O crítico de arte Hal Foster identifica no conceito de “complexo” e na condição de inerência da arte e da arquitetura elementos que definem a cultura contemporânea. Em O complexo arte-arquitetura, lançamento no Brasil pela Cosac Naify, ele aponta que a arquitetura e a arte estão intrinsecamente unidas, desde o final do século passado, até o início deste século XXI. A arte, com suas instalações e obras em larguíssima escala, remete à arquitetura; obras de arquitetos, vendidas como de artistas a colecionadores, lembram que parte fundamental da arte é o chamado projeto.
Foster analisa a recorrência de um “estilo global” na arquitetura, semelhante ao Estilo Internacional dos modernistas, e que é responsável por alterar os parâmetros estéticos e por movimentar forças políticas e econômicas.
Tecendo uma interpretação histórica que parte dos maiores movimentos arquitetônicos da segunda metade do século passado, passando pelos desdobramentos sutis do pós-modernismo, pensando a maneira como o minimalismo passou de movimento artístico a estilo arquitetônico, o caráter escultórico e espetacular dos edifícios e, também, a perda de autonomia do sujeito ao se deparar com obras de arte que trabalham com a ilusão do espaço.
Entre os arquitetos analisados, estão Richard Rogers, Renzo Piano, Norman Foster; entre os artistas, Dan Flavin, Donald Judd, Robert Irwin e, em especial, Richard Serra.
De acordo com Pedro Fiori Arantes, arquiteto e professor de arte e arquitetura contemporâneas na UNIFESP, em artigo publicado na revista Ars, a análise da arquitetura contemporânea mostra que o “fetichismo da forma, análogo à autonomização do poder e da riqueza abstrata no capitalismo contemporâneo, define a nova condição da arquitetura de ponta”. Para o professor, em uma “sociedade dita pós-utópica em que o capital parece não mais encontrar adversários à altura, a ideologia moderna do plano (que pressupunha a coabitação entre capital e trabalho) deu lugar à produção de efeitos espetaculares em edifícios isolados, que seriam capazes, por si só, de ativar economias fragilizadas, atrair turistas e investidores, desencadear processos de valorização imobiliária e redefinir a identidade de sociedades inteiras”. Fenômenos analisado também por Foster, essas obras, de imenso poder simbólico, são a demonstração cabal de que “pode-se chegar a um verdadeiro “espaço delirante”, sem restrições de estrutura, materiais, recursos e mesmo de qualquer uso”; como diz Hal Foster, em outro livro, Design and crime, confome citado no referido artigo por Arantes, “sem os constrangimentos clássicos da arquitetura (resistência dos materiais, estrutura, contexto), sua arquitetura rapidamente se torna algo arbitrário e autoindulgente (porque essas curvas e não outras?) – os fãs de Gehry tendem a confundir essa arbitrariedade com liberdade”.
Trata-se de uma subjetividade estonteante, contraposta a uma sociabilidade sustentada pelo espetáculo. Por um lado, o imagético embasa a noção de quem somos em relação a nós mesmos e aos outros e, por outro, a materialidade e a sua particularidade sensorial de experiência de um aqui e de um agora, conduzem a noção de uma passividade induzida pelo capitalismo globalizado, que é pretexto para nossa atividade. As obras arquitetônicas analisadas oferecem uma experiência econômica cosmopolita que se clama orgânica, mas que muitas vezes é arbitrária e mesmo banal; deslizam entre superfície (fenômeno pós-moderno) e estrutura (elemento moderno).
Hal Foster, desenvolvendo uma crítica calcada na história da arte, mostra que a cultura não é mais independente da economia.
Autor: Hal Foster
Editora: CosacNaify
Preço: R$ 59,90 (288 págs.)