Banana Brava, de José Mauro de Vasconcelos, foi publicado em 1942. Foi o romance de estréia do escritor que viria a se tornar célebre por romances como Meu pé de laranja lima ou Rosinha, minha canoa. Uma obra que reflete um mundo ganancioso e impiedoso, a terra da “banana brava”, aquela que jamais frutifica.
O romance foi escrito baseado na vivência do autor entre índios carajás e garimpeiros. Pois José Mauro acompanhou os irmãos Villas-Boas na exploração da região do Araguaia, uma experiência extremamente marcante em sua produção literária. Banana Brava é o primeiro de seus textos a apresentar essa influência.
Na apresentação do livro, ele adverte que a linguagem de seus personagens é rústica e brutal, pois é a própria representação daquela “vida que pretende copiar” sem suavizar, uma vida esfacelada, minada pelo trabalho do garimpo no sertão goiano.
Um dos dois protagonistas, Gregorão, é um homem dotado de muita força e pouco juízo, capaz de usar a picareta com apenas uma das mãos não obedece a ninguém, exceto a Joel. Este, o outro protagonista da trama, é um rapaz franzino e sagaz, vindo, em busca de fortuna, de uma família dona de boas condições financeiras.
Formando uma dupla, eles percorrem as regiões de garimpo, atrás de uma riqueza que nunca encontram, uma procura que esconde a simples tentativa de esconder-se da vida. O romance é social e histórico mas também profundamente humano.
O crítico Alfredo Bosi, em História concisa da literatura brasileira [Cultrix, 2006], ao analisar o romance regionalista, aponta duas vertentes: o escritor poderia optar por uma representação mimética, muitas vezes ingênua, de reconstrução de uma realidade, ou então poderia reconstruir formalmente um mundo fictício refratário, que resguardaria os elementos reais. Enquanto Guimarães Rosa escolheu a segunda opção, José Mauro, em sua ficção regionalista, optou pela primeira. Conforme a análise do verbete dedicado ao autor presente na Enciclopédia Itaú Cultural de Literatura Brasileira, “o descompasso entre o discurso culto do narrador e a fala truncada dos personagens denota uma concepção quase neofolclórica do regionalismo, muito semelhante ao pitoresco dos prosadores românticos. No entanto, em um caminho inverso ao de um José de Alencar (1829-1977) ou ao de Bernardo Guimarães (1825-1884), Vasconcelos não se compraz com idealizações: seus personagens transitam em um ambiente violento, são castigados pela fome, vítimas de um sistema excludente”.
Dentre as críticas que Banana Brava recebeu, uma das mais significativas foi a do antropólogo e folclorista Luis da Câmara Cascudo:
“Esse livro, desocupado leitor, como dizia Cervantes, retrata, sem requintes, séries de homens e mulheres. Poder-se-ia avisar: qualquer semelhança com entidades vivas é mera coincidência. Mas não se diz. Não são coincidências. São elas mesmas, as entidades, as figuras, as fisionomias encontradas e trazidas para aqui. Apenas os nomes foram mudados num rebatismo convencional e lógico.
“Todos os valores estão nesse volume. Valores puros, informes, uns, sujos de terra outros. Mas são valores autênticos, apurados numa breve mas heróica existência de bandeirante sem chefe e de caminhador sem destino cinematográfico. A única e natural maneira de aperfeiçoá-los é confiar no Vasconcelos. Deixem-no viver. Uma grande contribuição do Brasil mental será o seu nome, agora anônimo vencedor das estradas e sertões goianos. Não veremos um romancista por indução mas por experiência. Pelo sentido divulgativo de heróico, a expressão moderna da Epopéia, que, como agudamente notava o sr. Renato Almeida, só pode ser fixada pelo Romance.
“Voltando do Oeste, Vasconcelos trazia apenas suas notas num livrinho de vinte centavos, o esquema de um bailado, os personagens pintados, com remédios por não ter tinta, e, no pulso, a marca branca e circular dos Carajás, o sinal dos Homens, honra de sua filiação à tribo que o hospedou.
“Dos seus meses na Terra dos Homens sem Piedade, nas Terras Ensangüentadas, nos Garimpos onde viceja e jamais frutifica a Banana Brava, veio esse romance, rude, claro, luminoso de verdade natural, de grandeza humana e fabulosa. É a voz que conta a viagem estranha ao Mundo onde ainda vivem os Cavaleiros da Távola Redonda, com um programa sinistro de guerra, morte, abnegação e silêncio. Mundo limitado pelos grandes rios, pelas barreiras altas, pela floresta misteriosa, povoada de sonoridades apavorantes, inexplicadas e envolventes.
“Esse livro, sem intenção e convenção, ficou sempre novo. Real e absolutamente novo em sua serenidade melancólica de tragédia humana”.
Autor: José Mauro de Vasconcelos
Editora: Melhoramentos
Preço mínimo: R$ 2,50 (176 págs.)
[disponível apenas em sebos]