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Prólogos

18 junho, 2015 | Por Isabela Gaglianone

jorge luis borges

“Creio desnecessário esclarecer que Prólogo de Prólogos não é uma locução hebraica superlativa, à maneira do Cântico dos Cânticos (assim escreve Luis de León), Noite das Noites ou Rei dos Reis. Trata-se, simplesmente, de uma página para anteceder os dispersos prólogos selecionados por Torres Agüero Editor, cujas datas oscilam entre 1923 e 1974. Uma espécie de prólogo, digamos, elevado à segunda potência”.

Essa é a apresentação de Borges para o seu Prólogos com um prólogo de prólogos. Traduzido por Josely Vianna Baptista, o livro integra as edições da Companhia das Letras da obra completa do escritor argentino. Sua publicação ocorreu originalmente em 1975.

São exercícios críticos, publicados esparsamente por Borges desde a década de 1930 na imprensa argentina. Os textos revelam muito do pensamento do escritor, sua impressionante erudição, bem como sua curiosa variedade de leituras – que ia dos poetas gauchescos argentinos a E. A. Poe, de Cervantes a Lewis Carroll, de Gibbon a Kafka.

O prólogo foi por Borges definido como uma “espécie lateral da crítica”. Trata-se, porém, sob sua pena, de uma maneira especial de adentrar uma obra, maneira fluída de encontrar relações entre um livro e sua cultura, um autor e seus pares. São pequenos ensaios que inauguram questões profundamente interessantes dos livros que apresentam e sobre os quais refletem, mas também são textos que revelam um crítico literário marcado por uma linguagem lapidar e bom humor convidativo.

“O prólogo, quando os astros são favoráveis, não é uma forma subalterna do brinde; é uma espécie lateral de crítica. Não sei que julgamento favorável ou adverso merecerão os meus, que abarcam tantas opiniões e tantos anos.”

Segundo o crítico Adam Elbanowski, os prólogos não são “meramente introduções ao texto, próprio ou alheio; são obras sui generis, uma corrente paralela na criação de Borges, que compreende centenas de textos, desde breves notas preliminares até prefácios extensos”. Para Elbanowski, “Borges não somente é autor de prólogos, é deles seu teórico”.

São prólogos a múltiplas obras em múltiplas línguas originais, a obra clássicas e contemporâneas, a obras poéticas e em prosa, a traduções próprias, a edições críticas, a textos soltos, a seleções, a antologias, a obras completas.

Para Begonya Saez Tajafuerce, pesquisadora do departamento de filosofia da Universitat Autònoma de Barcelona, em artigo, o “prólogo de prólogos põe a manifesto, pois, a est-ética do prólogo”. É, segundo Tajafuerce , um exercício poético ao mesmo tempo que crítico, no qual “o prólogo se configura como uma entidade clara e quiçá inclusive literária e normativa, prática e teórica”. Assim, para ela, o Prólogo de prólogos “se constitui como um paradigma de criação, de teoria e de crítica literárias”.

A Companhia das Letras disponibiliza trecho para visualização.

 

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Trecho:

 

Franz Kafka

A metamorfose

“Kafka nasceu no bairro judeu da cidade de Praga, em 1883. Era enfermiço e arredio: intimamente seu pai nunca deixou de menosprezá-lo e até 1922 o tiranizou. (Desse conflito, e de suas persistentes meditações sobre as misteriosas misericórdias e as ilimitadas exigências do pátrio poder, ele mesmo declarou que procede toda sua obra). De sua juventude sabemos duas coisas: um amor contrariado e o gosto por romances de viagens. Ao sair da universidade, trabalhou algum tempo em uma companhia de seguros. Dessa tarefa libertou-o, infaustamente, a tuberculose: a intervalos, Kafka passou a segunda metade de sua vida em sanatórios do Tirol, dos Cárpatos e dos Erzgebirge. Em 1913 publicou seu primeiro livro, Consideração, em 1915 o famoso relato A metamorfose, em 1919 os catorze contos fantásticos ou catorze lacônicos pesadelos que compõem Um médico rural.”

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borges

 

 

PRÓLOGOS COM UM PRÓLOGO DE PRÓLOGOS

Autor: Jorge Luis Borges
Editora: Companhia das Letras
Preço: R$ 29,40 (240 págs.)

 

 

 

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