora: Estação Liberdade
Preço: R$ 74,00 (616 págs.)

Tradução de Josely Vianna Baptista

 

 

 

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