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Intelectual radical

19 junho, 2015 | Por Isabela Gaglianone
Susan Sontag

Susan Sontag

A vontade radical é segunda coletânea de ensaios de Susan Sontag e foi concebida como continuidade às investigações empreendidas em seu livro anterior, Contra a interpretação [L&PM, 1987, esgotado].

Trata-se da reunião de textos escritos entre 1966 e 1969 que tratam de cinema, literatura, política e, caso do mais célebre deles, pornografia.

Felizmente de volta às livrarias, reeditado pela Companhia das Letras, desta vez em edição de bolso. A tradução é de João Roberto Martins Filho

Nos textos, Sontag analisa a obra dos cineastas Ingmar Bergman e Jean-Luc Godard, do dramaturgo Samuel Beckett, comenta os escritores Rainer Maria Rilke e William Burroughs. Compõem ainda o volume suas reflexões agudas sobre o pensamento do filósofo romeno Emil Cioran, bem como o clássico libelo contra a guerra do Vietnã, escrito por ocasião da sua visita a Hanói. 

O livro foi publicado por Susan Sontag originalmente em 1987. A edição é traduzida por João Roberto Martins Filho

Os pesquisadores Karl Schurster e Diego Fabião Gomes Leitão, no artigo “Susan Sontag leitora de Walter Benjamin”, publicado na revista Tempo Presente, mostram como a autora tomou algumas das chaves de compreensão do real benjaminiano para compreender seu próprio tempo presente. Segundo eles, tanto Benjamin quanto Sontag “tinham uma maneira analítica de interpretar o passado. Para Susan o trabalho da memória faz o tempo desmoronar e para Benjamin a história é o que renasce deste desmoronamento para mostrar um passado não tal qual foi, mas que poderia ter sido. O passado como um sonho de possibilidades. A filósofa e ensaísta americana nos remete à ideia de que ‘a memória, encenação do passado, transforma o fluxo dos eventos em quadros. Benjamin não pretende recuperar seu passado, mas compreendê-lo: condensá-lo em suas formas espaciais, suas estruturas premonitórias’. Ela afirmava que na obra de Benjamin as ideias e as experiências só podiam ser vistas como ruínas. ‘Compreender alguma coisa é compreender sua topografia, saber como mapeá-la. E saber como se perder’. Assim era a visão de interpretação de Susan e foi desta forma que construiu a maioria de seus textos” – ambas citações encontram-se em Sob o signo de Saturno [L&PM, 1986, também esgotado].

A autora, nascida em Nova York, graduou-se em Harvard. Aos dezessete anos, escrevia em seu diário: “Não vou lecionar nem fazer o mestrado depois da graduação… Não pretendo deixar que o meu intelecto me domine, e a última coisa que quero é cultuar o conhecimento ou as pessoas que têm conhecimento!”.

Conhecida como militante, tanto de esquerda como também do movimento feminista, Sontag teve, com a publicação de “Viagem a Hanói”, em 1969, um marco em sua crítica, voltada então com veemência contra a agressão estadunidense do Vietnã. No texto, que é parte de A vontade radical, ela diz: “Não sou nem jornalista nem ativista política, […] tampouco especialista em Ásia, mas acima de tudo uma autora teimosamente não especializada que, até aqui, tem sido em grande parte incapaz de incorporar em seus romances ou ensaios suas concepções políticas radicais e seu senso de dilema moral, por ser uma cidadã do império americano”. O ensaio é pautado por influência das obras de G. Lukács e Hegel, partindo da ideia de que o problema da história é um problema da consciência. Escrito como um diário, o texto tece, dia a dia, uma análise de como uma sociedade se comporta mediante contínuas, sucessivas guerras por liberdade. A temática da guerra aparecia então pela primeira vez em seus escritos e jamais abandonaria sua literatura e crítica.

 

sontag

 

A VONTADE RADICAL

Autor: Susan Sontag
Editora: Companhia das Letras
Preço: R$ 17,43 (296 págs.)

 

 

 

 

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