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A arte pela arte

11 dezembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

“Toda arte aspira constantemente à condição de música”.

Leonardo da Vinci

Para Walter Pater (1839-94), a Renascença foi um movimento motivado pelo “amor pelas coisas do intelecto e da imaginação por elas mesmas”. Seu estudo, O Renascimento, mostra que durante o período em questão buscou-se meios de “fruição intelectual ou imaginativa”, nas fontes antigas, os textos clássicos e medievais.

Pater foi professor de Oxford, especialista em arte e história do Renascimento, e notório sobretudo por seu estilo refinado. Seus ensaios visam, sobretudo, compreender os efeitos caudados pela recepção da pintura, da escultura e das obras literárias renascentistas. Seu esforço ensaístico principal parece ser olhar os objetos como se vistos pela primeira vez: para tanto, ele usa suas próprias impressões pessoais, para que, a partir delas, possa encontrar a gênese das sensações e emoções estéticas, que procura traduzir. O resultado é uma linguagem que, para falar da criação artística, acaba tornando-se uma por si só. Pater toma seu objeto de análise não como matéria inerte, mas preservando sua autonomia, enquanto ideia, antes do que realidade efetiva.

Pater, leitor de filósofos, admirador profundo de Platão, não desenvolveu sistemas, porém produziu uma obra que atingiu com força o pensamento e sensibilidade de seu tempo, unindo estes dois termos, a princípio díspares, numa mesma intenção intelectual. Sua análise sobre o Renascimento é a o meio pelo qual amalgama as lições de sentir com pensamento, ou de pensar com sentimento. Pergunta-se ele: “Tal melodia ou tal quadro, tal personalidade cativante que aparece na vida real ou num livro, o que eles são para mim? Proporcionam-me prazer? Como minha natureza é modificada pela presença ou natureza deles?”.

A elegância do decorrer de suas interpretações revela um autor dedicado à fruição de sensações estéticas refinadas. Sua escrita é permeada pelo pré-rafaelismo tardio, também conhecido como decadentismo ou esteticismo, marcado pela valorização do olhar pessoal do sujeito e pela preservação da liberdade do objeto.

Historicamente, Pater contribuiu, de modo decisivo, para definir o Renascimento como nós o entendemos hoje, incorporando os artistas do século XIV, que eram antes percebidos como “primitivos”. Ao longo do livro, o autor aborda o quattrocento e dedica um ensaio ao historiador alemão Johann Winckelmann (1717-1768), que no século XVIII alçou à condição de relevância filosófica estética a cultura clássica. Outro autor que analisa é o renascentista Giovanni Pico Della Mirandola, segundo ele, um “cavaleiro errante da filosofia”.

Sobre Michelangelo, por exemplo, Pater interpreta como a principal característica artística a delicadeza aliada à força, que causam prazer e assombro. A energia da concepção de suas obras parece a todo instante querer romper com as qualidades da forma graciosa, mas recobre logo seu encanto.

Sobre a “Mona Lisa”, de Leonardo da Vinci, o autor diz que simboliza a concepção de modernidade, que é o próprio “espírito moderno com todos os seus traços patogênicos”. Há, para ele, na pintura, uma “beleza extraída desde o interior, trabalhando a carne célula por célula”. Com suas interpretações líricas, Pater diz que a moça ali representada, bem seu evanescente sorriso, “é mais eterna do que as rochas entre as quais está sentada”.

Walter Pater reivindicou “a arte pela arte” e o hedonismo, resgatado da antiga Grécia. “O prazer deveria ser nosso único objetivo na vida”, extraiu Wilde de seus ensinamentos.

O livro acaba de ser publicado pela editora Iluminuras, conta com ensaio de Mario Praz e apresentação e organização feitas por Paulo Butti de Lima. A revisão técnica e notas da bem cuidada edição foram feitas por Márcio Suzuki e Paulo Butti de Lima. A tradução foi realizada por Jorge Henrique Bastos.

A primeira publicação da obra ocorreu em 1873.

 

 

O RENASCIMENTO

Autor: Walter Pater
Editora: Iluminuras
Preço: R$ 35,15 (212 págs.)

 

 

 

 

 

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